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13/04/2009 / Em: Clipping

 

Saiba mais sobre as mudanças no vestibular  (Terra – Vestibular – 08/04/09)

No início desta semana, o ministro da Educação, Fernando Haddad, apresentou a proposta de unificar o vestibular das universidades federais do País à Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). O modelo permitirá que o estudante faça apenas uma prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e, a partir da nota conseguida, defina até cinco cursos que gostaria de freqüentar em ordem de prioridade.  A medida foi recebida com entusiasmo pelos reitores e o Ministério da Educação (MEC) prometeu enviar às universidades, nesta quarta-feira, um termo referencial com detalhes técnicos do exame. No entanto, uma nova reunião prevista para o final deste mês deve dar a palavra final sobre o rumo do novo processo seletivo. Em meio às decisões, os estudantes que pretendem realizar o vestibular em 2010 levantam uma série de dúvidas relativas ao novo concurso. O Terra conversou com o MEC para resolver algumas destas questões.

Quantas universidades federais devem adotar o vestibular unificado?
Tanto o MEC quanto a Andifes preferem ser cautelosos com o número de instituições que deverão aderir ao novo Enem.

As instituições serão obrigadas a adotar o modelo?
Não. A primeira bandeira que o MEC levanta é a da autonomia universitária em que deixa as instituições livres para escolher a forma de ingresso para os alunos. O MEC oferecerá o exame unificado e as instituições optarão se querem ou não participar. Elas ainda poderão decidir se utilizarão o exame de forma única ou complementar.

As instituições privadas e estaduais poderão aderir ao sistema?
Essa decisão ficará por conta de cada instituição, pois o MEC não tem poder de regulação sobre elas.

Existe possibilidade de o novo Enem ser realizado em 2009?
Sim. A previsão do MEC é que ele ocorra em outubro, antes do final do ano letivo. O resultado deverá sair em janeiro.

Como o aluno pode se preparar para este concurso? Como será o formato do exame?
Ele será um Enem mais enriquecido. Atualmente, o Enem é composto por 63 questões e o novo terá 200. Segundo o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Reynaldo Fernandes, a prova teria quatro grupos de questões, divididas em Linguagens e Códigos (português e inglês), Matemática e Estatística, Ciências da Natureza (biologia, química, física), Ciências Humanas (história, geografia, ciências sociais, economia) e uma Redação, aplicadas em dois dias.

O aluno aprovado poderá escolher qualquer universidade federal para cursar?
Sim. Em princípio, ele teria cinco opções de curso, podendo ser todos em uma mesma universidade ou em até cinco instituições diferentes.

Como um aluno deverá proceder para realizar a matrícula numa universidade de outro Estado?
Ele realizará a prova na cidade em que faz o Ensino Médio e, com a nota obtida, entrará em contato por meio de um sistema online com a instituição que tem interesse. No processo, as universidades deverão abrir um período de inscrições para os estudantes entregarem as notas.

Como deve proceder o aluno que quiser mudar de curso no mesmo ano ou nos anos seguintes?
Este ponto ainda não foi definido, mas a decisão deverá ficar a cargo de cada universidade.

A pontuação terá prazo de validade?
O MEC tem interesse que o exame realizado tenha validade por mais de um ano, mas ainda não estipulou esse período. Também deverá ter mais de uma prova por ano.

Como fica a pontuação de quem fizer mais de um novo Enem?
Valerá a nota mais alta.

O aluno poderá realizar mais de um curso simultaneamente?
Essa definição ficará a cargo de cada instituição.

Quais as vantagens do novo Enem?
A preocupação do MEC é com dois pontos principais: conteúdo do ensino médio, que é baseado em uma “decoreba” de fórmulas prontas, e com a mobilidade dos estudantes de baixa renda, que ficam prejudicados pelo sistema atual de vestibulares, no qual precisam viajar até a cidade da instituição para prestar o concurso.


Prova que vai substituir vestibular das universidade federais será aplicada em outubro (IG – Último Segundo – 09/04/09)

