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09/12/2013 / Em: Clipping

 


Cidades pequenas dominam ‘ranking’ de campeões em matemática   (Globo.Com – G1 Vestibular – 09/12/13)

Ranking divulgado pelo Instituto Nacional de Matemática Pura Aplicada (Impa) mostra que as cidades do interior do Brasil, com menos de 10 mil habitantes, são as que tiveram melhor desempenho em nove anos da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Para chegar ao índice de desempenho, o Impa, organizador da Obmep, dividiu o total de pontos acumulados nas premiações durante os nove anos pelo número de alunos classificados para as segundas fases da competição. Assim, cada cidade recebeu uma nota (veja lista abaixo dos 20 melhores munícipios).  O resultado da última edição da Obmep foi divulgado em 30 de novembro. Seis mil estudantes em todo o país receberam medalhas. Professores, escolas e secretarias de educação também são premiados com base no desempenho dos respectivos alunos. Na quarta-feira, o G1 publicou uma reportagem sobre dez escolas públicas que têm resultados acima da média em matemática na Prova Brasil. Só uma delas é localizada em uma cidade considerada grande – Joinville (SC). Dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2012, divulgados na terça-feira (3), apontam que o Brasil melhorou no conhecimento da disciplina, mas ainda tem muito a avançar. O país ficou em 58º lugar entre 65 nações no ensino de matemática.



Brasil investe metade do recomendado pela OCDE para o ensino básico   (Terra – Vestibular – 08/12/13)

O Brasil deve aumentar os investimentos na educação básica para melhorar também o ensino, analisa o diretor de Educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Andreas Schleicher. Dados coletados pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2012 mostram que o País investe em média US$ 26.765 por estudante entre 6 e 15 anos. Um terço da média dos demais países da OCDE, US$ 83.382. E pouco mais da metade do que o OCDE considera como investimento mínimo por aluno, US$ 50 mil. Representantes do governo reconhecem que é preciso fazer mais e em ritmo acelerado. “Quando se investe US$ 50 mil por aluno, o dinheiro não importa mais, deixa de ser uma questão limitante para o desempenho do estudante”, diz o diretor da OCDE. Segundo o relatório do Pisa divulgado na última semana, o Brasil ocupa o 58º lugar em matemática, o 55º lugar em leitura e o 59º em ciências em um ranking de 65 países. A prova é aplicada a cada três anos pela organização e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos. A cada ano, o relatório tem uma área como foco. Em 2012, o destaque foi para matemática. Schleicher diz que o investimento deve aumentar, mas atribui a nota do Brasil também à falta de equidade na distribuição dos recursos. Caso todas as escolas tivessem as mesmas condições de aprendizagem e todos os estudantes cursassem a série adequada para a idade (como 15 anos na 1ª série do ensino médio), o Brasil poderia chegar aos 460 pontos na avaliação, com o mesmo investimento atual. A pontuação atual é 391.​



Três instituições de Campinas têm nota máxima em avaliação  (Correio Popular – Cidades – 07/12/13)

A Faculdade São Leopoldo Mandic e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) são as duas melhores instituições de ensino superior da Região Metropolitana de Campinas (RMC), alcançando o conceito máximo do Índice Geral de Cursos (IGC) 2012, divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC). A São Leopoldo Mandic teve 4,67 pontos, ficando na terceira colocação do País, e em primeiro na área de Saúde. A Unicamp alcançou 4,18, 12ª melhor posição no ranking nacional. A Faculdade de Administração de Empresas da Facamp recebeu nota 3,97, também enquadrada no melhor conceito. A avaliação é dividida em faixas de 1 a 5, sendo as notas obtidas pelas três instituições campineiras incluídas na última (considerada na faixa entre as notas 3,95 a 5). As melhores em pontuação individual no País foram a Escola de Economia de São Paulo (4,88) e Escola Brasileira de Economia e Finanças (4,84). O IGC avalia a qualidade de instituições de educação superior e considera, em sua composição, a qualidade dos cursos de graduação e de pós-graduação (mestrado e doutorado). Para a avaliação dos cursos de graduação é utilizado o Conceito Preliminar de Curso (CPC), que engloba o desempenho dos alunos no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), formação do corpo docente e infraestrutura. Já a nota dos cursos de pós-graduação considera a Nota Capes. O IGC é composto pelo resultado do último triênio, portanto, o índice de 2012 leva em conta os resultados de 2009, 2010 e 2011.Das 35 instituições de ensino da região avaliadas pelo MEC, 31 tiveram nota entre dois e cinco. As únicas que tiveram avaliação abaixo de dois, foram Faculdade Sumaré (1,98), Faculdade Fleming (1,90), Instituto de Educação e Ensino Superior de Campinas (1,89) e Faculdade de Vinhedo (1,87).“A região de Campinas é economicamente privilegiada e acaba absorvendo boas instituições de ensino. A São Leopoldo Mandic tem primado pela qualidade de ensino que oferece, enquanto a Unicamp possui mais de 40 anos de tradição de conhecimento de ponta”, avalia Angela Soligo, doutora em psicologia pela PUC-Campinas e professorada Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para o diretor-geral da São Leopoldo Mandic, José Luiz Cintra Junqueira, o resultado é reflexo da estrutura, corpo docente e sistema de ensino oferecido pela Faculdade. “É uma somatória de todos os itens. Temos um professor para cada dois alunos, todos com doutorado, as instalações são altamente tecnológicas, nossos cursos são integrais e trabalhamos com esquema análogo ao de Harvard e Stanford (universidades tradicionais dos Estados Unidos)”, destaca Junqueira. “Estamos muito felizes com o resultado e posso dizer que estar entre as dez melhores instituições de ensino superior do País é uma meta que perseguimos diariamente. E pelo sexto ano consecutivo ficamos em primeiro lugar entre as instituições da área da Saúde”, completa.

