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06/03/2009 / Em: Clipping

 


Manifestantes encerram protesto e deixam o MASP (Globo.Com – G1 Vestibular – 05/03/09)

Grupo protesta pelos direitos do negro no ensino público.
Antes, eles ocuparam dependências da Faculdade de Medicina da USP.

Terminou de forma pacífica o protesto que reuniu cerca de 50 manifestantes, nesta quinta-feira (5), em São Paulo. O ato marca o lançamento de um movimento social em defesa da inserção do negro no ensino superior público. Representantes do movimento estavam reunidos no vão do Masp, onde fizeram um discurso. Por volta de 18h45, o grupo começou a deixar o local. Antes, os manifestantes ocuparam as dependências da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ainda na faculdade, o grupo pichou palavras de ordem contra o racismo no chão do estacionamento e estenderam bandeiras na entrada da faculdade, que passou recentemente por uma reforma.  Os manifestantes fazem parte da recém-criada União de Núcleos de Educação Popular para Negros e Classe Trabalhadora (Uneafro). A Uneafro começa com 42 núcleos conveniados _uma parte era da Educafro. A maioria desses núcleos é de cursinhos pré-vestibular, mas há também grupos teatrais e esportivos. A proposta da nova entidade, formada por dissidentes da Educafro, ONG que coordena uma rede de cursinhos pré-vestibular, é discutir políticas afirmativas, como as cotas raciais, para ampliar a inserção do negro na sociedade por meio da educação. “A cada meia hora tem alguém da esquerda brigando com outro para arranjar o seu espaço. Eu acho que a criação de uma entidade é algo positivo desde que seja para atender a uma demanda da sociedade e é algo negativo se for para saciar o ego de alguém”, afirmou o frei David Santos, diretor-executivo da Educafro. “Torço para que dê certo.”  Procurada pela reportagem, a reitoria da USP não quis se manifestar. Todo o grupo deixou as dependências da faculdade e caminhou rumo ao Masp, na Avenida Paulista. No caminho, os manifestantes chegaram a bloquear totalmente a Avenida Dr. Arnaldo por alguns minutos. Os manifestantes fazem parte da recém-criada União de Núcleos de Educação Popular para Negros e Classe Trabalhadora (Uneafro). A Uneafro começa com 42 núcleos conveniados _uma parte era da Educafro. A maioria desses núcleos é de cursinhos pré-vestibular, mas há também grupos teatrais e esportivos. A proposta da nova entidade, formada por dissidentes da Educafro, ONG que coordena uma rede de cursinhos pré-vestibular, é discutir políticas afirmativas, como as cotas raciais, para ampliar a inserção do negro na sociedade por meio da educação. “A cada meia hora tem alguém da esquerda brigando com outro para arranjar o seu espaço. Eu acho que a criação de uma entidade é algo positivo desde que seja para atender a uma demanda da sociedade e é algo negativo se for para saciar o ego de alguém”, afirmou o frei David Santos, diretor-executivo da Educafro. “Torço para que dê certo.”  Procurada pela reportagem, a reitoria da USP não quis se manifestar. 

Matrícula da 4ª chamada da Unicamp 2009 deve ser feita nesta sexta-feira

Confira a documentação necessária para fazer a matrícula.
Instituição libera, nesta sexta, a relação da quinta chamada.

A matrícula dos 603 estudantes convocados na quarta chamada do vestibular 2009 da Unicamp deve ser realizada nesta sexta-feira, das 9h às 12h. A quinta chamada será divulgada ainda nesta sexta-feira. O G1 irá trazer a relação dos novos convocados. Todos os alunos aprovados na Unicamp, incluindo os que passaram em cursos em Limeira e Piracicaba, deverão se matricular em Campinas, no Ginásio Multidisciplinar. Os ingressantes nos cursos da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) deverão fazer a matrícula em São José do Rio Preto. 

