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05/09/2017 / Em: Clipping

 

Alunos já estão preparados para ensino médio flexível, diz diretor (Estadão – Edu – 04/09/2017)

Para presidente de associação de escolas, Mauro Salles Aguiar, desafios da reforma do ensino médio está na organização dos colégios; Estado realiza fórum sobre o tema

 A preparação do aluno para o novo ensino médio, em que o jovem poderá escolher parte de suas aulas, não será dificuldade para as escolas. Segundo o diretor do colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, e presidente da Associação Brasileira de Escolas Particulares, Mauro Salles Aguiar, o principal desafio da transição para o novo ensino médio será lidar com a organização nas escolas nesse novo modelo. “O ensino médio brasileiro é um desastre total. Da forma como está montado, está trazendo resultados muito ruins e precisa mudar”, diz o diretor.

Ensino Médio

Aguiar é um dos convidados do Fórum Estadão – O Novo Ensino Médio, que será realizado nesta terça-feira, 5. O evento terá também a presença de representantes do Ministério da Educação (MEC), do Conselho Nacional de Educação (CNE) e especialistas da área para debater questões referentes às alterações nas escolas de todo o País. As discussões serão realizadas em dois painéis, com espaço para debates e perguntas dos espectadores. O evento terá transmissão ao vivo e faz parte da cobertura especial do Estado sobre o tema, iniciada em junho deste ano. O evento será realizado no auditório do Estado, no bairro do Limão, na zona norte de São Paulo, a partir das 8h30 e com encerramento previsto para as 12 horas. Confira a entrevista com Aguiar:

 

Com o novo ensino médio, o aluno vai ter que sair de uma mentalidade no ensino fundamental com um currículo com disciplinas, e passar a escolher as matérias no ensino médio. Hoje, os alunos brasileiros já estão preparados para assumir esse protagonismo?

Com certeza. A maior dificuldade hoje não está no lado do aluno. A maior dificuldade é do lado da organização das escolas, da formação de professores. É o imenso corporativismo, que não tem nada a ver com o bem-estar do aluno. O ensino médio brasileiro é um desastre total. Da forma como está montado, está trazendo resultados muito ruins e precisa mudar. O que se nota é uma imensa desmotivação do aluno no ensino médio, principalmente na escola pública, que são 80% dos alunos. Esse estudante da rede pública não vê sentido no ensino médio com 13 disciplinas, conteúdos obrigatórios. É muito longe da realidade, da vida dele. O que o Brasil faz (no modelo atual) está na contramão do que os principais países mais avançados e mais desenvolvidos na educação fazem, que é um ensino médio muito mais flexível, inclusive com mais caminhos para a profissionalização. Acho que (manter o atual modelo) é subestimar o estudante, que já é um adolescente, não dar espaço para que ele consiga colocar demandas que são dele. E, se você não der o espaço, acontece o que está acontecendo: ele desiste.

Como a educação terá de ser trabalhada para que o aluno tenha realmente protagonismo? Para alguns, será necessário dar mais aconselhamento?

É preciso ter um núcleo de orientação forte e trabalhar muito com os professores de maneira a dar apoio correto ao aluno. Apoio correto significa não jogar seus preconceitos para cima do aluno, o que só atrapalha. A palavra de ordem é diversidade, você precisa ter um aluno que respeite todos os tipos de diversidade, seja econômica, de orientação sexual, de cor, de origem de outros países, situações sociais diferentes, e assim por diante. A escola hoje tem de trabalhar muito essa questão da diversidade, independentemente do currículo. As competências sociais são fundamentais no mundo do trabalho e na sociedade em geral. Além disso, é preciso ter professores e orientadores que ajudem os alunos a escolher caminhos (de carreira), que não são caminhos definitivos mas precisam ser feitos. Isso faz parte da nova missão da escola.

O MEC tem indicado que os Estados e as escolas terão bastante autonomia na implementação da reforma. Existe um formato de currículo mais adequado que permitiria o aluno a se desenvolver?

No momento, como ainda temos uma realidade de um vestibular muito conteudista – como é o caso da Fuvest no Estado de São Paulo, que vem mudando mas é muito conteudista ainda -, as escolas tem de ter um currículo obrigatório ainda bastante forte no sentido de conteúdo. Mas, ao mesmo tempo, é preciso dar uma enxugada de forma a abrir espaço para as trajetórias. Cada escola tem de escolher essas trajetórias de uma forma muito sintonizada com a demanda dos seus alunos, da sua clientela. Isso varia muito.Você terá certamente colégios com mais vocação para área mais profissionalizante, outros com um perfil muito mais acadêmico. O ministério (da Educação) está correto em dar flexibilidade às escolas. O sistema de créditos, que as universidades já usam há bastante tempo, é um caminho. Claro que você precisa adaptar isso à realidade do aluno, às características de outro estágio da formação educacional. Eles são muito mais imaturos, e assim por diante. É por isso que eles precisam de mais apoio ao escolher do que na universidade.