O cronograma apresentado na última quarta-feira aos reitores das instituições prevê a divulgação dos resultados da prova objetiva em 2 de dezembro e da redação em 8 de janeiro de 2010. Pelos cálculos do Ministério da Educação (MEC), o novo exame deverá ter a participação de 4 a 5 milhões de estudantes, em vez dos atuais 3 milhões. A partir da divulgação dos resultados, o aluno irá se inscrever em um sistema online a partir do número do CPF. O sistema que será semelhante ao usado na seleção de bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni). O estudante deverá escolher cinco opções de cursos, que podem ser em uma mesma universidade ou em instituições federais diferentes. A partir dessa inscrição, o candidato poderá monitorar diariamente como está a concorrência para os cursos escolhidos. Ele poderá alterar, a qualquer momento, a opção que pretende disputar. “Na prática, o estudante concorre a todas as vagas das universidades federais. A partir do momento que ele percebe que suas chances são menores em um curso específico, ele pode migrar”, explicou o ministro da Educação, Fernando Haddad. Caso o estudante não seja selecionado para o curso que marcou como prioridade, ele pode ser aprovado para a sua segunda opção, de acordo com a sobra de vagas. Segundo o ministro, esse sistema só poderá ser utilizado pelas universidades que adotarem o Enem como prova única de seleção. Ou seja, aquelas que quiserem aplicar uma segunda fase além do exame nacional não incluirão as suas vagas nesse sistema. “Se a primeira opção do aluno é um curso em que é exigida mais uma fase, ele poderá ser prejudicado, porque, se ele não passar na segunda fase, aquela vaga que ele marcou na segunda opção já terá sido preenchida”, disse. Haddad ressaltou que os modelos de avaliação seriada adotados por algumas instituição, como a Universidade de Brasília (UnB), não ficam impedidos de existir com o sistema unificado. A universidade poderá reservar parte das vagas para essas formas de seleção, bem como para as políticas afirmativas de cotas. O sistema permitirá ainda que a instituição atribua pesos distintos às notas do aluno nas diferentes provas do Enem. O mecanismo já é usado por algumas seleções que dão maior peso ao resultado das provas da área de exatas, por exemplo, ao selecionar um aluno para o curso de engenharia. O novo Enem será formado por quatro provas e uma redação que devem ser aplicadas em dois dias. A ideia é que sejam realizados testes de linguagens e códigos, matemática, ciências naturais e ciências humanas, cada um com 50 itens. Um termo de referência com todos detalhes técnicos foi entregue ontem aos reitores que irão discutir nas universidades se vão aderir ao novo Enem como forma de seleção em substituição ao vestibular. De acordo com Haddad, o ministério ainda não contabilizou quantas instituições manifestaram esse interesse. Mas ele voltou a afirmar que a proposta tem sido bem aceita. “As instituições têm toda a liberdade para não aderir, aderir como unificado ou aderir parcialmente. Acho que o debate amadureceu nos últimos anos ”, avaliou. Também já foi criado um comitê de governança que será responsável pela criação desse novo modelo de vestibular. Fazem parte do grupo as universidades federais, os secretários estaduais de Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem. Ontem o ministro se reuniu com a presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Maria Auxiliadora Seabra, para apresentar o novo modelo. Segundo ele, a proposta foi recebida com “satisfação” porque as mudanças pensadas para o ensino médio não podiam sair do papel, uma vez que a etapa era muito voltada ao atual modelo de vestibular. “Finalmente será possível fazer a reestruturação do ensino médio, que hoje é completamente subordinado a um processo [os vestibulares] de que eles [secretários de Educação] não participam”, afirmou. Na próxima semana, Haddad se reunirá mais uma vez com os reitores das universidades federais para acompanhar a aceitação da proposta.


 

Correção das provas do vestibular da Unesp será mais rigorosa  (Globo. Com – G1 Vestibular – 12/04/09)

A correção das provas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) será mais rigorosa a partir do vestibular 2010. Cada prova será corrigida por duas bancas, cada uma formada por três avaliadores, em vez de apenas uma banca. Se houver uma discrepância de dois pontos na nota, a prova passará ainda por uma terceira banca de avaliadores.  Isso porque, com a mudança de uma fase única em três dias (aplicada para todos) para duas fases, somente uma parte dos candidatos fará a segunda etapa, o que deixa menos provas a serem corrigidas. Como será mantido o número de corretores, a ideia é que a avaliação seja ainda mais criteriosa. “Ao diminuir o número de provas, poderemos aprimorar a forma de avaliar no processo de seleção, colocando mais critérios na correção”, afirma Tania de Azevedo, diretora acadêmica da Vunesp, fundação que realiza o vestibular da Unesp.”O período de correção e o tamanho das bancas, com três corretores, serão os mesmos. Além de ter um tempo maior, o avaliador poderá fazer uma revisão da correção.” Outra inovação que a Unesp implementa para o vestibular 2010 é o boletim de desempenho individual também para a primeira fase, que poderá ser acessado pela internet. Antes, o candidato só tinha acesso ao seu boletim de rendimento quando o resultado final era divulgado. “Com isso, a gente espera que o candidato bem classificado continue motivado para a segunda fase e aquele que percebe que está atrás corra atrás do prejuízo”, explica Tania.

Currículo

O formato da prova também irá mudar. Se antes a prova de conhecimentos gerais era dividida em disciplinas (geografia, história, língua estrangeira -inglês ou francês-, matemática, física, química e biologia), agora não haverá nenhuma separação. “A mudança da prova da Unesp se deu por conta do fortalecimento do vínculo com o ensino médio. Nós tínhamos um compromisso formal de olhar para o conteúdo programático do ensino médio. Dentro desse aspecto, já eram cobradas questões que abordavam educação física, arte, filosofia, só que esse conteúdo era abordado diluído entre as disciplinas apresentadas, como biologia, química, matemática etc”, afirma a diretora acadêmica da Vunesp. Na primeira fase, a prova de conhecimentos gerais terá 90 questões de múltipla escolha, divididas em três eixos: linguagens e códigos (língua portuguesa e literatura, língua inglesa, educação física e arte); ciências da natureza e matemática (biologia, física, química e matemática); e ciências humanas (história, geografia e filosofia). A opção de francês como língua estrangeira foi abolida. “Era muito inexpressivo o número de candidatos que faziam essa escolha”, justifica Tania. Com a mudança, a primeira fase fica mais valorizada, porque corresponderá a 50% da nota no vestibular. No modelo anterior do vestibular, valia 20% da nota. A nota da parte objetiva do Enem continua sendo usada e pode representar até 10% da nota final do vestibular. Para a segunda fase, serão convocados um total de quatro a seis candidatos por vaga, conforme o curso. No primeiro dia da segunda fase, haverá uma prova com 24 questões discursivas: 12 de ciências da natureza e matemática e 12 de ciências humanas. No segundo dia, o exame cobrará 12 questões de linguagens e códigos e uma redação dissertativa. Uma novidade que certamente não encontrará opositores entre os vestibulandos é em relação ao tempo de prova. De quatro horas, passará para quatro horas e meia. Em vez de 2,8 minutos por teste no primeiro dia, por exemplo, o candidato terá 3 minutos. “Pode parecer pouco, mas, na hora da prova, faz diferença”, avalia Tania.