Documentos necessários para matrícula
Cópia autenticada em cartório ou cópia acompanhada dos originais de cada um dos seguintes documentos: 

1 – Certificado de conclusão do ensino médio ou equivalente 
2 – Histórico escolar completo do curso de ensino médio ou equivalente (somente para Famerp e para candidatos que optaram pelo PAAIS) 
3 – Certidão de nascimento ou casamento
4 – Cédula de identidade 
5 – Título de eleitor para os brasileiros maiores de 18 anos
6 – Certificado de reservista ou atestado de alistamento militar ou atestado de matrícula em CPOR ou NPOR para os brasileiros maiores de 18 anos, do sexo masculino 
7 – Uma foto 3 x 4 recente e colorida (2 fotos para Famerp) 

Os candidatos que optaram pelo Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social  (PAAIS) precisam comprovar, mediante apresentação do Histórico Escolar, ter cursado integralmente o ensino médio em escolas da rede pública. Caso contrário, estarão eliminados do vestibular e terão a matrícula na Unicamp ou na Famerp negada.




Unesp aprova mudanças no vestibular a partir deste ano  (O Estado de S.Paulo – Geral – 06/03/09)

A Universidade Estadual Paulista (Unesp) aprovou ontem, em primeira votação, mudanças no seu vestibular a partir deste ano. A prova passará a ser feita em duas fases, uma em novembro e outra em dezembro. Além disso, as questões deixarão de ser divididas em matérias, valorizando a interdisciplinaridade, tendência registrada também na Fuvest. Segundo o documento aprovado pela Câmara Central de Graduação da Unesp, as provas serão divididas em três ?conjuntos nucleadores?. O documento segue para votação no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. O primeiro conjunto será Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, que abrange as áreas de português, língua estrangeira, educação física, arte e informática. O segundo se chamará Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, com questões de matemática, física, química e biologia. O último bloco, Ciências Humanas e suas Tecnologias, incluirá as tradicionais história e geografia, mas terá ainda sociologia, antropologia, política e filosofia, disciplinas normalmente não cobradas nos vestibulares. ?São áreas que já fazem parte do currículo do ensino médio, por isso têm de estar na prova também?, disse a pró-reitora de Graduação da Unesp, Sheila Zambello de Pinho. A Unesp é única entre as universidades estaduais de São Paulo que ainda realiza o exame em uma só etapa. A coordenadora do Curso e Colégio Objetivo, Vera Lúcia da Costa Antunes, aprova as alterações. ?A proposta da Unesp segue a tendência do Exame Nacional do Ensino Médio e de outros vestibulares que privilegiam a capacidade de leitura e de relacionar conhecimentos?, afirma.



Dos 5 cursos mais concorridos da USP, 4 têm alta de alunos da rede pública   (Folha de S.Paulo – Cotidiano – 06/03/09)

