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16/10/2008 / Em: Clipping

 


Escolaridade de negros e de brancos só se igualará em 17 anos

As desigualdades entre negros e brancos no sistema de ensino diminuíram nos últimos anos. Apesar disso, os negros estão acima da idade adequada aos níveis que freqüentam e, no ritmo atual, a diferença entre os dois segmentos só acabará em 17 anos. O dado foi revelado por um estudo divulgado nesta quarta-feira (15) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
 
De acordo com a pesquisa, entre 1995 e 2006 a taxa média de crescimento anual do número de anos na escola foi de 1,03 entre os brancos e de 1,06 entre os pretos e pardos. Apesar do pequeno avanço, em 2006, a população branca acima de 15 anos tinha oito anos de estudo, o equivalente à totalidade do ensino fundamental, contra seis anos entre os negros.



Pesquisa estima que escolaridade de negros e de brancos só se igualará em 17 anos

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Estudo divulgado hoje (15) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra que as desigualdades entre negros e brancos no sistema de ensino diminuíram nos últimos anos, mas revela que os negros estão acima da idade adequada aos níveis que freqüentam e, no ritmo atual, a diferença entre os dois segmentos só acabará em 17 anos.

De acordo com a pesquisa, entre 1995 e 2006 a taxa média de crescimento anual do número de anos na escola foi de 1,03 entre os brancos e de 1,06 entre os pretos e pardos. Apesar do pequeno avanço, em 2006, a população branca acima de 15 anos tinha oito anos de estudo, o equivalente à totalidade do ensino fundamental, contra seis anos entre os negros.



Audácia na educação

Análise de dados da Pnad pelo Ipea indica evolução lenta na escolaridade; ensino médio deveria passar a ser obrigatório

O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apresentou uma súmula da marcha da educação no Brasil até 2007 que põe a nu tanto os avanços inegáveis quanto as mazelas tradicionais do setor.
Na base da análise do Ipea estão os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2007). Esse tipo de série histórica lança pouca luz sobre as variações anuais, que tendem a situar-se no intervalo das flutuações estatísticas e por isso oferecem pouca informação, mas são úteis para acompanhar a dinâmica das transformações de fundo.
A taxa de analfabetismo caiu 0,4 ponto percentual, chegando a 10%. Bem melhor que os 17,2% de 1992, por certo, mas ainda muito desigual: 20% no Nordeste e 5,4% no Sul, única região a registrar índice comparável com o de países civilizados. Porém, 90% dos analfabetos têm mais de 25 anos, a indicar que esse estoque de marginalizados só poderá ser zerado no decurso de uma ou duas gerações, pois a universalização do ensino fundamental segue adiante, com mais de 97% das crianças de 7 a 14 anos na escola, cifra mantida desde 2003.
O país se aproxima do cumprimento da obrigação constitucional de oferecer oito anos de ensino fundamental a todos os cidadãos (artigo 208, inciso I), mas de modo lento. A média nacional de anos de estudo está em 7,3, também com disparidades regionais (6 no Nordeste, 8 no Sudeste). Ganho de pouco mais de um mês de escolaridade entre 2006 e 2007, mas um ano e meio se considerada a década completa. Nesse ritmo, os oito anos só serão alcançados em 2012, na melhor hipótese.
Na era da economia do conhecimento, contudo, oito anos são insuficientes. A educação de nível secundário (11 anos de estudo, pelo menos) é encarada como o patamar mínimo para que a força de trabalho de uma economia a ponha em situação de competir no mercado internacional.
Tal patamar, se mantido o ritmo presente de melhora, só deverá ser alcançado em 2033. É tempo demais. Por muito que se tenha avançado em matéria de prioridade para a educação, na opinião pública e nas esferas de governo, culminando com o bem-encaminhado Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), as medidas em fase de implementação necessariamente demoram a produzir efeitos.
Está na hora de dar um novo e ousado passo à frente: incluir os três anos de ensino médio na educação obrigatória, como já fizeram Chile e Argentina.
Não basta, é óbvio, alterar a norma legal e criar uma obrigação impossível de cumprir pelos pais, se não houver vagas suficientes e ensino gratuito de qualidade para que todos possam aprender e concluir o currículo na idade certa. Hoje, dos 82% de jovens de 15 a 17 anos na escola, só 48% estavam no ensino médio, o nível adequado.
O país tem de fazer mais por eles -e por seu próprio futuro.