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20/10/2014 / Em: Clipping

 


Aposentado de 78 anos estuda 2 horas diárias por vaga na Unicamp   (Globo.Com – G1 Campinas e Região – 20/10/14)

É na frente de uma casa modesta com parede azul, em contraste com tons verdes de plantas aos cantos do muro, que o aposentado José Yong Gonçalves da Cunha, de 78 anos, inicia a rotina de estudos para o vestibular 2015 da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Logo após bebericar café, divide-se entre o cigarro e um jornal. “Estou lendo sobre petróleo. Vai que cai na prova né?”, frisou com preocupação semelhante a de alunos do ensino médio. Ressabiado no início de conversa com o G1, o técnico agrícola, aos poucos, contou sobre o sonho de ser aprovado no curso de Tecnologia de Construção em Edifícios, em Limeira (SP), e ter ensino superior. A opção deve-se à concorrência inferior quando há comparação com Engenharia Civil, para o qual ele foi aprovado em 1978, mas não conseguiu finalizar a tempo por causa de percalços durante a trajetória. “Quem sabe, se aprovado, consigo transferência para fazer matérias do curso. Vai dar certo”, ressaltou. Se tiver sucesso na disputa, que começa em 23 de novembro, ele será o aluno mais velho da instituição. Cunha aposentou-se há oito anos como técnico agrícola e mora sozinho em uma rua onde há pouco movimento, em Americana (SP). Apesar de incômodos gerados pela recente cirurgia de catarata, sobretudo quando exposto ao sol, reserva duas horas diárias aos estudos para tentar melhorar o desempenho obtido na prova de 2014, por não ter avançado à segunda fase do exame. O local escolhido é o sofá preto em sala com piso de madeira, onde fica sob as proteções de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida e também pela foto emoldurada do Papa João Paulo II. “Eu fui bem, mas inglês estava muito difícil. Espero que esteja mais fácil agora porque em matemática e física, que são prioritárias, eu vou bem”, ponderou antes de sorrir, sem disfarce, sobre aumento de dedicação com a disciplina. “Ainda não, dá tempo”, brincou o aposentado.



A hora e a vez do ensino fundamental (O Estado de S.Paulo – Opinião – 20/10/14)

As universidades públicas do Estado de São Paulo – USP, Unicamp e Unesp – passaram nos últimos meses por uma greve e uma crise que se pode chamar de “conjuntural”, mas não pode ser considerada um problema permanente ou “estrutural”. Apesar dos problemas, elas são universidades de Primeiro Mundo, por qualquer critério que se use para medir o seu desempenho: são comparáveis às universidades da Europa e da América do Norte e se encontram entre as 200 melhores universidades do mundo, onde existem 10 mil universidades. No entretanto, elas custam ao Estado de São Paulo cerca de 10% dos impostos estaduais. O custo por aluno é próximo de R$ 50 mil por ano, que é o custo típico da anuidade dos estudantes nas universidades pagas no exterior. Os salários dos professores das universidades do Estado são também comparáveis aos de seus colegas em muitos países desenvolvidos. Esses números são extraordinários para um país em desenvolvimento e um testemunho claro da mentalidade esclarecida do governo do nosso Estado desde 1934, quando foi criada a Universidade de São Paulo (USP). São poucos os países onde a elite dirigente decidiu conscientemente investir tão pesadamente no ensino superior. Apesar desse esforço, só há lugar nas universidades públicas para cerca de 20% dos alunos que completam o ensino médio. Universidades privadas suprem as demais vagas, cobrando anuidades dos estudantes. Apesar de existirem mecanismos de financiamento governamental, como o Programa Universidade para Todos (ProUni), para atenuar esse problema, há ainda muito a fazer.

*José Goldemberg é professor emérito e ex-reitor da USP; foi ministro da Educação 

USP, Unesp e Unicamp lideram produção científica do País   (O Estado de S.Paulo – Educação – 17/10/14)

As três universidades brasileiras melhores colocadas nos principais rankings internacionais são as estaduais de São Paulo: a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Essas instituições lideram a produção científica do País e também o impacto das pesquisas nacionais – ou seja, o quanto esses estudos são citados em outros artigos, nacionais ou estrangeiros.  Fortes nas carreiras acadêmicas, as três dão aos alunos a oportunidade, desde cedo, de começar nas iniciações científicas. Essas pesquisas são a porta de entrada para quem deseja seguir no mestrado e no doutorado. A coordenadora do programa institucional de iniciação científica da Unesp, Maysa Furlan, diz que essa modalidade de pesquisa abre as portas para a carreira acadêmica, mas que também permite conhecer outras vertentes das profissões. A procura, segundo ela, não é só de alunos que querem ser cientistas. Há estudantes que desenvolvem projetos de cunho tecnológico e de inovação, voltados para o desenvolvimento industrial, por exemplo. “Temos observado um crescente interesse das diferentes áreas do saber, mostrando um certo equilíbrio, respaldado no despertar dos estudantes das áreas tecnológicas”, explica. Ela conta que os alunos da iniciação participam nos primeiros anos da graduação dos grupos de pesquisa da pós, já formados ou não. Para continuar na liderança da produção acadêmica, o objetivo dessas instituições é atrair os melhores alunos do País.


