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09/02/2011 / Em: Clipping

 


Nota zero para o trote violento na universidade  (Correio Popular – Editorial – 09/02/11)

Todo ano é a mesma coisa. Jovens caro-pintado pelas ruas, esmolando de forma divertida ou obediente nos semáforos. Cabeça raspada. Bares lotados. Esse é um lado da moeda. Na região de Campinas, é o cenário mais comum. Do outro, selvagem e reprovável, bixos coagidos por veteranos submetem se a um ritual de passagem que, invariavelmente,termina muito mal. Não são poucos os casos de abusos relatados pela imprensa na recepção aos novos universitário sem todo o País. Estudantes em coma alcoólico, queimados por produtos tóxicos,

sujos de lama, exauridos por brincadeiras perigosas e sem graça. Ainda que os programas de acolhimento aos jovens, nessa fantástica fase da vida, têm buscado a integração solidária e formas alternativas de trote, a verdade é que acultura do sofrimento ainda impera em algumas unidades antes do início das aulas. O vestibular já é em si um ritual de passagem. É muita pressão, expectativa, ansiedade e sofrimento. As universidades públicas, mais concorridas, já representam um fantasma na vida de muitos deles. Acrescentar a humilhação do trote violento a essa alegria estudantil é uma inversão de valores, que em nada contribui para o processo de recepção. Algumas das principais instituições universitáriasdo País, entre elas a Unicamp e a USP, já começaram a divulgar a lista de aprovados. Depois de uma estressante maratona, é hora de celebrar a vitória. Por isso, cabe aos próprios estudantes, pais e dirigentes das escolas acender o sinal amarelo. Toda e qualquer manifestação que exceda o limite do bom senso deveria ser denunciada pelos jovens, sem constrangimento. As direções das faculdades têm de facilitar os mecanismos de denúncia e, sobretudo, reforçar as campanhas de conscientização e vigilância nos campi. É preciso ficar claro para a sociedade que, em caso de abuso, os algozes serão punidos. Ou, pelo menos, deveriam. A impunidade é um dos grandes alimentadores da selvageria, encorajando a atitude covarde, invariavelmente em grupo. Que iniciativas solidárias e cidadãs sejam ainda mais  zero da violência sem sentido.



Fuvest e Unicamp divulgam primeira lista de aprovados  (Folha de S.Paulo – Fovest – 09/02/11)

A Fuvest divulgou ontem a primeira chamada, que pode ser conferida em www.fuvest.br e na edição da Folha de hoje. A da Unicamp está desde segunda em www.comvest.unicamp.br.
A matrícula da USP e da Santa Casa ocorre nos dias 14 e 15 na escola em que o vestibulando foi aprovado. Já para a Unicamp, as matrículas devem ser feitas amanhã. Tanto na USP quanto na Unicamp, é preciso demonstrar interesse para poder ser convocado entre os aprovados da terceira lista em diante. Na USP, isso ocorre em 24 e 25 de fevereiro nos postos relacionados no Manual do Candidato. Na Unicamp, o candidato deve acessar o site entre os dias 18 e 21 de fevereiro.

Sem medo do futuro   (Folha de S.Paulo – Cotidiano – 09/02/11)

(…) Descobri um caroço em novembro (…) Era um tumor (…) A químio coincidiu com a Unicamp (…) A Fuvest fiz numa sala especial (…) Estou me recuperando bem (…) E ter passado foi um incentivo

RESUMO
Eduardo Piniano Pinheiro, 18, passou em três das principais universidades do país (USP, Unicamp e UFSCar) -também passou na primeira fase da Unesp, mas não pôde fazer a segunda.
Fez a prova da Unicamp dentro do hospital, enquanto tratava um câncer no músculo da coxa. Ontem de manhã, soube da aprovação na USP. À tarde, deixou o hospital. Agora vai escolher o curso, trancar a matrícula e fazer químio e radioterapia.

