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14/09/2011 / Em: Clipping

 


Instituições de ensino privadas são essenciais  (O Estado de S.Paulo – Espaço Aberto – 14/09/11)

As instituições privadas de ensino superior assumem posição muito estratégica no Brasil, pois depende delas o sucesso na consecução de três metas decisivas para o desenvolvimento nacional: atendimento à demanda anual de alunos, formação de recursos humanos qualificados e em número suficiente para impedir o “apagão” de mão de obra que se delineia no País e incremento da pesquisa e inovação– que, a despeito de seu avanço, não podem ficar restritas a poucas universidades, tanto públicas quanto privadas. No tocante ao primeiro objetivo, cabe enfatizar que a cada ano se formam 2 milhões de jovens no ensino médio brasileiro, dos quais 1,1 milhão ingressa diretamente em faculdades. Esse número já inclui os bolsistas do Programa Universidade para Todos (ProUni) e os abrangidos pelo sistema de cotas. Apesar de o ProUniter contribuído para que expressivo contingente de jovens passasse a ter acesso à educação universitária, a verdade é que ainda temos um déficit anual de 900 mil estudantes. Estes não conseguem entrar em instituições públicas ou não pode marcar com as anuidades de escolas particulares. Estima-se que mais 100 mil vagas sejam criadas nas universidades públicas federais, em decorrência do investimento de R$ 2,4 bilhões anunciado pelo governo em 2010. Mesmo assim, continuamos com uma demanda reprimida de 800 mil alunos/ ano fora do ensino superior. É preciso atendê-los com qualidade, o que somente será possível, em curto prazo,  por meio de instituições privadas, mediante ampliação dos programas de bolsas de estudos, muito viáveis e exeqüíveis, conforme tem evidenciado o sucesso do ProUni. As faculdades particulares, portanto, devem estar cada vez mais preparadas para esse propósito. Quanto à formação de recursos humanos, um desafio consentâneo com a capacidade de atendimento à demanda de alunos, não basta oferecer vagas, é crucial a qualidade da formação acadêmica. Um bom exemplo relativo às profissões de nível de ensino superior se refere aos engenheiros. Formam-se 38 mil desses profissionais por ano no Brasil, mas a demanda do mercado é de 60 mil. A procura tende a ser cada vez maior, em razão do crescimento da indústria do petróleo e do pré-sal. Além disso, há toda a demanda relativa à edificação da infra-instrutora necessária à realização da Copa do Mundo da Fifa, em 2014, e da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Pelo menos as 12 cidades brasileiras que sediarão o mundial de futebol, dentre elas a capital fluminense, na qual terá lugar as duas competições, serão autênticos canteiros de obras nos próximos anos, considerando as reformas e a construção de estádios, adequação dos espaços urbanos, estruturas de transportes coletivos e adequação de aeroportos. Levando em conta o atraso nos cronogramas, é possível inferir a grande demanda de engenheiros e profissionais de áreas correlatas, em curto espaço de tempo. Finalmente, no que diz respeito à pesquisa e inovação, ainda é insipiente o seu desempenho no contexto das instituições particulares, ao contrário do que se observa em numerosos países desenvolvidos, em especial no tocante à ciência aplicada. É verdade que são relevantes os avanços do Brasil nesse campo tão decisivo para o fomento econômico. Nossas universidades formam cerca de 12 mil doutores por ano, número que deverá crescer de modo significativo a partir do novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG). O País também já havia alcançado o 13.º lugar no ranking mundial da produção científica, posição conquistada em 2008. Naquele ano, a publicação de artigos científicos atingiu a expressiva marca e 30.451. Para ampliarmos todos esses indicadores precisamos de novas alternativas. Nesse sentido, exemplo interessante vem da União Européia, especificamente da Espanha. O programa Campus de Excelência Internacional– que surgiu por causa da crise econômica nacional – conta com 37 projetos, de 35 universidades, que são mantidos com 70% de recursos públicos, e o restante do financiamento é proveniente de empresas. Para prestar esse importante auxílio essas organizações observam e acompanham o desenvolvimento dos projetos. Avançar em produção científica, pesquisa e inovação é crucial, pois nossos indicadores estão aquém das necessidades de uma nação com 190 milhões de habitantes, detentora da maior reserva hídrica, da mais ampla biodiversidade, da mais extensa área disponível para agricultura e bioenergia e de uma das mais abundantes reservas petrolíferas do mundo (a do pré-sal). Ou seja, um país que precisa de conhecimento e tecnologia para converter seus fabulosos recursos naturais em fatores de soberania, geração de riquezas, criação de empregos e vantagens competitivas no âmbito da economia mundial. Não podemos esperar que toda essa demanda possa ser atendida apenas nos laboratórios acadêmicos do setor público. Por todas essas razões, a gestão das instituições privadas do ensino superior deve ser eficaz e profissional. Essas escolas, tão ou mais do que as empresas, Precisam responder aos requisitos contemporâneos da sustentabilidade, sendo economicamente viáveis e, principalmente, socialmente justas, para terem longevidade, poderem receber alunos de todas as esferas socioeconômicas, ministrar lhes educação acadêmica de excelência e produzir tecnologia e conhecimento. Estamos construindo o Brasil que queremos para o futuro dos nossos filhos e netos. Por isso a academia tem enorme responsabilidade em oferecer o que tem de melhor, independentemente das instituições de ensino serem com ou sem fins lucrativos. O País precisa que seja assim!