Os meninos de ouro da matemática (Correio Popular – Cidades – 07/12/13)

Dois estudantes campineiros recebem hoje medalha de ouro da Olimpíada de Matemática da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), realizada pelo Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imecc). O estudante campineiro Gabriel Shen Baldon, de 14 anos, aluno do Instituto Lumen Verbi de Educação e Cultura, de Paulínia, alcançou a maior pontuação entre os 1.313 candidatos do País inteiro que participaram da prova nível alfa, voltada para os estudantes do 8º e do 9º ano. Já o estudante André de Almeida Pinto, aluno do Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca) foi ouro no nível beta, voltado para os estudantes do Ensino Médio. Ele obteve a melhor classificação entre os 1.634 inscritos. A olimpíada tem o objetivo de estimular o estudo da matemática entre os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e do nível Médio das escolas públicas e privadas, e contribuir para melhorar o ensino da disciplina. A prova é realizada em três fases: na primeira, é enviada para as escolas inscritas, que têm um professor responsável pela aplicação e correção das provas. A segunda e a terceira fases são realizadas na Unicamp. Os estudantes passaram pelas etapas com sucesso e recebem às 9h de hoje a medalha na cerimônia de premiação da 29ª edição da olimpíada. Gabriel Shen Baldon praticamente gabaritou a prova. Dos 120 pontos, ele alcançou 116,  considerada a melhor classificação do concurso. Ele conta que participou no ano passado, mas conseguiu fazer apenas metade da prova. Mesmo assim, não desistiu de participar este ano. “Estudei um pouco mais por minha conta e tive duas aulas de matemática extras voltadas para a prova, assim como todos os alunos da escola que passaram para a segunda fase este ano”, disse. Ele esperava receber uma medalha, mas não imaginava que faria a melhor pontuação. “Achava que ia tirar mais que no ano passado, mas não tanto.  ”A boa colocação, é motivo de orgulho para a mãe de Gabriel, Shen Hung Te Baldon, e para o pai, Darcy Baldon Filho. “Recebemos com muita alegria e uma satisfação enorme. Quando fui procurar o resultado, olhei duas vezes porque não vi que o nome dele estava no topo da lista”, diz Shen. Ela conta que o pai foi um dos grandes responsáveis pelo sucesso do filho. “Sempre o levou para assistir aulas na Unicamp junto com ele. ”O diretor pedagógico do Lúmen Verbi, Marcos Mattis, dizque o resultado de Gabriel também encheu a escola de orgulho.  “Nós trabalhamos para que todos os alunos atinjam a excelência. Gabriel está conosco desde pequenininho. ”O estudante André de Almeida Pinto, o outro ouro da matemática,foi procurado para comentara premiação na olímpiada,  mas não foi localizado.