Das cinco graduações mais concorridas da USP, quatro tiveram alta expressiva de aprovados em primeira chamada vindos da rede pública. A carreira com a nota de corte mais alta -para passar para a segunda fase, o candidato tinha que acertar 77 das 90 questões-, medicina e ciências médicas teve a proporção de alunos que fizeram o ensino médio em escola pública aumentada de 7,9%, no ano passado, para 24,6%. Mas a maior participação de alunos vindos da rede pública, entre as cinco mais concorridas, foi no curso superior de audiovisual. A graduação recebeu da rede pública 42,8% dos ingressantes (15 das 35 vagas), contra 28,4% no ano passado. As outras duas carreiras que receberam mais alunos da rede pública foram publicidade e propaganda e jornalismo. A exceção ficou por conta de relações internacionais, em que a participação desses estudantes se manteve, em 19,9%. Nos últimos dias, a USP divulgou vários números para demonstrar a eficácia de seu programa de inclusão de alunos da rede pública, o Inclusp -que garante bônus de até 12% na Fuvest. Segundo a instituição, a USP teve, em 2009, alta de 16,5% no ingresso de alunos do ensino médio público. “Temos investido, através do Inclusp, no aumento da diversidade socioeconômica e étnica, privilegiando o mérito acadêmico, e este programa, em seu terceiro ano de aplicação, tem mostrado grandes avanços nessa direção”, disse a reitora da universidade, Suely Vilela, em nota divulgada ontem. Anteontem, a USP confirmou que manterá, neste ano, o Pasusp, um dos braços do Inclusp, independentemente da manutenção do convênio com o governo estadual. O Pasusp consiste em uma avaliação aplicada entre alunos do terceiro ano que pode render bônus de até 3% na nota da Fuvest. O programa esteve ameaçado no ano passado, quando o Estado disse que poderia limitar a aplicação da prova. A Secretaria de Estado da Educação afirmou ontem que acha positivo que o acesso de alunos da rede pública à USP esteja subindo e diz que “aguarda comunicado da USP sobre os resultados para que seja avaliado o programa para este ano”. “Com certeza, esses programas estão fazendo com que suba o número de alunos de escola pública que entram na USP”, afirma Augusta Aparecida Barbosa Pereira, coordenadora do Cursinho do XI, voltado para alunos de baixa renda.
Já Eunice Ribeiro Durham, do Núcleo de Políticas Públicas da USP, acredita que seria mais eficaz se instituições como USP, Unesp e Unicamp oferecessem cursinhos gratuitos, dados por alunos de licenciatura. “Todo mundo tem falhas no ensino médio, mas o aluno rico pode pagar por um cursinho.” Para Cecilia Regina Bigattão, diretora da escola estadual Alberto Cardoso de Mello Neto, na zona norte de São Paulo, “o modelo do vestibular mudou muito nos últimos anos. Não é mais aquela prova em que precisa saber tudo de cor, então, o aluno da escola pública acaba tendo mais chance”.



Uma segunda opinião  (Revista Veja – Geral – Última Edição)

O projeto que cria cotas raciais nas universidades
federais brasileiras exige mais atenção do que a
justeza da causa sugere: ele pode ser igualmente
ruinoso para os negros e brancos brasileiros

Nas próximas semanas, deverá ser votado no Senado um projeto que, já aprovado na Câmara dos Deputados, implanta o sistema de cotas raciais nas 55 universidades federais brasileiras. Essas instituições ficarão obrigadas a reservar 50% de suas vagas para alunos egressos de escolas públicas. Dentro desse universo de cotistas, negros, pardos e índios serão os principais beneficiados: terão garantido um número de vagas proporcional à sua representação demográfica em cada estado. O projeto visa a ampliar a presença desses grupos étnicos e raciais no ensino superior. O objetivo é justo. Negros, pardos e índios, em especial os mais pobres, têm pouca ou nenhuma chance de se equiparar social e economicamente aos brancos sem que se lhes abram maiores oportunidades na vida. Mas essa questão é complexa e não se esgota em sua justeza. Há fortes razões para acreditar que transformar o projeto em lei da maneira como ele chegou ao Senado, vindo da Câmara dos Deputados, pode ser contraproducente, ilógico e ruinoso para todos os brasileiros, inclusive e principalmente aqueles que o texto da lei visa a beneficiar.  A primeira e mais grave reflexão a fazer é se o papel das universidades federais deve passar a ser o de reparar injustiças históricas. Se for isso, há que ter em mente que se trata de uma mudança radical. As universidades existiram desde sempre para produzir conhecimento. A produção de conhecimento de qualidade só é possível em ambientes de porta de entrada estreita e com rígido regime de mérito. É o contrário do que propõe o sistema de cotas em votação no Senado. Se ele for aprovado, metade dos calouros terá acesso à universidade usando como passaporte de entrada o vago e cientificamente desacreditado conceito de raça. Adeus ao mérito individual. Com ele se despedem também a produção de conhecimento e o avanço acadêmico. Deve haver formas menos destruidoras de reparar injustiças históricas. A experiência com cotas no ensino superior começou no Brasil em 2002, quando a Universidade do Estado do Rio de Janeiro as instituiu pela primeira vez no país. Outras oitenta faculdades fizeram o mesmo, com modelos variados. Nenhuma dessas experiências tem resultados positivos conclusivos e tampouco unanimidade quanto a sua constitucionalidade. Ainda neste ano, o Supremo Tribunal Federal deve julgar a validade de dois desses modelos. A novidade do projeto que tramita no Senado é que ele pretende institucionalizar as cotas. A ideia conta com forte apoio oficial e, felizmente, com a oposição de muitas lideranças negras do país que enxergam no favorecimento das cotas um risco para todos. Como é de praxe quando se contraria uma decisão oficial do governo, a retaliação é automática. Diz Leão Alves, do movimento Nação Mestiça: “Não apoiar as cotas, como é o meu caso, significa abrir mão de financiamentos e cargos públicos”. A contaminação ideológica do projeto é seu ponto fraco. Por qual critério se chegou ao porcentual de 50% das vagas das universidades federais para cotistas? Segundo o ministro Edson Santos, da Secretaria da Igualdade Racial (Seppir), pelo critério da “sensibilidade”. Acontece que, para preencher todas essas vagas, será necessário admitir alunos classificados entre os piores no vestibular. O matemático Renato Pedrosa, um dos coordenadores do vestibular da Unicamp, fez simulações com base na lei e concluiu: “Cotistas entrariam com notas até 25% mais baixas do que os aprovados apenas pelo mérito e não conseguiriam ter um bom desempenho ao longo do curso”. Outro efeito da pressão das ONGs negras é que um mecanismo para beneficiar candidatos de baixa renda só foi incorporado ao projeto na última hora, e quase como um remendo. A redação da lei deixa no ar muitas dúvidas, entre as quais se um branco pobre saído da escola pública poderá se beneficiar das cotas.