 

Vestibulandos opinam sobre proposta do novo Enem (Globo. Com – G1 Vestibular – 10/04/09)

A reportagem do G1 foi nesta semana às ruas de São Paulo para ouvir como os vestibulandos receberam a proposta do Ministério da Educação (MEC) de substituir o vestibular das universidades federais pelo novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os estudantes divergiram sobre a mudança.  Beatriz Reis, de 18 anos, candidata ao curso de jornalismo, acha que o estresse será menor se as federais adotarem um vestibular unificado. “Vai facilitar porque poderei prestar várias federais. Diminui a pressão de ter de fazer várias provas.” A vestibulanda de medicina Luisa Bertoli, de 18 anos, discorda. “Não acho legal. Se você for mal no Enem, não vai ter outras chances para recuperar isso”, diz ela, referindo-se à possível redução do número de provas caso as federais adotem o vestibular unificado. A prova do Enem vai mudar, de acordo com o MEC. Serão 200 testes e uma redação. Entretanto, alguns estudantes acreditam que, dado o caráter interpretativo da prova, com menor exigência da memorização de conteúdos, poderão ter melhor desempenho. “Para quem saiu de escola estadual é bom. O Enem exige menos que o vestibular da USP”, avalia Guilherme Figueiredo, de 18 anos, que vai prestar publicidade.  Já a vestibulanda de medicina Fernanda Mendes, de 22 anos, interpretou de outra maneira. “Se o nível (do Enem) for mais baixo que o dos vestibulares das federais, a nota de corte vai ser exorbitante.” “Vamos ser cobaias de toda essa mudança”, acrescentou, bem humorada, a candidata ao curso de medicina Daniela Almeida, de 19 anos.

Concorrência

A outros estudantes agradou a possibilidade de, com a nota do Enem em mãos, escolher até cinco opções em cinco federais quantas vezes quiser até o encerramento do prazo estipulado. As mudanças poderão ser feitas com base nas notas de corte em cada curso, que deverão ser atualizadas diariamente. “Vai poder trocar a opção se houver muita concorrência”, aprova Beatriz Reis. Os vestibulandos de direito Guilherme Bertoldi e Vitor Garcia Campos, ambos de 18 anos, avaliam que os alunos do Sul e Sudeste podem levar vantagem em relação aos de outras regiões. “Ficou mais fácil para estudantes de São Paulo, porque a gente está acostumado com maior cobrança”, diz Guilherme.  Por outro lado, a candidata ao curso de veterinária Bruna Queiroz, de 18 anos, acha que é possível o aumento da concorrência. “Vai vir um monte de gente de outras regiões”, acredita ela, que, apesar disso, apoia a proposta.

 

Ministério da Educação quer aplicar Enem nos dias 3 e 4 outubro  (Globo.Com – G1 Vestibular – 09/04/09)

O Ministério da Educação (MEC) quer aplicar o novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos dias 3 e 4 de outubro. A divulgação dos resultados das quatro provas de múltipla escolha ocorrerá em 4 de dezembro. A divulgação do resultado final, com a redação, será em 8 de janeiro. A proposta do governo é que o exame substitua o vestibular das 55 universidades federais do país. Como elas têm autonomia, podem ou não adotar o Enem para o seu processo seletivo. Os detalhes da proposta foram encaminhadas pelo ministro, Fernando Haddad, aos reitores das federais na noite de quarta-feira (8) e divulgadas nesta quinta-feira (9). Pela proposta, o aluno poderá listar até cinco cursos em instituições diferentes. O processo de inscrição será exclusivamente pela internet. Segundo o MEC, a taxa de inscrição para alunos da rede particular será o mesmo cobrado no ano passado: R$ 35. Alunos da rede pública ou bolsistas em escola particular estarão isentos da taxa. O candidato poderá alterar as suas opções quantas vezes quiser até o encerramento do prazo das inscrições. As mudanças poderão ser feitas com base nas notas de corte em cada curso, que deverão ser atualizadas diariamente. O MEC calcula que o sistema ficará aberto para as mudanças por um período de duas semanas. O método é semelhante ao do Programa Universidade para Todos (ProUni), que concede bolsas de estudo no ensino superior privado. A nota de corte será determinada por essa concorrência entre os alunos. Ou seja, se mais alunos com notas altas concorrerem a um determinado curso a nota de corte será mais alta.

 

Federais poderão indicar peso diferente na nota para cada parte do Enem (Globo.Com – G1 Vestibular – 09/04/09)

As universidades federais que aderirem à proposta do Ministério da Educação (MEC) de substituir o vestibular pelo novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) poderão indicar pesos diferentes para cada uma das cinco provas (linguagem, matemática, ciências da natureza, ciências da sociedade e redação) de acordo com o curso. As regras foram encaminhadas pelo ministro, Fernando Haddad, aos reitores das federais na noite de quarta-feira (8) e divulgadas nesta quinta-feira (9). Pela proposta, o aluno poderá listar até cinco cursos em instituições diferentes. O processo de inscrição será exclusivamente pela internet. Segundo o MEC, a taxa de inscrição para alunos da rede particular será o mesmo cobrado no ano passado: R$ 35. Alunos da rede pública ou bolsistas em escola particular estarão isentos da taxa. O candidato poderá alterar as suas opções quantas vezes quiser até o encerramento do prazo das inscrições. As mudanças poderão ser feitas com base nas notas de corte em cada curso, que deverão ser atualizadas diariamente. O MEC calcula que o sistema ficará aberto para as mudanças por um período de duas semanas. O método é semelhante ao do Programa Universidade para Todos (ProUni), que concede bolsas de estudo no ensino superior privado. A nota de corte será determinada por essa concorrência entre os alunos. Ou seja, se mais alunos com notas altas concorrerem a um determinado curso a nota de corte será mais alta.