Desastre educacional   (Folha de S.Paulo – Editorial – 09/12/13)

Saiu mais um Pisa, o teste internacional que avalia alunos de 15 e 16 anos em várias áreas, e o Brasil segue na rabeira. Os países que participam do exame são 65. Ficamos na 55ª posição em leitura, 58ª em matemática e 59ª em ciência. É verdade que melhoramos em matemática, mas estamos falando de um avanço da ordem de 10% em quase uma década. Nesse ritmo, levaríamos 26 anos para atingir a média dos países ricos e 57 para alcançar os chineses. Isso, é claro, no falso pressuposto de que os outros ficarão parados. Em leitura e ciência, a evolução foi ainda mais modesta. Infelizmente, não será muito fácil mudar o quadro. O governo acena com os recursos do pré-sal como salvação da lavoura. É claro que mais dinheiro ajuda, mas está longe de ser uma garantia de sucesso. Na verdade, nosso sistema é hoje tão pouco funcional que jogar mais verbas nele será, acima de tudo, uma ótima maneira de desperdiçá-las.  Sem um plano coerente de como aplicar os recursos, os avanços tendem a ser mínimos. Um de nossos principais problemas é que não conseguimos recrutar bons professores –os países campeões do Pisa selecionam seus mestres entre os melhores alunos das faculdades; nós nos contentamos com os piores.  Mesmo que, numa rápida e improvável inversão de rumo, passássemos a contratar a elite, levaria um bom tempo até que o efeito se espalhasse pela rede, que conta hoje com mais de 2 milhões de docentes.  Isso significa que precisamos encontrar um meio de progredir com o que temos. Minha impressão é a de que o caminho passa por estabelecer um currículo detalhado e ensinar o professor exatamente o que ele deve dizer em cada aula aos alunos. Sim, estamos falando de sistemas massificados, daqueles que inibem a criatividade e outras coisas que os pedagogos não gostam, mas não vejo muita alternativa. Afinal, estamos há muito tempo fracassando no básico.

Vai-se uma geração  (Folha de S.Paulo – Editorial – 08/12/13)

O Brasil melhora, mas não dá saltos. A frase, válida para diversos aspectos do desenvolvimento nacional, aplica-se ao resultado do país no mais reputado exame internacional de estudantes. A edição de 2012 do chamado Pisa confirmou a tendência evolutiva dos adolescentes brasileiros, em especial na matemática, seu flanco mais vulnerável.  A cada três anos, o exame patrocinado pela OCDE –grupo de 34 nações, em sua maior parte desenvolvidas– testa a proficiência em matemática, leitura e ciências de alunos de 15 anos de idade. Também oferecida a países como o Brasil, que não integram a organização, a prova respeita padrões de comparabilidade e de amostragem estatística, de modo a representar a região onde é aplicada.  Ao longo dos quatro últimos exames, a partir de 2003, o Brasil foi o país que mais pontos ganhou em matemática. Sua nota média subiu de 356 para 391. No mesmo período, a Coreia do Sul, no topo do desempenho, ganhou dois pontos, chegando a 554. Na escala do Pisa, cada 40 pontos representam o equivalente a um ano de conhecimento adquirido. Vê-se assim traduzido, mesmo após o avanço relativo de nossos adolescentes, o abismo que ainda separa brasileiros de coreanos, equivalente a quatro anos de atraso em desfavor dos primeiros. Dos EUA –cujo desempenho em matemática ficou perto da média dos 19 países mais populosos que participaram do exame– o Brasil dista 90 pontos, mais de dois anos atrás em nível de conhecimento das contas para a mesma faixa etária. Em relação à brilhante média da Polônia, fenômeno educacional a ser estudado, a nota dos brasileiros fica 117 pontos abaixo, quase três anos de defasagem. Além da diferença para outros países, destacam-se as disparidades de desempenho entre as regiões brasileiras. Um aluno de São Paulo está um ano e meio à frente, no domínio da matemática, de um estudante de Alagoas. Nove Estados brasileiros (AL, MA, AM, AC, PA, AP, RR, PE e TO) obtiveram as piores médias em matemática, considerados mais de 180 países e regiões representados no Pisa. Estudar numa escola particular no Brasil coincide com uma vantagem superior a dois anos de escolarização em matemática, na comparação com a rede pública. Ainda que essa distância tenha diminuído 27% em nove anos, prenúncio pior de resiliência da desigualdade social é difícil de encontrar. O choque educacional de que o Brasil precisa para catalisar uma evolução quase inercialmente positiva ainda não foi desfechado. Ele tarda. A cada 12 anos, vai-se uma geração de estudantes.