O estado não deve legislar sobre raça

Estabelecer direitos distintos com base na cor da pele, como prevê o atual projeto, significa dar amparo legal à ideia de que negros e brancos devem ser tratados diferentemente – em oposição ao que diz a própria Constituição brasileira. É uma armadilha. À guisa de reparar uma injustiça coletiva histórica e socialmente definida, entroniza-se por lei uma discriminação indelével que recai sobre cada indivíduo tendo como base certos caracteres físicos que se aceitam como definidores de sua raça. Isso equivale à oficialização do racismo. Com outras intenções, foi essa mesma ideia absurda a base do único regime contemporâneo erguido sobre o conceito de separação racial, o apartheid da África do Sul, que de 1948 até ser desmontado, em 1994, justificou a segregação entre grupos de pessoas e a supremacia de um deles, os brancos, sobre outro, os negros. Raça é hoje um conceito desmoralizado pela ciência, pois podem ser medidas mais variações genéticas entre dois indiví-duos loiros do que entre um loiro e um negro. Raça não é, portanto, base sólida para legislar. Nos Estados Unidos, país com longa experiência em ações afirmativas, caminha-se na direção justamente oposta à que pretende o Brasil. A Suprema Corte americana nos anos 70 julgou inconstitucionais as cotas para negros e outras minorias. Recentemente, também considerou inconstitucional o “bônus” nas notas que algumas universidades instituíram para ajudar no ingresso dos estudantes negros. Resumiu o juiz Anthony Kennedy em um voto sobre as ações afirmativas: “Preferências raciais, quando corroboradas pelo estado, podem ser a mais segregacionista das políticas, com o potencial de destruir a confiança na Constituição e na ideia de igualdade”. Incentivados a responder sobre a própria cor no último censo escolar, 65% dos alunos brasileiros deixaram a questão em branco. A maioria dos brasileiros também não se define com base na raça. Conclui a antropóloga Yvonne Maggie: “A luta contra o racismo consiste em destruir essa identidade racial – e não em reforçá-la”. Impor cotas raciais por lei pode ir contra o bom senso e contra a realidade brasileira, acirrando divisões apenas embrionárias na sociedade.