 

Opinião: Mesmo com novo Enem, vaga continuará com aluno de particular  (Globo.Com – G1 Vestibular – 09/04/09)

Estamos nos deparando com um movimento que parecia quase impossível: mudar a atual forma de selecionar os estudantes para o ingresso nas universidades. A proposta do ministro da Educação, Fernando Haddad, é que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) substitua os vestibulares nas 55 universidades federais do país. Para tanto, haveria uma reformulação do exame que constaria de 200 questões de múltipla escolha divididas da seguinte forma: linguagens, matemática, ciências humanas e ciências da natureza. E uma redação. A prova seria aplicada em dois dias. Até aí, muito parecida com o vestibular. Inclusive, a nota do Enem já é um dos critérios de seleção em algumas universidades. A grande crítica que se faz aos vestibulares é que ele privilegia o conteúdo em detrimento do raciocínio. Com isso, criaram-se escolas cujo único objetivo é o de colocar os alunos nas faculdades mais concorridas (públicas). Já o Enem, prioriza as habilidades de raciocínio e a interpretação de texto. Quem já passou por um curso preparatório para o vestibular, deve se lembrar daquelas musiquinhas para memorizar fórmulas matemáticas. A memorização é algo importante em provas assim. O novo modelo propõe que as duas coisas sejam valorizadas na prova: o conhecimento e as habilidades de pensamento. Não consigo vislumbrar outra forma de se avaliar um aluno que não seja essa. Com isso, espera-se que as escolas comecem a se transformar, trabalhando não só os conteúdos exigidos bem como a capacidade de pensar dos estudantes. É incrível, mas já ouvi várias pessoas dizerem ter aprendido a pensar depois de ingressarem num curso superior (após um mínimo de 11 anos nos bancos escolares). A outra crítica que se faz aos vestibulares é de ser elitizado: estão dentro das melhores faculdades, na sua maioria pública, alunos que fizeram colégios caros e que poderiam pagar uma faculdade. Sobram poucas vagas para aqueles que realmente necessitam de um ensino gratuito. Segundo dados do Enem 2007 em São Paulo, entre as 20 melhores escolas classificadas havia uma estadual e uma federal. Todas as outras eram da rede particular.

Novo conceito de ensino

Um dos objetivos desta mudança é, segundo o ministro Haddad, o de criar um novo conceito de ensino no país, deixando de favorecer os estudantes com poder aquisitivo maior. Ponto para a mudança. No entanto, são as escolas particulares que têm maiores condições de acompanhar essa transformação. Elas vão correr atrás para continuarem colocando seus alunos dentro das faculdades. Agora com a vantagem para os alunos de desenvolverem seu pensar. O que não é tarefa fácil. Passar conteúdos é mais simples. Ou seja, tudo continuará como antes no acesso as faculdades. Há uma necessidade fundamental e anterior à mudança no vestibular: a reformulação das escolas públicas de nível médio e fundamental. Inclusive para que os alunos provenientes delas possam competir em pé de igualdade por uma vaga nos bons cursos superiores. Sem isso, qualquer forma de selecionar vai parecer injusta. Porém, não é na seleção que está a injustiça (não tem jeito, tem mais aspirantes que vagas nas universidades). A luta por um lugar ao sol sempre vai existir, assim como é na natureza (como é difícil a vida dos animais selvagens). Injustas são as condições de luta oferecidas de maneira desigual. A igualdade de condições está longe de existir no ingresso às faculdades.

 

Com novo Enem, federais temem invasão de ‘estudantes estrangeiros’

A adoção do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como processo seletivo unificado para o ingresso nas universidades federais divide opiniões no meio acadêmico. A reportagem do G1 ouviu 16 das principais universidades federais – ao todo, elas somam 55 instituições – sobre a proposta: sete delas são simpáticas a ela, três são contra e seis preferiram não se posicionar. Entre elas, cinco demonstraram preocupação com a questão da mobilidade dos estudantes, manifestando temor quanto a uma possível “invasão” de vestibulandos de outros estados.  De acordo com modelo proposto pelo Ministério da Educação, a ser estudado pelas federais até o final de abril, o vestibulando poderá concorrer a até cinco cursos em cinco instituições federais. A proposta deve permitir que alunos que vivem longe dos grandes centros urbanos participem da seleção. Entretanto, para Roberto de Souza Salles, reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF), a unificação pode agravar a exclusão dos menos favorecidos. “Os candidatos do Sul e Sudeste, que normalmente apresentam os melhores desempenhos na prova do Enem, irão ocupar as vagas nas instituições federais do Norte e Nordeste, tirando as oportunidades dos candidatos daquelas regiões”, defende Souza Salles. O reitor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Rômulo Polari, também aventa a hipótese, destacando que o ensino médio é desigual no país.
Licurgo Brito, pró-reitor de ensino de graduação da Universidade Federal do Pará (UFPA), chama a atenção para “o risco de (o novo modelo) destinar as poucas vagas (na região amazônica) para quem não é da região”. Para o reitor da Universidade de Santa Maria (UFSM), Clóvis Silva Lima, “o MEC precisa dar condições de permanência para os alunos carentes”.  O reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ronaldo Tadeu Pena, ressalva que a mobilidade seria positiva se ficasse limitada a algo em torno de 10% dos bancos das universidades. “Mais do que isso ela vai ser uma mobilidade predadora, no sentido de que esses alunos pegariam as vagas de cursos menos concorridos e também de locais menos desenvolvidos.” Para ele, a proposta tem um defeito ao permitir que os candidatos façam as opções de curso com o resultado do Enem em mãos. “Aqueles que virem que não conseguirão uma vaga em cursos muito disputados poderão optar por outro menos concorrido e tirar a vaga de quem realmente gostaria de fazer aquela graduação.” Já Ivonlido Rêgo, reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), diz que o Brasil não têm uma “tradição de mobilidade” e estimula: “teremos de testar o exame para ver o quanto isso vai ser perturbador”. Para ele, políticas de inclusão, como reserva para cotas e bônus para escolas públicas, podem ser fatores de ajuste. 