(…) Depoimento a

Descobri um caroço na coxa no começo de novembro. Fui a cinco médicos, até que um deles disse que era um tumor e que precisava operar. Já tinha passado de ano e estava estudando para o vestibular. Resolvi prestar direito na USP e engenharia na Unicamp e na UFSCar. Queria uma universidade pública, porque são cursos caros. Não fiquei muito preocupado com o tumor porque não tinha noção de que poderia ser grave. Li os livros pedidos pelos vestibulares e continuei estudando. Moro em Bragança Paulista, e, no dia 17 de dezembro, fui para a Casa de Saúde de Campinas para ser operado. Depois da cirurgia, o médico achou que o tumor era benigno, por isso passei as festas tranquilo com minha família. Mas, no dia 3 de janeiro, tive a notícia de que era maligno e fiquei bem mal nos primeiros dias. Mal falava, fiquei abatido.

PROVA NO HOSPITAL

No dia seguinte, voltei a Campinas para iniciar os exames e o tratamento. A prova da Fuvest eu consegui fazer em uma sala especial no colégio Coração de Jesus. Ainda não tinha começado a quimioterapia, mas estava com os curativos da cirurgia e tinha que levantar de vez em quando por causa da dor. Por isso me liberaram. A primeira quimioterapia coincidiu com a segunda fase da Unicamp. Como eu seria internado, consegui autorização para fazer a prova no Centro Infantil Boldrini, também em Campinas. Fiz o vestibular acompanhado de um fiscal em uma ala do hospital. Senti a mesma tensão que em uma sala normal com outros candidatos, mas também a tensão de ficar sozinho com o fiscal. Precisei me concentrar bem para esquecer que estava em um ambiente que lembra a doença e, assim, focar somente no vestibular e ter força para fazer tudo direito.

DIETA ESPECIAL

Nessa última internação, para mais uma quimioterapia, tive infecção intestinal e fiquei 12 dias no hospital. Por causa do tratamento, não posso correr risco de contrair infecções e tenho de evitar aglomerações e contato com animais. Também evito frutas e verduras cruas, por causa do risco de terem alguma bactéria. Gosto de comida japonesa, mas não poderei comer até acabar o tratamento. Pelo menos posso comer sorvete e massas. Amanhã [hoje], volto ao hospital para me preparar para a radioterapia, na quinta-feira. Serão 30 dias de radio e não sei ainda se vou ficar internado. Vai depender da minha reação. Estou me recuperando bem e consegui responder ao tratamento. No começo foi complicado, mas aceitei melhor. E ter passado nos três vestibulares foi um incentivo. Primeiro soube da Ufscar, por causa da nota do Enem. Anteontem, saiu a lista de aprovados da Unicamp e vi que tinha passado. Fiquei muito feliz. Ontem, foi a vez da USP. Me surpreendi com a Unicamp, pois estava muito nervoso no dia da prova.

REDE SOCIAL

Nasci em Bragança Paulista e sempre vivi e estudei lá. Mas costumava viajar para Campinas para ir ao cinema porque não tem em Bragança Paulista. O último filme que assisti foi “A Rede Social”. Hoje, me comunico com meus amigos pelas redes sociais por causa do câncer. Gosto muito de computador e tive boas notas na escola, mas nunca fui de passar o dia estudando. Gosto de exatas, mas adoro história e direito também. Vou aproveitar os próximos dois dias longe do hospital para decidir qual curso vou fazer: engenharia da computação, na Unicamp, ou direito, na USP. Não fiz cursinho. Meu pai é metalúrgico numa empresa que produz fechaduras para carros. Minha mãe tem 44 anos e é professora do ensino fundamental. Tenho uma irmã de 12 anos, a Isabela. Em Campinas, fico na casa de minha tia Cíntia. É aqui que vou recuperar quando não estiver internado. Fico feliz de poder incentivar outras pessoas com a doença, porque a vida continua. Tem o José Alencar [ex-vice-presidente] e outros famosos que superaram bem a doença. Se eles podem, porque eu não posso?