Definir quem tem direito às vagas com base na cor da pele será fonte de polêmicas infindáveis e injustiças irreparáveis

A biologia do ensino médio explica que o biótipo (carga genética) não tem manifestação completa e automática sobre o fenótipo (aparência). Isso significa que pessoas de ancestralidade negra podem parecer menos negras do que alguns brancos com um “pé na cozinha”, como era comum no passado se referir a brancos com algum antepassado negro na família. Na Universidade de Brasília, uma das primeiras a implantar o sistema de cotas no país, uma comissão foi formada com o objetivo de arbitrar, a partir de fotografias, sobre quais candidatos se enquadravam no critério racial a ser favorecido. Dois irmãos gêmeos idênticos, univitelinos, tentaram o acesso – mas apenas um foi considerado negro. A universidade decidiu, então, substituir a foto por uma entrevista. Logo outra injustiça flagrante será produzida pelo novo sistema. Isso é inevitável. Em todos os tempos históricos e geográficos, o critério racial como balizador de políticas públicas produziu favoritismo e abuso de poder. Essa maldição foi magistralmente materializada no famoso desabafo de um funcionário nazista exasperado com a vagueza dos critérios instituídos para separar arianos de judeus: “Na Alemanha, judeu é quem Goebbels (ministro da propaganda) diz que é judeu”. É previsível que, se implantado nacionalmente no Brasil o sistema de cotas, negro será quem o agente do estado petista disser que é negro.

As cotas não resolvem as desigualdades sociais

Os defensores das cotas dizem que está passando da hora de reconhecer a dívida histórica do Brasil com os descendentes de escravos. A boa intenção esbarra na realidade, como explica o historiador José Roberto Pinto de Góes: “Há registros de que muitos negros, uma vez libertos, se tornaram proprietários de escravos”. Será que o agente do estado encarregado de reparar a injustiça histórica conseguirá saber se o candidato é descendente de um negro que foi dono de escravos? Difícil. Antevendo essa e outras armadilhas práticas, o projeto de cotas que chegou ao Senado recebeu um remendo que tenta aliviar sua pesada carga de racismo com a inclusão da pobreza entre os critérios para um brasileiro ser beneficiado por cotas nas universidades. O projeto prevê que os contemplados, além de negros, pardos ou índios, sejam egressos de escolas públicas. Metade das vagas seria reservada para aqueles estudantes de famílias de baixa renda. A intenção do remendo é evitar que os brasileiros negros de classe média ou os alunos das escolas públicas de elite sejam os principais beneficiados pelo novo sistema. É um bom remendo. Mas ele só vale para 50% das vagas sob o sistema de cotas. A lei, da maneira como chegou ao Senado, é confusa quanto a que benefício teria direito o brasileiro branco e pobre. O texto afirma que as vagas devem ser preenchidas por negros, pardos e índios, “no mínimo” na proporção em que suas etnias participam da composição da população em cada estado. Ao usar a expressão “no mínimo” e não se referir aos brancos, a lei abre espaço para que as demais vagas também sejam ocupadas por negros, pardos e índios.