Prazo para implantação

Outra questão que mobiliza os mais favoráveis à substituição do vestibular pelo novo Enem é o prazo de implantação. Pelo menos seis das instituições consultadas (UFSC, UFPA, UFPB, UFRN, UFC, UFMG) descartam ou acham “pouco provável” que o modelo vigore já em 2009. O motivo é o cronograma do vestibular. “Para este ano, eu acho pouco provável (a implantação), porque temos uma cultura de que as mudanças no vestibular só incidem no ano seguinte”, explica Jesualdo Farias, reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC). 

Contra x A favor

Neste momento, disseram-se contrários ao “novo Enem unificado” os reitores da UFSM, UFPA e UFF. Os representantes das duas primeiras argumentam que a instituição possui um vestibular seriado – a UFPA ainda tem em curso proposta de novo modelo para 2011 -, enquanto o representante da UFF diz que ainda restam “muitas dúvidas” sobre o novo modelo, como a questão da mobilidade. Já a UFMG, Universidade Federal da Bahia (UFBA), Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), UFG (Universidade Federal de Goiás), UFBASUFSC, UFRN e UFC se disseram simpáticos à proposta. Entretanto, seus reitores destacaram que ela ainda passará por intenso debate dos respectivos conselhos universitários. Também em fase de discussão, a UFPB, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), a Universidade Federal de Alfenas (Unifal), a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) preferiram, neste momento, não se posicionar sobre o tema.


 

Universidades escolherão entre dois tipos de adesão ao Enem  (O Estado de S.Paulo – Vida& – 09/04/09)

As universidades federais terão duas possibilidades para aderir à proposta de vestibular unificado feita pelo Ministério da Educação. Uma delas será a adesão completa, em que as instituições usarão o novo Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) como prova única e terão suas vagas inseridas em um sistema online de seleção nacional. Na outra proposta, as universidades que tenham a intenção de realizar uma segunda etapa de seleção poderão usar o Enem apenas como uma primeira fase. Nesse caso, não participarão do sistema nacional de seleção. As duas alternativas foram apresentadas na quarta-feira, 8, aos reitores em um Termo de Referência enviado pelo ministério, que prevê, ainda, a realização da prova nos dias 3 e 4 de outubro. A nova proposta resolve um problema apontado pelos dirigentes das universidades: se um aluno faz o vestibular em uma instituição que pretende fazer uma segunda etapa, sua seleção ficaria prejudicada nas demais universidades que realizariam apenas uma prova. “Se o aluno não passa na segunda etapa, quando ele voltar para o sistema online de seleção as vagas já teriam sido preenchidas”, explicou o ministro da Educação, Fernando Haddad. A alternativa também abre caminho para que mais instituições sintam-se à vontade para aderir ao novo sistema. Aqueles que pretendem manter aspectos regionais nas suas seleções poderão usar a segunda prova e mesmo assim pertencer ao sistema.  Até agora, 38 das 55 instituições federais de ensino superior já declaram, extra-oficialmente, que pretendem aderir. Nas restantes, a maioria tem tendências positivas, mas prefere analisar melhor o documento do MEC para dar uma resposta. As Federais Fluminense, de Goiás e do Rio Grande do Sul eram as mais resistentes. O sistema online proposto pelo MEC, chamado de Sistema de Seleção Unificada, prevê, ainda, que cada instituição que faça parte possa colocar ali os pesos que pretende dar para cada prova em cada curso, outra adaptação feita a pedido dos reitores. Os estudantes terão uma nota para cada uma das cinco provas – linguagens, redação, matemática, ciências humanas e ciências da natureza – e não mais uma geral objetiva e outra de redação, como acontece hoje. Com isso, as instituições poderão prever, por exemplo, que um aluno candidato à medicina precisa nota mais alta em ciências da natureza. Uma nova reunião entre os reitores e o MEC está prevista para o início da próxima semana, com a intenção de esclarecer dúvidas. Os dirigentes prometeram ao ministério uma nova reunião no final do mês para dar já resposta definitiva sobre quem vai aderir e de que forma.

 

Vestibular – os equívocos por resolver  (O Estado de S.Paulo – Espaço Aberto – 13/04/09)

