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09/06/2017 / Em: Clipping

 

Acompanhe a agenda dos vestibulares: Unicamp abre inscrições em Julho (Secretaria da Educação SP – Notícias – 09/06/2017)

O valor da taxa de inscrição não foi definido, mas a 1ª fase será realizada no dia 19 de novembro

Atenção alunas e alunos da rede, as inscrições para o Vestibular Unicamp 2018 terão início no dia 31 de julho. O prazo para se inscrever é de exatamente um mês, portanto até o dia 31 de agosto. O valor da taxa de inscrição ainda não foi definido, mas a primeira fase será realizada no dia 19 de novembro e a segunda fase acontecerá nos dias 14, 15 e 16 de janeiro de 2018. É importante lembrar que antes da primeira fase haverá provas de Habilidades Específicas para candidatos aos cursos de Música (no período de 11 a 18 de setembro – Etapa I e de 15 a 16 de outubro – Etapa II). Para os demais cursos que exigem provas específicas (Arquitetura e Urbanismo, Artes Cênicas, Artes Visuais e Dança), as provas de Habilidades Específicas ocorrerão no período de 22 a 25 de janeiro de 2018. As demais datas serão divulgadas em breve no sita da Comvest. Em reunião realizada no dia 7 de abril de 2017, na sede da Vunesp, em São Paulo, os responsáveis pelos Vestibulares da USP, Unesp, Unicamp, Unifesp, ITA, PUC-SP e PUC-Campinas estabeleceram o calendário dos principais eventos dos seus respectivos vestibulares, para facultar a participação dos candidatos interessados em mais de um processo seletivo.

 


 

Qual a cor da educação brasileira? (Folha de Pernambuco – Cotidiano – 09/06/2017)

A presença do negro na universidade é extremamente pequena, seja ela nos corpos estudantil ou docente. Um fato que ocorre mesmo que represente metade da população brasileira

No meio acadêmico, o negro brasileiro é numericamente sobrepujado. Mesmo que forme mais da metade da população. Sobretudo as mulheres negras, que somam o fator de preconceito relativo ao gênero, são menos presentes nas universidades. Nos corpos docentes, são difíceis de encontrar. O panorama, quando analisado de perto, revela um racismo que atravanca o protagonismo do negro enquanto sujeito político coletivo. A presença na universidade em desacordo com a quantidade populacional está intimamente ligada ao racismo – em especial os mais “sutis” – e à dificuldade de acesso. Antes do ingresso, a questão já é problematizada. Pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco, por exemplo, estão avaliando os livros utilizados no Ensino Médio das escolas públicas de todo o País e percebem o uso repetitivo das imagens que remete o negro ao estereótipo da escravidão. “Mesmo antes da conclusão do estudo, observamos uma reprodução clássica da história do negro nos livros do Programa Nacional do Livro Didático 2012”, comentou a doutora em História pela Sorbonne, Cibele Barbosa. “No segundo semestre deste ano, lançaremos um livro com um acervo de fotos que mostram o negro em diferentes setores da sociedade, normalmente invisibilizados.” As fotografias mostram, inclusive, homens negros diplomados ainda no século 19. A perspectiva apresentada nos livros de História afeta, primordialmente, a autoestima dos alunos afrodescendentes, que não se veem representados como atores dignos da formação nacional. “No século 17, todos andavam descalços. Mas Bernardo Vieira de Melo aparece nas ilustrações usando botas brancas e impecavelmente vestido. E os heróis negros com um pano de saco amarrado na cintura. O aluno vê sempre como inferior numa história distorcida e se coloca naquele lugar”, examinou o historiador e ativista do movimento negro Zezito Araújo. A interpretação de Zezito é mais impactante quando percebida na prática. Como na formação escolar de Weslley de Oliveira, 21, em que o esquecimento de um naco da História no material didático foi associado ao racismo. Ainda lhe submerge a lembrança de um comentário feito em sala de aula. “Fui associado aos escravos e me disseram que eu não tinha alma, como se dizia deles. Eu realmente achava que era inferior naquele ambiente. Eu perguntava ‘porque tem que ser assim?’”, relatou. “A gente se sente intimidado porque sempre nos veem como se fôssemos incapazes de acompanhar o assunto. A gente percebe nos olhares. E aí, temos que nos esforçar o dobro ou triplo para sermos vistos, nos sobressairmos, para sermos encarados como iguais. Estamos sempre puxando força de onde nem sempre tem.” Atualmente, Weslley cursa o último período do curso de comunicação na Universidade Católica de Pernambuco. Da sala formada por mais de 50 colegas, só 8% tem a pele escura. Os outros negros, que deveriam estar lá, com ele, ficaram pelo caminho. Ele atribui a ausência ao processo histórico e à perspectiva de eugenia, ainda por ser quebrada no País. “Eu me sinto gratificado em estar onde poucos negros podem. Sinto ainda como estivesse abrindo as portas para os próximos”, revelou. É um privilégio porque só quando cheguei à universidade é que estudei os negros que fizeram a diferença. E um mundo se abriu para mim. Aqui, nunca sofri o racismo tão frequente na época do colégio.”

