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19/07/2012 / Em: Clipping

 

Editor inglês defende avaliação internacional de universidades  (O Estado de S.Paulo – Estadão – 18/07/12)

O jornalista britânico Phil Baty, editor da Times Higher Education (THE), revista dedicada à classificação de universidades, defendeu o sistema usado pela publicação para avaliar instituições de educação superior em diversos países. Ele também convidou as instituições brasileiras de ensino a trabalhar em conjunto com a revista na construção de um sistema de avaliação mais justo para o ensino superior no Brasil. Todos os anos, a THE divulga a classificação das 100 melhores universidades do planeta, em parceria com a companhia Thomson Reuters. Baty chegou a Brasília na terça-feira, 17, a convite do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), para fazer palestra no Ministério da Educação. Ao defender a classificação da revista, Baty disse que o sistema de avaliação pode influenciar a vida das universidades para melhor, com atuação em diferentes áreas. No caso das próprias instituições, ele observou que os rankings servem como selo de qualidade formal nos países onde inexistem medidas de avaliação. Para os alunos, o jornalista salienta que a classificação impulsiona as instituições a melhorar as experiências de aprendizagem. “Para os professores, ela incentiva a colaboração, as parcerias, os programas compartilhados”, observou. Depois da criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e com a intensificação das ações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes) na avaliação dos programas de pós-graduação, as universidades brasileiras buscam cada vez mais a melhoria em seus indicadores de qualidade. As que estão mais bem classificadas na listagem da THE 2011/2012, são a USP (178ª) e a Unicamp (294ª). Segundo o presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, a ideia da classificação de instituições de ensino é polêmica, mas os desafios da internacionalização obrigam as universidades brasileiras a discutir os sistemas de avaliação internacional: “Não temos que quebrar o termômetro. O que devemos fazer é melhorar nossa avaliação.”Costa lembrou que a expansão das universidades, a partir de 2002 – quando o Brasil saltou de apenas 300 mil formados por ano para mais de 1 milhão, em 2012 – oferece desafios adicionais para o governo e para as próprias instituições. Ele observou que, de um total de 2.389, só 250 são universidades. “Queremos dar passos que apontem para a internacionalização, uma tendência mundial”, afirmou o presidente do Inep. A palestra foi ministrada a reitores de universidades, pró-reitores e representantes de entidades ligadas à educação superior no país.

 

Analfabetos na universidade  (O Estado de S.Paulo – Notas e Informações – 19/07/12)

Sempre se soube que um dos principais entraves ao crescimento do Brasil é o gargalo educacional. Novas pesquisas, porém, revelam que o problema é muito mais grave do que se supunha. A mais recente, elaborada pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Educativa, mostrou que 38% dos estudantes do ensino superior no País simplesmente “não dominam habilidades básicas de leitura e escrita”. O Indicador de Analfabetismo Funcional, que resulta desse trabalho, não mede capacidades complexas. Ele é obtido a partir de perguntas relacionadas ao cotidiano dos estudantes, como o cálculo do desconto em uma compra ou o trajeto de um ônibus. Mesmo assim, 38% dos pesquisados não atingiram o nível considerado “pleno” de alfabetização, isto é, não conseguem entender o que lêem nem fazer associações com as informações que recebem. Para os autores da pesquisa, resumida pelo Estado (16/7),os resultados indicam que o notável aumento da escolarização verificado nas últimas décadas ainda não se traduz em desempenho minimamente satisfatório em habilidades básicas, como ler e escrever, e isso num ambiente em que essas etapas do aprendizado já deveriam ter ido plenamente superadas, isto é, nas universidades.A “popularização” do ensino superior, com a abertura indiscriminada de faculdades ávidas por explorar um público de baixa escolaridade–que não consegue ingresso nas universidades de prestígio, mas sabe que o diploma é uma espécie de “passaporte”para melhorar o salário–, é vista como um dos fatores principais do fenômeno. Essas escolas, concluem os especialistas, se adaptaram confortavelmente a um mercado consolidado, e só reagirão diante da exigência sistemática por melhor qualidade,que deve vir do governo e dos próprios alunos. No entanto, o tempo para a reversão desse quadro é curto. O sentido de urgência se dá diante do desafio de colocar o Brasil entre os países mais competitivos do mundo, ante o encolhimento dos mercados por conta da crise.A situação de semi analfabetismo nos campi brasileiros–que contraria o discurso populista da presidente Dilma Rousseff segundo o qual seu governo,como o anterior, cuida mais dos jovens do que do PIB – talvez seja o indicador mais importante para medir o tamanho do fosso que nos separa do mundo desenvolvido.Em primeiro lugar, a indigência intelectual compromete os projetos de aperfeiçoamento profissional, por mais bem-intencionados que sejam. Não se pode esperar que egressos de faculdades sem nenhuma qualificação possam acompanhar as mudanças tecnológicas e científicas cujo desenvolvimento é precisamente o que determina a diferença entre países ricos e pobres. A China, por exemplo, já entendeu que sua passagem de “emergente”  para“  desenvolvida” não pode prescindir da qualificação de seus trabalhadores, como mostrou José Pastore,em artigo no Estado (16/7).Os chineses, diz Pastore, têm investido pesadamente no ensino superior, cujas matrículas foram multiplicadas por seis nos últimos dez anos. Agora, quase 20% dos jovens em idade universitária estão no ensino superior na China, enquanto no Brasil não passam de 10%. Ademais, a China demonstra há décadas um vivo interesse em enviar estudantes ao exterior, para uma preciosa troca de informações que encurta o caminho do país na direção do domínio técnico essencial a seu desenvolvimento. Só em 2008, diz Pastore, os chineses mandaram 180 mil estudantes para as melhores universidades do mundo, volume que se mantém ano a ano. O Brasil apenas iniciou o Programa Ciência Sem Fronteira, que pretende enviar 110 mil estudantes nos próximos anos.O impacto do investimento chinês em educação aparece no cenário segundo o qual quase metade do extraordinário crescimento econômico do país resulta desse esforço de qualificação. Assim, se o Brasil tem alguma pretensão de competir como gigante chinês, ou mesmo com países emergentes menos pujantes, o primeiro passo talvez seja admitir que é inaceitável entregar diplomas universitários a quem seria reconhecido como analfabeto em qualquer lugar do mundo civilizado.