A proposta para mudar o vestibular está na mesa. As discussões na imprensa revelam duas tendências. De um lado, os que sugerem abortar o debate, em nome da autonomia universitária. De outro, os que já celebram, por antecipação, o fim do vestibular, como se isso fosse possível. Há dois aspectos a considerar. O primeiro deles se refere à unificação do vestibular: o aluno prestará um único exame, num único local, e esse exame servirá para concorrer a vagas em qualquer universidade federal ou, quem sabe, pública. Seja de forma compulsória ou por consenso, esse é o modelo predominante em todos os países desenvolvidos. Apesar dos pruridos relativos ao conceito de autonomia universitária, não deverá haver dificuldades intransponíveis nessa área. A experiência do exame unificado dos mestrados em economia já abriu a picada. Se só isso vingar da proposta apresentada, esse avanço na dimensão da equidade já terá sido um grande passo. Isso também significará maior competitividade para entrar nas melhores escolas, o que contribui para a qualidade. O segundo aspecto é mais complexo: avaliar o impacto das mudanças no ensino médio. Ao contrário do que está explícito na maioria dos comentários surgidos – as propostas apresentadas em nada mudarão o ensino médio. Vejamos a razão. A proposta veiculada pelo Ministério da Educação (MEC) sugere quatro provas. Duas serão de Português e Matemática. Até aí, tudo bem. As outras duas provas são mais problemáticas, pois se baseiam no ambíguo Enem: uma prova de ciências naturais e outra de ciências humanas. Aqui mora o perigo. Se alguém ainda tiver dúvidas: se o Enem – que chegou até a substituir o vestibular em algumas escolas – não mudou o ensino médio, por que as duas novas provas, que nele se baseiam, mudariam algo?  O Enem repousa na ideia de que conteúdos não são relevantes. Relevante seriam “competências gerais” para resolver problemas. Nada de novo, trata-se de uma ideia velha e equivocada. Até o século 18, acreditava-se que quem sabia latim e grego estava preparado para o resto. No século 19, a crença era a de que aprender xadrez desenvolvia a inteligência. E no século 21 ainda há quem acredite nessas tais habilidades gerais de resolução de problemas, independentemente do conhecimento profundo das disciplinas. Em caso de dúvida, o leitor poderá consultar qualquer manual elementar de psicologia cognitiva ou de psicometria.  As pesquisas recentes da neurociência aplicada ao estudo da aprendizagem mostram que os especialistas – ao contrário dos aprendizes – são capazes de adquirir e articular novos conhecimentos com base em extensas redes de informações montadas ao longo de anos de estudo e da lida com um determinado conjunto de conhecimentos. Prova disso é que, em todos os países desenvolvidos, o fim do ensino médio e a entrada nas universidades se dá com base em exames voltados para disciplinas. A única exceção ocorre nos Estados Unidos. Mas, mesmo lá, onde se usa o SAT – um teste de competências linguísticas fortemente relacionado com o Q.I. -, este exame evoluiu e passou a oferecer, desde 2005, testes para avaliar competências nas disciplinas específicas. Nenhum país da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) usa aferições do tipo do Enem para avaliar competências no ensino médio nem para regular a entrada no ensino superior. Em matéria de educação, mais uma vez, estamos na contramão da história. Para quem não gosta de discussões conceituais e teóricas, há outra forma mais fácil e objetiva de avaliar se a proposta do MEC provocará alteração no ensino médio. Basta pesquisar o que pensam e como agem os representantes de boas escolas e os bons professores de ensino médio, que preparam alunos para vestibulares competitivos. Eles irão confirmar que nada mudará, da mesma forma que o Enem nada mudou. A razão é simples: para solucionar problemas é preciso conhecer a disciplina na qual vamos resolver as questões.  O Brasil teria muito a ganhar se, em vez de plantar mais jabuticabeiras, copiasse e adaptasse o que há de melhor na experiência internacional. Há lições particularmente importantes a extrair dessa experiência. Devemos manter o exame com foco em disciplinas, e não em conceitos etéreos como os do Enem. Para avaliar competências intelectuais correlacionadas com desempenho acadêmico, melhor seria aplicar o SAT – como faz o Chile. Para avaliar competências mais amplas, inclusive a capacidade de usar conhecimento científico de forma interdisciplinar, teríamos muito a aprender com os programas de ensino médio da Inglaterra. Outra lição consiste em limitar o número de disciplinas obrigatórias para cada aluno – tipicamente se requer no máximo de 3 a 4 exames. O máximo são 7 exames (como no International Baccalauréat), mas, nestes casos, os alunos escolhem três disciplinas principais. Nas outras fazem o teste mais fácil. Esses são os critérios adotados pelos países mais avançados, e que alimentam as melhores universidades do mundo. E nesses países, com raras exceções, o aluno cursa entre 5 e 7 disciplinas no ensino médio. Usar este tipo de normas tornaria o ensino médio acadêmico mais desafiante, estimulante e relevante para os alunos. As escolas poderiam oferecer várias disciplinas, mas os estudantes só teriam de cursar algumas delas, o que permitiria ter foco e profundidade. É fato que tais decisões só se aplicariam ao ensino médio acadêmico, voltado para o vestibular. E, principalmente, não resolveriam todas as questões do ensino médio, que ainda está à espera de reformas mais profundas. Mas já seria um passo muito importante.

João Batista Araujo e Oliveira é presidente do Instituto Alfa e Beto

 

As mudanças no vestibular  (O Estado de S.Paulo – Opinião – 11/04/09)

