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12/12/2008 / Em: Clipping

 


Cotistas são melhores em 27 cursos da UnB  (UOL – Portal do Aprendiz – 11/12/08)

Os estudantes que entraram na Universidade de Brasília (UnB) pelo sistema de cotas, que reserva 20% das vagas do vestibular a candidatos negros como forma de promover a inclusão, obtiveram, em 27 cursos, notas mais altas que alunos que ingressaram pelo sistema universal. O melhor desempenho foi registrado na graduação de Música, em que a média dos cotistas superou em 19% a dos demais alunos. A seguir, vem Matemática, com diferença de 15%; Artes Cênicas, 14%; Artes Plásticas, também 14%; Ciências da Computação, 13%; e licenciatura em Física, com 12%. Em três cursos, Desenho Industrial, Letras/Espanhol e Pedagogia, o rendimento foi idêntico. Nos 31 cursos restantes, as notas foram inferiores. Os dados estão na dissertação de mestrado Efeitos da política de cotas na UnB: uma análise do rendimento e da evasão, da pedagoga Claudete Batista Cardoso, defendida na Faculdade de Educação sob orientação do professor Jacques Rocha Velloso. Apesar de os primeiros lugares reunirem cursos de diferentes áreas, uma avaliação global pelos três grandes grupos de graduação mostra que o desempenho dos afrodescendentes tende a ser mais alto nos cursos de Humanidades, semelhante nos de Ciências da Saúde, e mais baixo nas graduações de Exatas. Segundo Claudete, é preciso analisar cada caso separadamente para encontrar as explicações. Em princípio, o bom desempenho acontece com mais destaque nos cursos de Humanas porque são as graduações em que muitos cotistas atingiriam notas suficientes para passar no vestibular, sem a reserva de vagas.
A pedagoga, não descarta, entretanto, que as notas sejam resultado da dedicação maior dos cotistas. “Levantamos a hipótese de que eles dão mais valor à vaga e se esforçam para mantê-las”, diz. No que se refere aos cursos da área de Saúde, a explicação seria semelhante. “A seleção é difícil e quem consegue entrar é uma elite”, afirma. Em Medicina, Odontologia e Nutrição, que estão entre os mais disputados no vestibular, a diferença entre as notas no 1º semestre do curso foi de apenas 1%. Em Educação Física , também compreendida na área de Saúde, a diferença é de 2% e, em Farmácia, de 3%. Ao mesmo tempo em que o estudo revela o bom desempenho em Humanidades e Saúde, mostra as dificuldades dos alunos que ingressaram pela reserva de vagas em acompanhar os colegas nos cursos de Exatas. Em Engenharia Civil , os cotistas tiveram notas 41% menores; em Engenharia Mecatrônica , 32%; em Engenharia Elétrica , 12%. Para a pedagoga, o rendimento baixo pode ter sua origem na educação deficiente de disciplinas que envolvem cálculo durante o ensino médio, conhecimento fundamental para esses cursos. “A base fraca de raciocínio matemático faz falta na universidade, para os alunos desses cursos”, diz. Como a proposta das cotas é estimular a entrada de negros e mantê-los na graduação, Claudete sugere ações que atuem para sanar esses problemas. “É preciso ver que dificuldades eles enfrentam e propor uma forma de acompanhá-los, por exemplo, com tutores, para que eles acompanhem os outros alunos”, afirma. Em relação aos cursos, a pesquisadora percebeu que os cotistas buscam as graduações de menor prestígio social, considerando, dentro das três grandes áreas, aquelas menos concorridas e com menor nota de corte. A intenção, diz, seria ter mais chances de ingressar, mas a escolha por curso com maiores chances de aprovação não é necessariamente consciente.
Em 2006, 10,2% dos candidatos ao vestibular concorreram pelo sistema de cotas. Porém, segundo a divisão de status, os cotistas correspondem a 14,3% dos candidatos na graduação de baixo prestígio, e são apenas 6,9% nas de alto prestígio. O estudo também indica que os cotistas dão mais valor à vaga que conquistaram. No 2º semestre de 2006, quando o primeiro grupo de cotistas contava com dois anos e meio de UnB, o índice de evasão dos alunos negros era de 15,7%, enquanto entre os alunos do sistema universal atingia 17,5%. Já para a turma de afrodescendentes que ingressou no 2º semestre de 2005, portanto com um ano de faculdade, o índice de evasão foi de 9,7%, contra os 16,1% do sistema universal. Os dados revelam mais um ponto a favor das cotas. Segundo a pesquisa, a reserva tem conseguido trazer mais negros para dentro da universidade.