Onde elas podem estar?

Olhando o corpo docente do Departamento de Educação da UFRN, composto por mais de 100 pessoas, vê-se apenas duas mulheres negras. Ambas são do Rio de Janeiro. A pedagoga Alessandra Nascimento analisou a trajetória das duas e encontrou barreiras que impedem o ingresso e são compartilhadas pela totalidade delas. Às questões relatadas por Weslley, o machismo se associa. “O gênero e a raça propiciam uma realidade dura para elas. E a maioria dessa população vai ser pobre. O caminho é sempre dificultado. Não se chega fácil na escola e, lá, ela não vai ser reconhecida por essa organização. Ela não é acreditada e não acredita nela mesma”, comentou a socioeducadora. Professora de Psicologia da Faculdade Estácio, Maria de Jesus Moura conhece os obstáculos. “Em estados como o Rio de Janeiro e a Bahia, já há uma postura diferente dessas mulheres. Você vê como elas andam nas ruas. Trajam vestes africanas, exibem cabelos crespos. Esse empoderamento cria força para quando as barreiras se fecham. Quando se é preterido pela cor, por exemplo, ela já sabe que não há algo errado com ela”, comentou. Segundo a professora, é preciso não ser tímido e aparecer com a própria competência quando se é negro, caso se queira ser levado em consideração. Não basta ser bom: tem que ser o melhor. “Ao mesmo tempo lhe diminuem, fazem bullying e isso muitas vezes tem o poder de lhe tornar uma pessoa isolada, introspectiva. O sistema está, então, formado para lhe paralisar.” No caso específico de Jesus Moura, o pilar bem estruturado da família, que sempre lhe apoiava, e a classe social, ajudou-lhe a enfrentar os obstáculos. “É assim que o racismo dita o lugar de cada pessoa. Ele diz onde é lugar de negro e onde não é.” Hoje, é a única assumidamente negra do corpo do Departamento de Psicologia. Não é surpresa a pouca presença. Em todas as universidades, na maioria dos departamentos, principalmente fora da área das Ciências Humanas, o número de mulheres afrodescendente é zero. “Em geral, a maioria de nós para no Ensino Médio. Mas, com a facilitação do acesso com cotas e políticas públicas, um número maior que antes chega na universidade. Só que, para ensinar, é exigida pós-graduação. E aí, por outras necessidades, elas não seguem”, examinou. “Piora ainda porque, quem consegue se doutorar, por exemplo, é preterido. É preciso realmente sobressair para ser reconhecido.”

Ingresso

De acordo com o professor de Sociologia da UFPE Francisco Jatobá, as cotas foram aplicadas no País como sinônimo de ação de afirmação. Mas não pode ser só isso. “Desde a lei de cotas aplicada às universidades federais, em 2012, tenho visto uma outra configuração nas salas de aula. É preciso dar apoio para que os cotistas continuem a estudar e terminem a graduação. As bolsas na Universidade Federal sofreram um amplo corte.” Em Pernambuco, a UPE adota a cota social com a raça como terceiro critério de desempate (o segundo é objetivo em relação à prova). “Minha tese de doutorado analisou que os cursos de alto prestígio oferecidos no Recife como Medicina, Odontologia e Administração, tinham menos cotistas que os do Interior, as licenciaturas. E, em geral, a maioria dos cotistas são negros. Mas nos cursos de alto prestígio, o número de negros entre cotistas é menor.”