 
Locomotiva científica   (Folha de S.Paulo – Editorial – 18/10/14)

Pode parecer má nova para a ciência paulista, mas é uma boa notícia para o Brasil: a pesquisa científica está um pouco menos concentrada no Estado de São Paulo. A produção de conhecimento e inovação é bom indicador de que uma região de fato se desenvolve, e não apenas expande sua economia. A dispersão se manifesta como perda relativa de participação de USP, Unicamp e Unesp no total de artigos em periódicos de relevância internacional. De 2004 a 2006, a fatia paulista era de 44%; em 2012 e 2013, recuou para 37%. Há que fazer duas qualificações a respeito dessas cifras. Primeiro, cabe assinalar que a mudança é pequena e pode bem representar mais uma flutuação do que uma tendência, a qual só os dados dos próximos anos poderão confirmar. Além disso, seria mais correto dizer que a produção paulista retornou ao patamar que ocupava antes. Em 1981, representava os mesmos 37% da pesquisa nacional. De todo modo, é um percentual mais próximo do peso do Estado no PIB brasileiro, pouco abaixo de um terço da riqueza produzida no país. Numa economia com menos discrepâncias regionais, seria de esperar que as parcelas de pesquisa e produto fossem mais próximas. Uma das razões para o decréscimo paulista está sem dúvida na prolífica criação de universidades federais na última década, sobretudo durante o governo Lula. Hoje há 63 dessas instituições espalhadas pelo território nacional, 18 delas inauguradas desde 2003. Essa não é a história toda, contudo. Embora São Paulo tenha perdido participação, a pesquisa feita no Estado se distancia do restante do país em repercussão internacional –segundo o indicador de qualidade e relevância representado pela quantidade de citações originadas pelos artigos científicos. A média nacional, que crescia lentamente desde os anos 1980, oscila desde 2003 em torno de 0,69 citação por estudo publicado. Não chega a ser surpresa, pois novos grupos de pesquisa demoram alguns anos para se fazer notar no competitivo cenário internacional. As universidades paulistas, por outro lado, sobretudo as duas com maior tradição em pesquisa (USP e Unicamp), seguem em trajetória ascendente, com escores por artigo de 0,84 e 0,80, respectivamente. Esse desempenho resulta de décadas de fomento à ciência com rígidos controles de qualidade. Faz bem o governo federal em expandir o sistema científico nacional, mas em algum momento precisará zelar para que sua produção, além de crescer, adquira relevância aos olhos do mundo.

Argentina e Costa Rica recebem mais alunos dos EUA do que o Brasil   (Folha Online – Educação/Blog da Sabine – 17/10/14)

O Brasil está no fim da lista de países para os quais os estudantes das universidades dos EUA –consideradas as melhores do mundo– viajam durante a graduação ou a pós. Só 1,4% dos alunos norte-americanos escolhem as instituições brasileiras para passar um período de estudos. O destino preferido dos estudantes norte-americanos é o Reino Unido, com 12,2% do total de viajantes. Outros três países europeus –Itália, Espanha e França– aparecem na sequência. Um em cada quatro alunos dos EUA escolhe um desses países como destino de estudos.As instituições brasileiras ocupam o 14º lugar da lista de destinos. O Brasil perde para países como Costa Rica (8º lugar), Argentina (11º) e Índia (12º). Os dados, de 2012, são do “Open doors report”, produzido recentemente pelo governo americano. Para se ter uma ideia, cerca de 4 mil estudantes norte-americanos vieram para o Brasil em 2012.  Do outro lado da rota, o tráfego é mais intenso: 10,8 mil estudantes brasileiros foram estudar em instituições de ensino superior americanas no mesmo período. O Brasil é o 7º país que mais envia alunos aos EUA; o primeiro, disparado, é a China, com 235,6 mil alunos enviados para os EUA em 2o12. Por que isso é tudo importante? Bom, o intercâmbio é fundamental para desenvolver a ciência e a produção do conhecimento. Os dados do relatório americano sinalizam que estamos indo bem quando se trata de enviar alunos para fora, mas estamos recebendo pouca gente de escolas de ponta. O problema, claramente, não é a língua portuguesa. Se fosse uma questão meramente de idioma, Itália e França, que ensinam em seus respectivos idiomas italiano e francês, não receberiam tantos estudantes norte-americanos –e a Austrália (7º lugar na demanda) estaria mais para cima da lista.