O verdadeiro problema da educação brasileira é o ensino básico

Pelas estimativas, se aprovado como está, o projeto beneficiaria efetivamente 75 000 brasileiros, a metade dos calouros que entra nas universidades a cada ano. Tais vagas seriam destinadas preferencialmente a negros, pardos e índios. Esse contingente, é de presumir – pois do contrário não faria sentido ter cotas –, é menos preparado academicamente do que dezenas de milhares de estudantes rejeitados pela simples razão de terem nascido brancos e de pais que suaram a camisa para galgar um degrau mais alto na pirâmide social brasileira. Os efeitos de longo prazo dessa injustiça são ruinosos. Ela pune o esforço individual e cria uma casta de “profissionais das cotas”, cuja maioria pode até ser muito bem aceita em empregos de segunda linha, mas, certamente, será discriminada no preenchimento de postos de trabalho mais bem pagos e com exigências curriculares impecáveis. O projeto de cotas não toca nesse vespeiro. E desvia a atenção de algo bem mais relevante: o fato de que a encrenca começa bem antes do vestibular. Para se ter uma ideia, apenas 20% dos alunos mais pobres concluem o ensino médio. Pior ainda: entre os que chegam à formatura, uma minoria tem condições reais de cursar uma faculdade, ainda que ela seja gratuita. Metade dos alunos conclui o ensino básico sem conseguir executar as operações fundamentais da matemática e sem entender o conteúdo de textos simples. “Não há solução mágica para a democratização do acesso à universidade. Isso apenas ocorrerá quando mais e mais estudantes forem preparados para competir de igual para igual por uma vaga”, diz Eunice Durham, especialista em ensino superior. Não há, claro, uma maneira de fazer isso que ignore o investimento maciço na melhoria do nível dos professores das escolas públicas brasileiras.

As cotas ferem o princípio da meritocracia

Como explicar a um aluno classificado na 65ª posição num dos vestibulares mais concorridos do país que sua vaga será ocupada pelo milésimo colocado no mesmo concurso? É esse tipo de distorção que ocorrerá nas universidades brasileiras, caso as cotas sejam adotadas na proporção em que prevê o projeto que tramita no Senado. Os números vêm de um estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo. O perigo é pôr em xeque o reconhecimento ao mérito individual. Nos Estados Unidos, onde as cotas já foram julgadas inconstitucionais, as ações afirmativas ferem menos esse princípio. Lá, o objetivo é garantir a diversidade: fazer com que no ambiente universitário se encontrem pessoas não só de uma pluralidade de origens, mas também com talentos peculiares. Com esse critério, podem ser beneficiados candidatos negros, mas também mulheres, estrangeiros ou esportistas. Só entra, no entanto, quem tirar boas notas. No caso brasileiro, as cotas levam a um arremedo de diversidade. São consideradas apenas as variáveis branco, negro, pardo e índio, além de um indicador de renda – as qualidades do indivíduo não são avaliadas. Tampouco está previsto mecanismo algum para preservar a qualidade do ensino. Para preencher todas as vagas reservadas, as universidades precisarão aprovar candidatos com notas baixas. Para os que são preteridos, como o estudante gaúcho Getúlio Ost, 18 anos, fica a frustração. “Consegui uma boa nota no vestibular, mas meu esforço não valeu de nada”, diz ele, que perdeu a vaga na Universidade Federal do Rio Grande do Sul para um cotista. Já para as universidades, resta um duro desafio: preservar o nível acadêmico dos cursos. 

Os mesmos problemas se repetem nos países onde as ações afirmativas foram adotadas

Foi o que verificou o maior estudo internacional já feito sobre o efeito das cotas, conduzido pelo economista americano Thomas Sowell, da Universidade Stanford. O trabalho mostra que é incorreto atribuir às ações afirmativas o progresso dos grupos beneficiados. Nos Estados Unidos, os números revelam que grande parte dos negros ascendeu justamente no período anterior às cotas. Depois delas, o que se viu foi a melhora na renda do grupo reduzido de classe média negra que já vinha avançando. Para os 20% dos negros americanos mais pobres, ocorreu o contrário. A renda até caiu. Outro problema recorrente é que, embora surjam como políticas provisórias, as cotas acabam sempre prorrogadas por longos períodos. Na Índia, a reserva de empregos e de vagas na universidade para castas discriminadas foi implantada em 1949. Era para durar dez anos, mas existe até hoje. A razão para a persistência da medida é simples: ninguém quer arcar com o custo político de eliminar o benefício. Ao contrário. Ele é até ampliado. Isso já ocorre no Brasil. A Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que começou com cotas para negros de escola pública, atualmente também reserva vagas para índios, deficientes e filhos de bombeiros mortos em serviço. A Universidade Federal de São Carlos já reserva vagas até para refugiados políticos.