ECONOMISTA, ESPECIALISTA
EM ENSINO SUPERIOR, É
DIRETOR-GERAL DA ASSOCIAÇÃO
SANTA MARCELINA, MANTENEDORA
DOS COLÉGIOS E FACULDADES
SANTA MARCELINA

Quadro desalentador  (O Estado de S.Paulo – Notas e Informações – 14/09/11)

Confirmando o que já havia sido apontado pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica, os números do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mostram que o Brasil continua com uma educação de péssima qualidade e desigual. Além de revelar que a participação das escolas públicas entre as melhores do País está em queda, o Enem de 2010 mostrou que a rede particular também teve um desempenho pior do que o esperado. Criado em 1999 para avaliar a qualidade do ensino médio, o Enem é uma prova voluntária que há dois anos foi convertida em mecanismo seletivo de universidades públicas e particulares, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Em 2010, o teste atraiu cerca de 4,6 milhões de concluintes do ensino médio de 23,9 mil escolas públicas e privadas localizadas em 1.689 cidades do País. A nota média dos estudantes foi de 553,73 pontos, numa escala de até mil. A nota considera o desempenho na redação e nas provas objetivas. No Enem de 2010, nada menos do que 8.926 escolas públicas– o equivalente a 75% da rede oficial – ficaram abaixo da média. Das 20 escolas com as maiores médias, 18 são particulares e somente 2 são públicas. As 20 escolas com as piores médias são públicas. Entre as mil escolas com as médias mais baixas, 995 são públicas e apenas 5 são privadas. Das mil escolas com as médias mais altas, 912 são particulares e 88 são públicas. No grupo de elite, que reúne as melhores escolas, o número de unidades da rede pública, proporcionalmente ao número de escolas da rede privada, caiu de 8,4% para 7,9%, entre 2009 e 2010. E as escolas da rede oficial que ficaram no topo são, na maioria, colégios de aplicação ligados a universidades federais, escolas técnicas e escolas mantidas por corporações militares. Ou seja, são estabelecimentos educacionais que têm poucas vagas e adotam um processo seletivo tão disputado quanto os vestibulares das mais conceituadas universidades. Nas demais unidades da rede pública, cuja grande maioria está a cargo dos Estados, não há exame para preenchimento das vagas. A rede pública atende cerca de 88% dos alunos do ensino médio. Segundo os especialistas, para alcançar o nível de formação de seus colegas da rede particular, os estudantes da rede oficial teriam de estudar mais dois anos, no mínimo. A maioria desses estudantes conclui o ensino médio com a formação que deveria ter ao deixar o ensino fundamental. Em resumo, os resultados do Enem de 2010 atestam a falência do ensino médio público. O ministro da Educação, Fernando Haddad, por diversas vezes afirmou que este é o principal gargalo do sistema educacional. Para muitos pedagogos, o ensino médio é a principal vítima da falta de continuidade de políticas educacionais e do costume dos governadores de usara rede escolar oficial com propósitos eleiçoeiros. Frequentemente, para marcar sua gestão, o secretário interrompe os planos da gestão anterior e tenta implantar projetos novos, esquecendo-se do que é básico – boas condições de trabalho, salários dignos e boa relação entre alunos e professores. Com isso, as Secretarias Estaduais da Educação vão engavetando uma sucessão de planos muitas vezes irrealistas e mirabolantes, enquanto há escolas sem professores e funcionários de apoio e outra sem que os docentes, além de desmotivados, são obrigados a trabalhar fora de sua área de formação. Já a queda na pontuação de escolas particulares tradicionais– especialmente em São Paulo – não causou maiores preocupações aos pedagogos. segundo eles, como a USP e a Unicamp não levam em conta os resultados do Enem em seus exames vestibulares e como são poucas as opções de cursos oferecidos por universidades federais em todo o Estado, os melhores alunos das escolas privadas não se interessam pela prova. As informações proporcionadas pelo Enem de 2010 mostram, assim, que a rede pública de ensino médio continua à deriva e que nem o governo federal nem os governos estaduais parecem saber o que fazer para mudar esse quadro desalentador.