 


As 15 universidades brasileiras mais respeitadas no mundo (Exame – Carreira – 09/06/2017)

Ranking global da conceituada consultoria QS coloca a USP no top 150 do planeta. Confira a lista com as brasileiras mais bem avaliadas

Como tem sido ao longo dos anos o ranking de universidades publicado pela consultoria QS coloca a Universidade de São Paulo (USP) em primeiro lugar entre as brasileiras ranqueadas. A melhor colocação de uma instituição brasileira, na 121ª posição, fica, no entanto, distante do top 10 da lista, que traz o prestigiado MIT em primeiro lugar. O ranking publicado anualmente leva em conta a reputação acadêmica (40% da nota), o prestígio entre os recrutadores (10% da nota), a proporção de professores por aluno (20% da nota), número de citações de pesquisas (20% da nota) e a internacionalização (5% da nota). Confira quais, além da USP, são as 14 melhores instituições de ensino, de acordo com a lista de 2018 da QS. (A lista completa com todas as universidades está no site da consultoria) Confira: As 100 melhores e piores instituições de ensino superior

  1. Universidade de São Paulo
  2. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
  3. Universidade Federal do Rio de Janeiro
  4. Universidade Estadual Paulista (Unesp)
  5. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
  6. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
  7. Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
  8. Universidade Federal do Rio Grande Do Sul (UFRGS)
  9. Universidade Federal de Minas Gerais
  10. Universidade de Brasília
  11. Universidade Federal de São Carlos
  12. Universidade Federal de Santa Catarina
  13. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
  14. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
  15. Universidade Estadual de Londrina (UEL)

 


Unicamp sobe em ranking mundial de universidades pelo 5º ano consecutivo (G1 – Campinas e Região – 08/06/2017)

Ela avançou 46 lugares e agora está na 182ª posição, na lista que engloba as 959 melhores instituições.

A Unicamp subiu no ranking mundial de universidades elaborado pela consultoria Quacquarelli Symonds (QS) pelo quinto ano consecutivo. Ela avançou 46 lugares e agora está na 182ª posição, na lista que engloba as 959 melhores instituições de ensino. O relatório foi divulgado na quarta-feira (8). Segundo a universidade, entre as instituições brasileiras, a Unicamp aparece atrás apenas da Universidade de São Paulo (USP), que ocupa a 121ª posição. Já a Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está em 311, seguida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), que entra na categoria 491-500. Em 2012/2013, a Unicamp ocupava a posição 228 no ranking. A universidade informou também que a Unicamp mantém a 12ª posição do BRICS – bloco das chamadas “economias emergentes”. O ranking teve a última edição divulgada em julho de 2016 e classifica 250 instituições do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Ranking QS

O QS World University Rankings reúne dados sobre mais de 4 mil universidades de todo o mundo e tem como base seis indicadores: reputação acadêmica (peso de 40%); reputação no mercado de trabalho (10%); taxa de professores por aluno (20%); taxa de citações por pesquisador (20%); proporção de estudantes estrangeiros (5%) e proporção de professores estrangeiros (5%).

 


Meritocracia é discurso para manter a desigualdade social e racial, revela historiador (Carta Campinas – Geral – 08/06/2017)