Vinicius Mota

220 dias, 7 horas   (Folha de S.Paulo – Opinião – 09/12/13)

Entre colocar o filho numa escola particular ou numa pública, pais brasileiros deveriam optar pela primeira. Ainda que a mensalidade soe baixa para sustentar a qualidade do ensino. Ainda que os professores não pareçam melhores que os da instituição pública vizinha.  Na escola particular, é maior a probabilidade de o aluno receber todas as aulas obrigatórias, e de modo contínuo, ao longo do ano. Na pública, sujeita a greves e a um volume significativo de faltas dos mestres, ele não terá a mesma garantia. O tempo de exposição ao aprendizado é decisivo no desempenho dos alunos. Associa-se a esse fator boa parte do atraso do Brasil em relação a outros países, novamente verificado no Pisa, exame internacional promovido pela OCDE. Quem está à nossa frente em geral oferece às crianças muito mais horas de instrução. Nações com 220 dias letivos e jornada de sete horas diárias propiciam aos alunos, ao longo de um ano, uma carga de aulas que é quase o dobro da brasileira. No final dos 12 anos do ciclo básico, aqueles estrangeiros terão o equivalente a 11 anos a mais de exposição ao aprendizado. O simples aumento da carga brasileira de 200 para 220 dias letivos seria o mesmo que adicionar mais de um ano ao ensino básico de hoje. Se, além disso, houver o acréscimo de uma hora às quatro mínimas atuais, o resultado seria equivalente a quatro anos e meio a mais de instrução.  Por uma conjunção de fatores, o gasto público por aluno tende a aumentar nos próximos anos. A demografia já não entrega tantas crianças às escolas. O dispêndio mínimo em educação está fixado em lei. Uma nova vinculação, desta vez às receitas do petróleo, está a caminho. Aproveitar essa oportunidade para financiar o aumento da carga de ensino seria uma escolha sábia. Que nossas crianças tenham direito a 220 dias de aula por ano, e a sete horas por dia de instrução.

Entrevista da 2ª – Amanda Ripley

Na educação, Brasil tem motivos para celebrar e para se preocupar   (Folha de S.Paulo – Poder – 09/12/13)

Ao topar com um gráfico comparativo da evolução educacional em 15 países ricos, a jornalista dos EUA Amanda Ripley, 39, viu sem surpresa, que, em meio século, quase nada mudou no desempenho medíocre dos alunos da nação mais rica do mundo. Mas lhe serviu como revelação a melhora apresentada em lugares como Finlândia e Coreia do Sul em apenas uma década.  Ripley decidiu, então, acompanhar alunos americanos de intercâmbio em três países bem avaliados no Pisa –reputado teste internacional de desempenho de alunos entre 15 e 16 anos em matemática, leitura e ciências. Do mais recente participaram de 65 países, com o Brasil nas últimas colocações.  Na Finlândia, a jornalista encontrou crianças que “alcançam alto grau de pensamento sem competição excessiva ou interferência paterna”. O contrário da “panela de pressão” sul-coreana, onde as jornadas escolares já tiveram 16 horas. Na Polônia, o fim do comunismo criou uma escola mais rigorosa, porém estimulante.  As conclusões estão no recém-lançado “The Smartest Kids in the World” (As crianças mais inteligentes do mundo, em tradução livre), que está na lista dos cem livros “notáveis” deste ano do “New York Times”. O lançamento no Brasil será em 2014. Confira trechos da entrevista concedida à Folha, por telefone.

FOLHA – A sra. diz que o Pisa é um bom método de avaliar o pensamento crítico. O que isso significa do ponto de vista educacional?

Amanda Ripley
– Eu mesma fiz o teste enquanto escrevia o livro. Ele requer mais pensamento do que qualquer outro teste padronizado que conheço. Exige que um problema do mundo real seja traduzido em termos matemáticos. Que você critique um trecho de leitura e diga como ele pode ser melhorado. É uma avaliação com base na qualidade do argumento.

A partir do Pisa, a sra. escolheu visitar três países bem diferentes entre si. O que eles têm em comum?

Acompanhei três adolescentes americanos, de Estados diferentes, e que foram a três países muito diferentes também. Todos notaram que as crianças desses países levam a escola mais a sério do que nos EUA –justamente pela escola ali ser mais séria. O trabalho que fazem é mais desafiador, os professores são mais bem treinados e o foco é no aprendizado. Nos EUA e em outros países está menos claro para que a escola serve. Entrevistei centenas de alunos de intercâmbio nos EUA, e 90% disseram que as escola americana era mais fácil. Disseram ainda que havia mais tecnologia, o que é importante apenas na medida em que há muito investimento nessa área no país, e é preciso um retorno. Porém, ter iPads em sala de aula não leva necessariamente ao aprendizado.

Qual é a importância do professor?

Anos de pesquisa têm mostrado o que, no fundo, já sabíamos: o professor é o fator intraescolar mais importante na educação. Alguns países concentram toda a energia no recrutamento, treinamento e aprimoramento dos professores. Esses países são poucos e distantes entre si, mas parecem ter sistemas mais justos, com crianças mais inteligentes.

Uma de suas conclusões otimistas é que o sistema educacional pode mudar rapidamente. Isso é verdade mesmo em países grandes?