Educação em crise   (Folha e S.Paulo – Opinião – 12/12/08)

O BRASIL , em matéria de educação, é uma espécie de doente crônico, cheio de contrastes.  Temos 14 milhões de analfabetos e uma pós-graduação de Primeiro Mundo; o ensino fundamental foi praticamente universalizado, mas a qualidade deixa muito a desejar; todos se preocupam com a educação profissional, mas o ensino médio ainda não encontrou seu caminho (é uma balbúrdia); o ensino superior pode crescer muito, mas são poucas as instituições de elite; os cursos de formação de professores são lamentáveis, como são lamentáveis os salários pagos aos quadros do magistério.  Diversos estudiosos consideram que os cursos de pedagogia são inaptos para formar bons profissionais.  Faculdades de pedagogia entregam ao mercado de trabalho docentes incapazes de assumir uma sala de aula e dominar turmas de alunos. Por quê? Porque muitos professores trazem limitações oriundas de uma educação básica falha. Cometem erros crassos de ortografia, têm dificuldade na compreensão de textos e total desconhecimento de conceitos científicos imprescindíveis. Tais problemas os acompanham pelo curso de pedagogia e saem de lá sem se livrar deles.  A mentalidade que reina no mundo acadêmico supervaloriza a teoria e menospreza a prática. O trabalho concreto em sala de aula é colocado no segundo plano, enfatizando a aplicação de conhecimentos filosóficos, antropológicos, políticos, históricos e econômicos à educação. A bibliografia adotada nos cursos ratifica o que ora afirmamos -são autores, com honrosas exceções, que apresentam temas de ideologias superadas, em prejuízo da parte referente ao trabalho do professor em sala de aula.  O estágio supervisionado é uma disciplina relegada e, às vezes, até inexistente. Como aprender a dar aula sem fazê-lo, antes, efetivamente, e com a devida orientação? Briga-se para pagar o piso de US$ 400 mensais aos professores de ensino fundamental (por 40 horas semanais) quando o Japão paga US$ 2.000. Com esse panorama, como duvidar de que a educação brasileira esteja mesmo em crise? Veja-se o caso presente da discussão em torno do sistema de cotas. De cinco anos para cá, é assunto dominante nas universidades. A Câmara dos Deputados colocou mais lenha na fogueira. Acreditamos que houve aprovação de um projeto altamente discutível. A reserva de 50% de vagas nas universidades federais para alunos egressos das escolas públicas apresenta preferências étnicas que são rigorosamente inconstitucionais. Vagas serão preenchidas por descendentes de negros, pardos e indígenas na proporção da população de cada Estado. O cálculo terá por base o censo do IBGE. Haverá ainda reserva de metade das vagas para estudantes de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita. Se a Carta Magna proíbe a discriminação por motivo de raça, não é defensável o argumento de que se deve impor o movimento contrário. O inciso IV do artigo 3º da Constituição -a Constituição Cidadã- explicita literalmente este aspecto: “Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Cotas raciais não têm amparo legal e, na verdade, camuflam a leniência oficial em relação à qualidade do ensino público, este, sim, a merecer toda espécie inadiável de apoio. E tem mais: é uma agressão à autonomia universitária. Frise-se ainda que a Câmara entendeu que pode aliviar, por meio do novo mecanismo de cotas raciais e sociais, a obrigatoriedade dos exames de habilitação para o ensino superior. Trata-se, na verdade, de uma imposição que, na prática, não funcionará. O melhor exemplo é o que ocorreu na Uerj, a primeira universidade pública a adotar o sistema de cotas. São revelações do reitor Ricardo Vieiralves. Dos 1.320 alunos iniciais, concluíram os cursos escolhidos só 350 alunos. Por motivos diversos, em geral econômicos, houve grande evasão. Vivemos um tempo difícil em nosso país, fruto também da desordem econômica mundial. Temos hoje cerca de 20 mil cursos superiores e a maioria deles se ressente da necessária excelência. Para complicar as coisas, os jovens desconhecem a chamadas “profissões do futuro”, aquelas ligadas à alta tecnologia, genética e meio ambiente. Preferem os cursos tradicionais, desconhecendo a saturação que ocorre, sobretudo nos grandes centros urbanos, em profissões como medicina e direito. Há uma sedução pelas profissões midiáticas, como publicidade e propaganda, jornalismo, audiovisual e artes cênicas, que estão entre as dez mais procuradas, com um pormenor essencial: são aquelas em que ocorre maior índice de desistências, pois o mercado de trabalho é bastante restrito. A geração nascida entre 1980 e 1995 é vítima desse equívoco. A era da interatividade não tem ajudado na escolha profissional adequada. É um panorama altamente preocupante.