Com um olho no calendário escolar e outro no calendário eleitoral, uma vez que é um dos nomes cogitados pelo Partido dos Trabalhadores para disputar um cargo majoritário nas eleições de 2010, o ministro Fernando Haddad está tentando implantar, a toque de caixa, o projeto de unificação dos vestibulares das universidades federais, anunciado há duas semanas, quando nem mesmo as suas diretrizes gerais estavam definidas. Alguns reitores afirmam que, por seu caráter inovador, o projeto tem de ser implementado com cuidado, no prazo mínimo de dois a três anos, para evitar problemas legais e administrativos.  Atualmente, cada universidade prepara seu próprio exame e as provas são realizadas em datas diferentes. A proposta do ministro, cujos detalhes só agora estão sendo divulgados, é reformular o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e fazer uma prova única, com validade nacional. A ideia inicial era que os alunos aprovados tivessem liberdade de escolher o curso e a universidade, conforme a pontuação obtida. Mas, para reduzir a resistência dos reitores, pois o nível médio de exigências varia de universidade para universidade, o MEC está propondo que os estudantes só possam utilizar os resultados da prova em cinco diferentes cursos e em cinco instituições federais de ensino superior. Além disso, para evitar frustrações entre os vestibulandos das regiões menos desenvolvidas que almejam estudar nas universidades federais das regiões mais desenvolvidas, o MEC quer que os estudantes só se inscrevam para o vestibular com o resultado do Enem nas mãos. “Com isso, o estudante pode ter uma ideia melhor de suas possibilidades de aprovação”, diz o ministro. Segundo ele, a inscrição será feita pela internet e o sistema ficará aberto por algum tempo, permitindo aos candidatos reavaliar suas reais condições para disputar o curso escolhido e mudar suas opções, caso concluam que não terão oportunidade de ser aprovados.  Como o vestibular unificado das universidades federais permitirá que os estudantes cursem a graduação fora de seus Estados de origem, o MEC se compromete a ampliar os recursos para assistência estudantil, que serão distribuídos por meio de bolsas de estudos, e para a construção de restaurantes universitários e alojamentos. Neste ano, o órgão deve repassar R$ 200 milhões às universidades federais para assistência estudantil. O ministro prometeu dobrar esse valor em 2010. O objetivo dessa medida é evitar a evasão escolar e o trancamento de matrícula, assegurando aos estudantes de baixa renda condições de se manterem durante o curso. Alguns dirigentes universitários, contudo, criticam a ênfase dada por Haddad à possibilidade de estudantes das regiões menos desenvolvidas fazerem a graduação nas regiões mais desenvolvidas. “A mobilidade pretendida pelo MEC vai ocorrer na mão inversa. Não vai ser o estudante do Norte e Nordeste que se mudará para o Sul e Sudeste. As classes mais abastadas têm maior rendimento no Enem e vão roubar as vagas nos outros Estados. Em vez de democratizar o acesso, vai elitizá-lo”, diz o coordenador do vestibular da Universidade Federal Fluminense, Nelliton Ventura.  Especialistas também receiam que, como as notas médias do Enem são baixas, a proposta do MEC leve ao rebaixamento dos níveis de exigência do vestibular. “Não é impossível que boas universidades federais sejam afetadas negativamente pela nivelação por baixo que o Enem representa. Mesmo que se fale em ampliação do elenco de disciplinas e questões, há sempre o risco de que uma avaliação genérica não cubra as demandas de conteúdo das universidades mais exigentes. Algumas se defenderão criando mecanismos internos de peneiramento, o que na prática reinstaura o vestibular e proclama sua necessidade”, afirmou o professor da USP José de Souza Martins, em artigo publicado no Estado. Ele também teme o surgimento de uma nova “indústria” – a de cursinhos supletivos criados para “turbinar” os alunos da escola média para os exames do Enem.  Inspirada no sistema adotado nos Estados Unidos, a proposta do MEC tem o apoio da maioria dos reitores das federais e pode ser aperfeiçoada. Cabe a eles determinar o ritmo adequado para a implantação do projeto, a fim de que uma boa ideia não seja comprometida por interesses eleitorais.


 

Financiamento e expansão do ensino superior  (Folha de S.Paulo – Tendências/Debates – 09/04/09)

A FORMAÇÃO superior não só prepara profissionais tecnicamente mais habilitados e competitivos mas também eleva o nível cultural e político de um povo, com efeitos positivos no aumento da produtividade e do PIB. No Brasil, apenas 8% da população adulta tem formação superior, enquanto na média dos países da OCDE esse número é 26%. A Coreia tem 32%, a Espanha, 28%, a Rússia, 55%, e o Chile, 13%.  Entre 1980 e 1996, houve um grande crescimento de matrículas em todo o mundo diante do reconhecimento desse investimento como alavanca do desenvolvimento. No entanto, no Brasil, as matrículas cresceram somente 22%, enquanto no México cresceram 165%, na Coreia, 259%, na Austrália, 158%, e em Portugal, 243%.  Com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996, houve um choque de oferta, com uma desregulamentação na criação de cursos e instituições que fez o sistema crescer rapidamente, passando a ter 240 mil matrículas por ano.  O acentuado crescimento de matrículas observado no final da década de 1990 e início desta está, claramente, caminhando para a saturação. A projeção de crescimento indica para a próxima década uma saturação das matrículas entre 5 milhões e 5,5 milhões -um número bem abaixo do objetivo do Plano Nacional de Educação, de 7,5 milhões. Para atingir tal meta, seria necessário um aumento médio de 500 mil matrículas por ano. Os estudantes universitários brasileiros são originários, em sua esmagadora maioria, das classes A, B e C+. No setor público, 82% dos estudantes provêm de famílias com renda nos 40% mais ricos, e no setor privado esse número é de 91%. Enquanto o Brasil não conseguir incluir as classes intermediária e de baixa renda, não será possível aumentar a formação de nível superior em um modelo em que o setor público possui altos custos e o setor privado é majoritário.  Com a atual crise financeira mundial, mais difícil será melhorar esse panorama para as instituições de ensino superior privadas e para os estudantes. A demanda tende a cair, e a evasão, tanto no setor privado quanto no setor público, tende a aumentar. Para socorrer a educação superior e retomar uma política de crescimento, seria possível auxiliar diretamente as instituições de ensino superior via linhas especiais de empréstimos -o que irá, na melhor das hipóteses, equilibrar seus fluxos de caixa no curto prazo- ou, o que parece mais lógico, aumentar o financiamento direto ao aluno, garantindo seu ingresso e sua permanência no ensino superior. Para aumentar significativamente a demanda proveniente das classes de renda inferiores, seria necessário financiar o estudante não só em relação à mensalidade mas também em relação à sua manutenção enquanto estudante (inclusive para alunos do setor público).  Os programas governamentais -Fies (restituível) e ProUni (não restituível)- e outros programas privados ainda são insuficientes para que as matrículas de nível superior se aproximem dos valores previstos no Plano Nacional de Educação. E, certamente, um gigantesco projeto de financiamento governamental aos estudantes é inviável. A melhor -e talvez única- proposta viável é estimular a demanda por meio de uma parceria entre os setores público e privado, em que o governo estimulasse, por meio de políticas de apoio ou garantias, empréstimos restituíveis concedidos aos estudantes de nível superior, financiados por fundos privados. Exemplos bem-sucedidos de programas desse tipo são os Estados Unidos, onde 95% dos estudantes de ensino superior recebem alguma forma de financiamento ou auxílio para sua formação, além de muitos outros países, como Canadá, Austrália e Chile. A mais importante forma de financiamento nos EUA é o empréstimo federal, que, sozinho, responde por mais de 50% do total dos auxílios. Esses empréstimos podem ser dados a estudantes de graduação e pós-graduação, por meio da instituição ou de agentes financeiros, podendo ser subsidiados ou não, dependendo da renda.
Se o empréstimo for subsidiado, o estudante não paga juros até seis meses depois de formado. Esse programa é chamado “Federal Family Education Loan Program” (FFELP). Os agentes financeiros privados têm pouco risco no empréstimo aos estudantes porque o governo federal garante cerca de 98% desses empréstimos. Em 2003, havia nos EUA mais de 3.500 agentes financeiros nesse mercado de empréstimos que inclui bancos, instituições sem fins lucrativos e agentes com fins lucrativos, uma carteira de mais de US$ 200 bilhões.
Por que não adotar solução semelhante no Brasil?

ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO, 70, doutor em física pela Universidade de Purdue (EUA), é presidente do Instituto Lobo. Foi reitor da USP (1990-1993) e da Universidade de Mogi das Cruzes (1996-1999).

OSCAR HIPOLITO, 64, ex-diretor do Instituto de Física da USP-São Carlos, é consultor do Instituto Lobo.


Fim do vestibular: Haddad diz que novo Enem veio para ficar e que cursinho é ‘anomalia’  (Globo On Line – Vestibular – 11/04/09)

O ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que a proposta do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) veio para ficar e que 2010 pode ser o ano do enterro do vestibular. Em entrevista ao repórter Demétrio Weber, publicada na edição deste sábado de O GLOBO, Haddad afirma que o novo exame enfraquecerá o sistema dos cursinhos pré-vestibulares, chamados por ele de “anomalia brasileira”, e reestruturará o ensino médio. Os cursinhos, porém, começam a se adaptar à novidade. ( Confira a íntegra da entrevista no blog Educação à Brasileira) . “O mundo não trabalha com o conceito de cursinho pré-vestibular. É uma anomalia brasileira em virtude de não termos alterado a tempo o formato atual de vestibular. Ele é próprio dessa anomalia. Com o novo formato, penso que alguns vão se adequar e haverá espaço ainda para isso. Mas o ensino médio é que será o grande beneficiado, porque vai poder se reestruturar de uma maneira muito mais adequada”, diz. O ministro corre para implantar a nova prova ainda este ano. A ideia é aplicar o teste nos dias 3 e 4 de outubro , mas o alcance da medida dependerá do grau de adesão das instituições, que começam a debater internamente o assunto. ( O que você acha da proposta de substituir o vestibular pelo Enem? ) . Lembrado no PT para disputar as eleições de 2010, desconversa: “Não acho que nada em educação sirva de slogan para campanha, porque são processos muito lentos”.


Em vez de vestibular, Enem pode ajudar alunos de escolas públicas  (Gazeta de Limeira – Local – 12/04/09)

A substituição do tradicional vestibular pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para o ingresso às universidades federais, proposta pelo Ministério da Educação (MEC), agradou a Diretoria Regional de Ensino de Limeira que, diante das limitadas informações sobre o assunto, acredita que os alunos das escolas públicas poderão ser beneficiados.  De acordo com a dirigente substituta, Silvia Koshikumo, a maioria dos alunos que conclui o ensino médio não tem condições de arcar com os custos de um cursinho preparatório para os vestibulares. Por outro lado, muitos apresentam excelente desempenho no Enem. “Pelo que analisamos, devem aumentar as chances de alunos de escolas públicas ingressaram nas faculdades. No Enem, os estudantes conseguem mostrar se estão aptos a dar prosseguimento nos estudos, até porque o exame se apropria dos conteúdos do ensino médio.  Com a nova proposta, a prova de seleção seria um Enem modificado e passaria a exigir mais conteúdo específico, assim como os vestibulares tradicionais, mas dando prioridade à capacidade analítica sobre a “decoreba”. “Será bom mesmo porque é fato que, quando os alunos decoram, logo se esquecem e não desenvolvem a capacidade de racicínio sobre o assunto. A capacidade analítica estimula o pensamento e a formação de opiniões claras, em diversas situações. A “decoreba” será importante apenas para aquele momento”, completa Silvia. O novo vestibular unificado das universidades federais deverá ainda permitir que os candidatos escolham até cinco opções de curso, que podem ser oferecidos por até cinco instituições. No ato da inscrição, o aluno teria que ordenar suas preferências. Quem colocou um curso como primeira opção teria prioridade, mesmo que a sua nota tenha sido menor, sobre outro candidato que escolheu o mesmo curso como segunda opção e não foi selecionado para a sua primeira escolha. Ficaria a critério das instituições realizar uma segunda fase. Um outro diferencial é que o aluno elencaria as suas opções de curso, após saber o resultado do exame. Isso permitiria ao estudante, até determinada data, mudar suas opções de acordo com a pontuação. Com isso, no segundo ano do novo vestibular, já poderia saber a pontuação mínima de quem entrou em determinado curso no ano anterior e ter uma ideia de suas chances de passar.


CURSINHOS

O coordenador da Pandora Vestibulares, Diego Silva, contou à Gazeta que nesta semana discutia sobre o assunto com a direção do cursinho e afirmou que a principal mudança será a alteração da grade curricular. “A maioria das unidades preparatórias para vestibulares foram pegas de surpresa. Se essa medida for implantada ainda este ano, como está sendo previsto, muitas não darão conta de suprir as necessidades. Já estamos nos organizando, mas confesso que será um desafio, não só para nós, mas para todos os locais de preparação para as provas seletivas”. Isso porque o Enem acontece em outubro, mas estuda-se antecipá-lo para setembro, caso o novo modelo seja aplicado ainda neste ano e as faculdades optem por realizar uma segunda fase. Por outro lado, Silva diz que os candidatos serão favorecidos com a mudança, porque poderão optar melhor sobre o curso em que pretendem atuar. Na opinião do coordenador, a concorrência também deve melhorar.