Acho que sim. Escrevi este livro porque as mudanças são muito estimulantes. É muito encorajador ver países grandes e complexos, como Polônia, Canadá e mesmo partes da China melhorarem dramaticamente o que as crianças podem fazer em dez anos, que não é um período muito longo. Mesmo nos EUA, há dois Estados, Massachusetts e Minnesota, onde nossa performance é de muito alto nível em comparação com o resto do mundo.

No Brasil, o governo comemorou ter sido o que mais avançou em matemática desde 2003, mas o país continua nas últimas posições. Há mais motivos para celebrar ou para se preocupar?

Não saberia interpretar os resultados do Brasil, mas o país ainda tem um longo caminho adiante, assim como outros países na América do Sul. Mas há muitas nações que não estão nem perto do Brasil ou que estão piorando. No caso brasileiro, há bons motivos para comemorar e motivos para gerar ansiedade e preocupação.

O sistema educacional mais exigente parece ser o sul-coreano. Ele deve ser copiado?

Há lições a serem aprendidas, mas não é o modelo ideal para nenhum país. O caminho é extremamente infeliz –muito eficiente, porém doloroso. Você não vai querer ter dois sistemas escolares, um de dia, outro de noite [aulas de reforço], e os alunos assistindo a ambos. É melhor investir num sistema escolar durante o dia confiável a pais e alunos. Lá todos me diziam que o modelo finlandês é o melhor para o mundo.

A sra. diz que o rigor com o aluno é parte importante do sistema educacional eficiente. Isso explicaria a diferença entre escolas privadas de elite e escolas públicas no Brasil?

O último Pisa é o primeiro a mostrar que as escolas privadas estão agregando valor em todo o mundo. Isso é preocupante, porque o acesso à educação não deveria ser baseado em quanto dinheiro os pais têm. Sobre o rigor, os sistemas mais humanos e de alta performance são os que priorizam qualidade sobre quantidade. Portanto, o objetivo não é gastar muitas horas na escola e muitas horas fazendo tarefa de casa. O objetivo é que o tempo usado seja desafiador, com trabalho difícil que valha a pena fazer. Muitos americanos fazem mais lição de casa que os finlandeses. Mas não é muito criativo ou exigente, é apenas para mantê-los ocupados.

A surpresa do ano foi o Vietnã, país pobre que teve um desempenho melhor do que países ricos. O que explica?

Não sei muito sobre o Vietnã, mas fiquei impressionada com a performance do país. Tem o mesmo nível da Finlândia, Canadá e Holanda, apesar da pobreza. O que eu sei é que, como a Coreia do Sul, há muita aula de reforço depois da escola. É algo com que você tem de ser cuidadoso, ninguém quer que as crianças sejam tristes, estudem dia e noite. Especialmente porque países como Finlândia, Alemanha e Canadá estão no topo sem serem infelizes.

Se a sra. pudesse voltar no tempo, onde faria o ensino médio?

Definitivamente, não seria na Coreia do Sul. É um país fantástico e interessante, mas o sistema é muito esgotador. Eu estudei no exterior quando era adolescente. Como muitos jovens, estava desesperada para sair da minha escola, então eu embarquei na chance de passar um semestre na França. O país não tem um forte sistema educacional em relação ao topo do mundo, mas foi uma das melhores decisões que eu tive na minha vida. De repente, entendi que o mundo era um lugar grande, que não gira em torno dos EUA –uma grande conclusão para um norte-americano.



Racismo à brasileira   (Isto –É – Comportamento – 06/12/13)

Na África do Sul, a política segregacionista do apartheid, combatida por Nelson Mandela, oprimiu a população negra do país de 1948 ao início da década de 1990. Abertamente racista, o regime africano não encontrou muitos ecos no Brasil, onde a ideia da democracia racial – a convivência pacífica entre negros e brancos – está firmemente cravada no imaginário popular. Essa tolerância à brasileira, no entanto, é apenas uma fachada para esconder a discriminação que os descendentes de africanos sofrem por aqui. Segundo a pesquisadora Eugenia Portela de Siqueira Marques, que fez doutorado sobre cotas raciais na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), existe no Brasil um “racismo cordial”, em que as pessoas não explicitam seus preconceitos. Para ela, apesar de não haver no País embates diretos como os da África do Sul, a discriminação se manifesta nas diferenças de riqueza e renda, principalmente. “A desigualdade é gritante”, afirma. Já Evandro Piza Duarte, professor de direito da Universidade de Brasília (UnB), afirma que a democracia racial brasileira é um mito que fez com que ocultássemos as diversas formas de segregação que aconteceram por aqui.