O historiador e professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Sidney Chalhoub (foto), que também é docente do Departamento de História da Universidade de Harvard (EUA), nocauteou o discurso meritocrático, além de mostrar o que ele realmente pretende: manter e reproduzir a desigualdade social e racial. Chalhoub também lembrou que o Brasil, veja que incrível, já teve adoção de política de ação afirmativa para brancos europeus e seus descendentes, durante a imigração do final do século XIX. O historiador concedeu entrevista esclarecedora ao jornalista Manuel Alves Filho do Jornal da Unicamp, após a polêmica causada pela aprovação de cotas étnico-raciais na Unicamp. Na entrevista, Chalhoub expõe como se esconde sob o manto da meritocracia o desejo da reprodução eterna da desigualdade, assim como um pensamento escravocrata. Para entender isso, o professor questiona a ideia da meritocracia como um valor abstrato universal, que justifique a existência de alguma medida comum da aptidão e de inteligência da humanidade.”Fica parecendo que a meritocracia partiu de uma definição abstrata, excluída das circunstâncias sociais e materiais de vida das pessoas”, diz. Na universidade, diz o historiador, não é possível que todos os candidatos entrem em competição pelas vagas como se tivesse havido uma igualdade ideal de oportunidade entre eles. “Não se pode fazer com que o aluno negro, pobre e que estudou numa escola pública localizada na periferia de Campinas concorra em igualdade de condições numa prova padronizada com alunos cujos pais cursaram universidade, têm alto poder aquisitivo e tem alto acesso ao capital simbólico. É preciso que a universidade busque equilibrar essa disputa“, afirma. Desse modo, continua o professor, quando há reserva de vagas para negros e pessoas de baixa renda, a competição se dá entre eles, entre iguais. Então, não há exclusão do mérito. É uma maneira de ter o mérito qualificado pelas condições sociais e econômicas dos candidatos, e não uma competição que exclui alguns segmentos da sociedade desde sempre. “A ideia da meritocracia como valor universal, fora das condições sociais e históricas que marcam a sociedade brasileira, é um mito que serve à reprodução eterna das desigualdades sociais e raciais que caracterizam a nossa sociedade. Portanto, a meritocracia é um mito que precisa ser combatido tanto na teoria quanto na prática. Não existe nada que justifique essa meritocracia darwinista, que é a lei da sobrevivência do mais forte e que promove constantemente a exclusão de setores da sociedade brasileira. Isso não pode continuar”, explicou.

Veja outras explicações do professor que anulam completamente o falso discurso meritocrático:

“A partir das experiências das universidades estaduais e federais, houve o entendimento de que a diversidade do corpo discente contribui para a qualidade acadêmica e para a produção de conhecimento nas universidades. Os que têm medo das cotas são os setores que têm tido acesso às universidades públicas e gratuitas como uma prerrogativa sua, de muitas décadas. São pessoas que vão a escolas particulares porque têm maior poder aquisitivo e que defendem a exclusividade de acesso à universidade pública, gratuita e de qualidade. Esta é uma distorção grande na sociedade brasileira”

“A resistência às cotas é mais barulhenta que generalizada. O país convive bem com a ideia das cotas. O engajamento dos estudantes da Unicamp em geral mostra a receptividade à ideia. As pesquisas de opinião mostram que a maior parte da população brasileira é favorável às políticas de ação afirmativa e o próprio Supremo Tribunal Federal aprovou por unanimidade a necessidade dessas políticas para combater o racismo e as consequências dele na sociedade brasileira”.

“O tema está longe de ser uma originalidade brasileira. As melhores universidades do mundo, aquelas que a própria Unicamp utiliza como referência para qualificar suas atividades, adotam a diversidade no ingresso dos estudantes há bastante tempo. Harvard, Yale e Columbia, para ficar em três exemplos, adotam políticas agressivas de promoção da diversidade do corpo discente. Não fazer isso deixaria a Unicamp na contramão da história.”

“Enquanto a universidade existe como prerrogativa de uma mesma classe social, de uma mesma raça e dos mesmos setores, ela não se abre ao tipo de questionamento e de tensões que são criativas, oriundas da necessidade da convivência de grupos sociais e raciais com perspectivas diferentes.”

“Na prática, todas as pesquisas existentes demonstram claramente que o desempenho dos estudantes cotistas é igual ou superior ao desempenho dos não cotistas nas universidades estaduais e federais que adotaram esse tipo de política afirmativa. Isso é fácil de entender.”

“Ao contrário da propaganda maldosa que se faz, a adoção de cotas não tem nada a ver com a exclusão do mérito. Tem a ver com a utilização de critérios de seleção que promovam a competição entre estudantes que tiveram oportunidades educacionais semelhantes até o momento em que se candidatam ao ingresso na universidade. Dessa forma, os estudantes negros e indígenas que serão selecionados representarão uma fração dos que postularam uma vaga na universidade. Serão, portanto, os melhores entre eles.”