O discurso dos defensores

Os principais argumentos de quem quer a implantação
de cotas raciais nas universidades brasileiras

O que dizem os defensores das cotas
O sistema ajudaria a reparar uma dívida com os negros pelo longo período de escravidão

Comentário
O raciocínio é capcioso. Quem recebe a “reparação” não são aqueles que concretamente foram feridos pela escravidão – mas um grupo de pessoas definidas pelo impreciso conceito de raça, que vem inclusive sendo questionado pela ciência

O que dizem os defensores das cotas
O Brasil é um país racista – e os negros, menos escolarizados e mais pobres por causa disso, precisam de um empurrão

Comentário
As desigualdades sociais entre brancos e negros de fato existem, tal como o preconceito. O que não existe é racismo institucionalizado. Depois da abolição, em 1888, o Brasil nunca criou barreiras legais em função da cor da pele, ao contrário de outros países

O que dizem os defensores das cotas
Aumentar o número de negros com diploma de ensino superior teria um efeito simbólico na diminuição da discriminação

Comentário
Pode ser, mas provavelmente não por meio das cotas. A experiência mostra que o sistema não confere prestígio aos negros, mas, sim, os estigmatiza como um grupo menos capaz de avançar por mérito próprio

O que dizem os defensores das cotas
A diversidade contribuirá para a melhoria do ensino superior

Comentário
O conceito de diversidade no projeto é bastante limitado. Toda a variedade sociocultural brasileira se resume a negros, pardos e índios. Ao contrário do que acontece em outros países, a biografia e os talentos individuais dos candidatos não são levados em conta

O que dizem os defensores das cotas
A experiência brasileira está dando certo – sem nenhum sinal de que comprometa o nível das universidades

Comentário
Embora alguns estudos revelem resultados positivos, não houve tempo suficiente para uma avaliação mais científica sobre o impacto das cotas no Brasil. Em países onde elas foram implantadas há mais tempo, a experiência não foi bem-sucedida



Cursinhos divergem sobre novo modelo da FUVEST  (UOL – Vestibular – 03/03/09)

O novo projeto de processo seletivo de ingresso na USP (Universidade de São Paulo) provocou discordância entre grandes cursinhos do estado. Os coordenadores de pré-vestibulares ouvidos pelo UOL Educação emitiram opiniões controversas sobre a as alterações pretendidas no maior vestibular do país.

O novo projeto é ruim

Para o coordenador-geral do Anglo, Nicolau Marmo, a mudança é negativa. “É equivocado não selecionar os melhores para ir para a faculdade. Falta vontade política para fazer melhoria na educação pública”, afirma.Se a tentativa de alterar o processo seletivo é incluir maisestudantes da rede pública, Marmo profetiza: “Não vai dar certo. Se o aluno da rede pública não sabe enfrentar questões objetivas, também não vai saber enfrentar questões dissertativas”. “Consideramos a Fuvest o melhor vestibular do país. Não há motivo para

fazer essa reviravolta”, acrescenta.

O novo modelo não muda nada

“Esta mudança é um retorno ao formato anterior da Fuvest, em que a primeira fase não era classificatória, mas só eliminatória. Não muda muito para o estudante, porque não alterou a necessidade de ter uma boa formação”, avalia o coordenador do Etapa, Carlos Eduardo Bindi. Para o professor, se a intenção é incluir mais estudantes da rede pública na universidade, “é difícil de avaliar” se o projeto terá sucesso. “O vestibular vai continuar cobrando boa performance nos conhecimentos pedidos”, diz. Mesmo para quem já está no meio da preparação, Bindi avalia que não haverá problemas. “Não acho que o estudante vai ter de mudar a forma de estudar. Não há qualquer risco para o bom aluno.”