ARNALDO NISKIER, 73, professor, jornalista e escritor, é membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do Ciee/Rio.



Deputados sugerem cotas nas universidades  (Diário do Nordeste – Política – 12/12/08)

Os parlamentares do PT querem reduzir, pela educação, as diferenças sociais entre pobres e ricos

Os deputados petistas Artur Bruno e Dedé Teixeira querem reservar vagas nas instituições estaduais de ensino superior para estudantes de baixa renda, negros e índios. Com este objetivo, os parlamentares deram entrada em propostas na Assembléia Legislativa que regulamentam a entrada de alunos oriundos do ensino médio, nas universidades públicas. Bruno diz que as cotas são uma forma de corrigir um erro com os estudantes de classe baixa, que não têm acesso a ensino de bom nível nas escolas do governo. Dedé quer incluir na proposta, negros e índios. Ontem, em pronunciamento no legislativo estadual, Bruno defendeu seu projeto, afirmando ser uma injustiça, alunos da rede pública concorrerem no vestibular com os estudantes de escolas particulares. “Com a realidade que eu conheço das escolas públicas estou convencido que os sistema de cotas é um grande instrumento de inclusão social e de justiça”, salientou ele. Além do projeto de lei, há na Casa uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), de autoria de Dedé Teixeira, que além de prever 50% das vagas nas instituições estaduais de ensino superior para alunos oriundos de escolas públicas, sugere ainda que um percentual desta cota, seja destinado para negros e índios, de acordo com as proporções populacionais definidas em censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Competência

Bruno destaca, porém, que a PEC já foi analisada pela Procuradoria da Casa que apontou inconstitucionalidade, justificando que a matéria é de competência exclusiva do Executivo, por isso, a necessidade de ter apresentado um projeto de lei com mesmo teor. “Há uma visão de que esse sistema de cotas não pode ser instituído através de emenda constitucional. Temos que tomar uma iniciativa para que esta idéia das cotas nas universidades públicas estaduais não seja extirpada do Poder Legislativo. Senão por emenda, que seja por um projeto de lei”, defendeu o deputado.
Bruno afirma que o assunto vem sendo debatido desde 2003 no Congresso, onde tramitam três matérias referentes a essa causa. Ele informa que no vestibular 2008, das 150 vagas para o curso de medicina, oferecidas nas universidades públicas do Estado, apenas quatro foram preenchidas por alunos de escola pública. O deputado Fernando Hugo ponderou, em aparte, que as cotas podem gerar discriminação entre os estudantes das universidades públicas.