“A universidade evidentemente tem o desafio de lidar com eventuais dificuldades que existam entre os estudantes de modo geral. Tanto as dificuldades de origem socioeconômica quanto as acadêmicas e pedagógicas”.

“Esses novos sujeitos que ingressam na universidade representam um deslocamento importante de negros, indígenas e populações pobres, que são objeto de estudos da academia, mas que raramente têm a oportunidade de se tornarem sujeitos do conhecimento. Isso também é uma experiência fundamental e epistemológica. Isso descentraliza o conhecimento e permite que perspectivas diferentes passem a fazer parte do cenário das universidades.”

“Um contingente formado por 750 mil africanos foi trazido ao Brasil ilegalmente, em condições desumanas. Esses negros foram escravizados e seus descendentes também. Além disso, a formação da grande propriedade cafeicultora ocorreu através de invasão das terras. Trabalho e terras foram obtidos pela classe dominante ao arrepio da lei. Portanto, a reparação é uma questão que deve ser levada a sério”.

“No caso de São Paulo, também se adotou políticas afirmativas em favor de imigrantes. No final do Século XIX, foram adotadas políticas para subsidiar a imigração de europeus brancos, italianos inicialmente. A vinda desses imigrantes era subsidiada pelo tesouro da Província de São Paulo e depois pelo Estado de São Paulo, o que favoreceu a adaptação dessas pessoas ao país. Tratou-se de uma política de inclusão social que jamais existiu para a população negra até recentemente. Portanto, já houve no Brasil a adoção de política de ação afirmativa para brancos europeus e seus descendentes. Dessa maneira, não há nada demais que se veja como reparação as políticas de cotas para negros e indígenas.”

“No caso da população negra, quando houve uma aceleração no processo de emancipação escrava, nas duas últimas décadas da escravidão, ocorreu uma mudança na lei eleitoral, em 1881, que proibiu o voto de analfabetos, o que não existia antes. Isso, numa situação em que não havia escola primária para negros. Devido à falta de acesso à instrução, nas primeiras décadas após a emancipação, a população negra ficou excluída da política formal.”

“Esse foi outro movimento importante de desvantagem dessa população na luta por direitos na história do país. Eu entendo que as pessoas esbravejem quando perdem privilégios. Mas as razões históricas, sociais e filosóficas em favor das cotas justificam plenamente a medida. Não há futuro possível com esse perfil de desigualdade se reproduzindo ao longo do tempo. É uma missão de todos superar essa desigualdade.”

“A escravidão foi, insisto, a pedra de toque da formação do Estado nacional. A corrupção é capilar na sociedade brasileira e essa capilaridade esteve ligada à própria escravidão no Século XIX

 


 

‘The Guardian’: Escândalo de cotas universitárias expõe tensões raciais históricas do Brasil (Jornal do Brasil – País – 08/06/2017)