As mudanças são favoráveis

De acordo com o coordenador do curso Poliedro, Henrique Ferreira Villares, se as mudanças no vestibular ocorrerem, serão benéficas. “A Fuvest, da maneira como estava em 2008, está facilitando a vida de aluno paraquedista. Aluno que estuda muito ficava prejudicado, principalmente para cursos como medicina, pois nivelava por baixo”, diz. “Para mim, há uma vontade de fazer o chamado ‘peneirão’, em que o aluno se classificava para a segunda fase. Isso, para o bom aluno é excelente, porque a segunda fase começa do zero e ninguém sai com vantagem.”

Fuvest pretende cobrar todas as disciplinas na 2ª fase  (UOL – Vestibular – 03/03/09)

A USP (Universidade de São Paulo) discute mudanças para o vestibular que podem ser adotadas já no próximo processo seletivo. O projeto

encabeçado pela Pró-Reitoria de Graduação pretende fazer com que a segunda fase do vestibular avalie todas as matérias do ensino médio.

Atualmente, só disciplinas relacionadas ao curso pretendido são avaliadas.

Além disso, é intenção da USP incluir questões contextualizadas na segunda fase, que abarquem conhecimentos de mais de uma disciplina –

as chamadas perguntas interdisciplinares. De acordo com a proposta da instituição, uma maneira de se cobrar o conteúdo de maneira integrada

é fazendo enunciados que exijam a resolução de problemas. O projeto de mudanças no vestibular foi distribuído para as escolas,

institutos e faculdades e está em fase de discussão pelos docentes. Segundo a Assessoria de Imprensa da USP, o objetivo da pró-reitoria é

aprovar a proposta até abril ou maio e, assim, aplicá-la no próximo vestibular. Uma das críticas que o projeto vem recebendo é a necessidade de aprovação a toque de caixa, sem tempo para debate acadêmico. Mas se o projeto não for aprovado no Conselho de Graduação da universidade até maio, sua aplicação pode ser postergada.

Mudanças previstas

As alterações no processo seletivo começam já na primeira fase, que deverá ter caráter mais generalista e apenas eliminar os candidatos menos preparados. A pontuação obtida nesta fase, diferentemente do que ocorre hoje, não seria mais aproveitada na nota final e na classificação dos vestibulandos. Na segunda fase é que se encontram as alterações mais profundas. Atualmente, cada vestibulando pode realizar até quatro provas nessa etapa da seleção, dependendo da carreira pretendida. Todos fazem os exames de português – os demais são variáveis. O projeto pretende fazer com que a segunda fase seja mais “padronizada” e executada em três dias. Todos os vestibulandos continuariam com os exames de português inaugurando a etapa decisiva da seleção. No segundo dia, seria a vez da prova de química, matemática, física, biologia, geografia, história e física. A prova teria 18 questões discursivas, sendo que seis delas teriam a característica de serem interdisciplinares – com cobrança de conhecimento de mais de uma matéria. Já o terceiro dia teria dez questões variáveis de acordo com cada curso, divididas entre duas disciplinas específicas. O terceiro ponto que o projeto pretende modificar é a forma de organização das carreiras do vestibular. Neste caso, não é exposta nenhuma proposta, mas sim uma análise das unidades. Hoje, cursos menos concorridos acabam recebendo candidatos que não queriam de fato a vaga. Então, ocorre o abandono.

Critérios da seleção

A USP também especificou o que deseja de seu corpo discente. De acordo com o documento o “novo modelo de vestibular deve ser um instrumento eficiente para selecionar candidatos que:

-saibam se expressar com clareza e desenvoltura;

-tenham capacidade de buscar, selecionar, organizar e interpretar informações diversas, elaborar e criticar hipóteses e argumentar sobre posições ou problemas a eles apresentados;

-esbocem visões críticas do mundo e da sociedade em que vivemos;

-demonstrem competência na identificação e proposição de soluções para problemas sociais, culturais, científicos e tecnológicos;

-identifiquem seu campo de interesse e demonstrem habilidades para cursar a carreira escolhida.