A Suprema Corte do Brasil está se preparando para se pronunciar sobre uma lei de 2014 sobre as cotas raciais no que se refere ao aumento do abuso de sistemas de quotas – o que levou até um departamento do governo a elaborar uma lista de verificação para avaliar as características faciais dos candidatos. Nesta quinta-feira (8) o jornal jornal britânico The Guardian publicou um longo artigo sobre o assunto. No final do ano passado, Fernando recebeu notícias que temia por meses: ele e 23 de seus colegas de classe foram expulsos da faculdade. A expulsão tornou-se notícia nacional no Brasil. Fernando e seus colegas de classe talvez não tenham sido nomeados publicamente (“Fernando”, de fato, é um pseudônimo), mas eles foram vilipendiados como um grupo. A manchete gerida pela revista semanal CartaCapital – “Estudantes brancos expulsos da universidade por fraudar sistema de quotas” – deixa claro por quê. Mas o título se choca com a forma com que Fernando se vê. Ele se identifica como pardo, ou marrom: uma pessoa de raça mista com ascendência negra. Sua família lutou com a discriminação, diz ele, desde que seu avô branco se casou com sua avó negra. “Meu avô foi acusado de sujar o sangue da família”, e posteriormente foi cortado de uma herança, explica Fernando. Então, quando se candidatou a um programa médico de prestígio na Universidade Federal de Pelotas, no sul do Brasil, aproveitou a legislação recente que reservou lugares para estudantes negros, pardos e indígenas em todas as instituições públicas do país. Enquanto as políticas de quota foram introduzidas nas universidades dos EUA na década de 1970, o Brasil não começou a experimentar o conceito até 2001, em parte porque a ação colidiu frontalmente com uma característica definidora da identidade brasileira. Durante grande parte do século 20, líderes políticos e intelectuais promoveram a ideia de que o Brasil era uma “democracia racial”, cuja história contrastava favoravelmente com a segregação e violência forçada do Estado com Jim Crow America e o apartheid da África do Sul. A “democracia racial”, um termo popularizado pelos antropólogos na década de 1940, tem sido uma fonte de orgulho entre os brasileiros. À medida que os grupos de ativistas negros do país argumentaram há décadas, também é um mito. A horrível história de escravidão do Brasil – 5,5 milhões de africanos foram transportados à força para o Brasil, em comparação com os menos de 500 mil trazidos para a América – e seu legado atual exigiu reconhecimento legal, disseram eles. E quase duas décadas atrás, esses ativistas começaram a se aproximar da forma de cotas baseadas em raça nas universidades. Para os ativistas negros do Brasil, no entanto, a violação da cegueira de cor não oficial do país também foi acompanhada de suspeitas sobre a fraude racial. Mas em um país tão singular como o Brasil – onde 43% dos cidadãos se identificam como mestiços e 30% daqueles que se consideram brancos têm antepassados negros – não é muito claro onde a linha entre raças deve ser desenhada, nem quem deveria desenhá-lo, e usando os critérios. Essas questões agora engoliram os camus universitários, o setor público e os tribunais. Alguns meses depois, os membros da Setorial Negro em Pelotas tomaram sua sugestão. Eles apresentaram uma ação judicial contra Fernando e outros 26 estudantes de medicina aparentemente brancos – um processo que levou a que 24 fossem expulsos do campus em dezembro, ganhando ativistas negros em todo o país a maior vitória do ano. Pelo menos três escolas – incluindo a Universidade Federal de Pelotas, ou a UFPel, como a escola é comumente conhecida – instalaram “placas” controversas para inspecionar futuros candidatos a cotas. Vários outros estão pensando em fazer o mesmo. É possível que tais painéis eventualmente sejam codificados em lei. O que já é claro é que a ação afirmativa, como estratégia para a igualdade racial, provocou um incômodo no Brasil, resolvendo certos dilemas raciais e criando novos. “Ele dividiu nosso programa”, admite Marlon Deleon, um estudante de medicina negro do segundo semestre da UFPel, que se inscreveu no sistema de quotas raciais da universidade e informou pessoalmente um colega de classe que fez o mesmo. (Deleon o descreve como “flagrantemente branco e loiro”). “Muitos estudantes pensaram nisso como uma nova inquisição, uma caça às bruxas”, lembra Deleon. “Mas muitos de nós achavam que era o certo”.

Aparência, não ascendência

Os Estados Unidos forneceram ao Brasil o plano mais direto para a ação afirmativa. Mas as histórias divergentes dos dois países os deixaram com entendimentos distintos da raça. Em um ponto ou outro, 41 estados dos EUA tinham leis que proibiam o casamento inter-racial – 17 deles há apenas 50 anos atrás. Enquanto isso, a raça foi codificada em leis determinando que mesmo uma gota de ascendência africana tornava uma pessoa legalmente negra. Ao contrário dos Estados Unidos, a “miscigenação” desempenhou um papel fundamental na construção da nação brasileira. Os colonos brancos distorciam-se fortemente do sexo masculino, e eles eram muito superados em número por pessoas de cor. As relações entre os colonizadores brancos e as mulheres indígenas – e as mulheres escravizadas no passado, não eram apenas aceitas, mas encorajadas pelas autoridades coloniais (embora, para as mulheres, raras vezes fossem consensuais). Em 1872, os brancos constituíam apenas 38% da população.