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21/01/2015 / Em: Clipping

 


Secretário aprova que formados em faculdade pública deem retorno   (Globo.Com – G1 Vestibular – 20/01/15)

O secretário da Educação do estado de São Paulo, Herman Voorwald, disse na manhã desta terça-feira (20) que aprova a ideia de que os alunos formados em universidades públicas prestem serviços à sociedade. A proposta foi feita pelo reitor da Universidade de São Paulo (USP) durante uma reunião do conselho universitário, como informou a “Folha de São Paulo. Procurada, a USP não se manifestou até as 13h”.  “É uma questão cultural. Nossa população não tem a cultura de entender o apoio público e retornar esse apoio público no momento em que ele está se beneficiando de toda a formação pública que ele teve.

Jovem quer ingressar aos 14 anos no curso de medicina com nota do Enem   (Globo.Com – G1 Vestibular – 20/01/15)

Aos 14 anos, José Victor Menezes Teles pode estar próximo de alcançar o sonho de cursar medicina na Universidade Federal de Sergipe (UFS). A pontuação necessária para pleitear uma vaga ele conseguiu no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) do fim do ano passado, mas somente uma decisão da Justiça pode autorizar ele utilizar a nota como comprovação de conclusão do 2º grau e, se selecionado, já iniciar as aulas do curso superior.  O jovem que teve um desempenho considerado exemplar ainda está cursando o 1º ano do Ensino Médio no Colégio Estadual Murilo Braga no município de Itabaiana (SE).



Notas zero refletem mudanças no Enem  (Gazeta do Povo/Curitiba – Educação – 20/01/15)

O número de zeros na prova de Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) cresceu cinco vezes em 2014, no comparativo com 2013. Ao todo, 529.374 candidatos tiveram a prova anulada ou a entregaram em branco, contra 106.742 do ano anterior. Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, as causas seriam o aumento do número de candidatos (o que eleva o número de zeros), falta de leitura dos participantes, maior rigor da banca que corrige as provas, um tema menos conhecido do que o do ano anterior e um retrato mais fiel da má qualidade do ensino no país. A surpresa é que de um ano para o outro o exame teve 22% a mais de inscritos, enquanto as provas com nota zero aumentaram em 500%. Essa discrepância revelaria um retrato mais fiel da precariedade da educação no país, além da mudança do perfil do próprio exame nos últimos anos, avalia a professora do Unibrasil e especialista em aprendizagem Wanda Camargo. Nos grandes centros a adesão ao Enem foi alta desde o começo e agora a maior participação de alunos de lugares menores tem exposto mais as deficiências do ensino. Contraditoriamente, a prova cresce na medida em que deixa de lado seu caráter inicial de avaliação do Ensino Médio e torna-se um substituto do vestibular, opina o professor Wellington Wella, do Colégio Positivo.



Corveia na USP  (Folha de S.Paulo – Opinião – 21/01/15)  

Hélio Schwartsman

O reitor da USP, Marco Antonio Zago, propõe que, depois de formados, alunos da instituição prestem serviços à sociedade, como contrapartida pelo ensino gratuito ali recebido. A ideia tem certo apelo, principalmente para aqueles cujas simpatias pendem para a esquerda. Receio, porém, que, se implantada, a proposta teria impacto negativo sobre a USP. A qualidade de uma instituição depende de vários fatores, mas um, ao qual raramente se dá o devido peso, é a capacidade de atrair estudantes de alto desempenho. O curso de medicina da USP, por exemplo, goza de melhor reputação do que os de várias boas escolas concorrentes, entre outras razões, porque é para lá que tendem a ir aqueles candidatos que passam em todos os vestibulares. Há algo de tautológico aqui, já que se invoca o sucesso para explicar o sucesso, mas o mundo está mesmo repleto desses paradoxos, como se vê no caso das listas de músicas mais populares ou das celebridades. Se a USP passasse a exigir um período de trabalho compulsório de seus egressos, sua capacidade de atrair os melhores candidatos diminuiria. Em várias carreiras, os cursos dados em universidades federais são igualmente bons e não teriam essa mensalidade travestida de serviço social. Ponto a favor deles. É verdade que, para muitos alunos da USP, pagamento não é um problema. Neste caso, a concorrência não seria só com instituições públicas, mas também com privadas, que, em áreas como direito e economia, já oferecem programas de excelente qualidade. E, para quem tem dinheiro, empenhar tempo futuro tende a ser uma atribulação mais imobilizante do que o valor de uma mensalidade. Ponto a favor das particulares. Se a USP está mesmo disposta a sacrificar algo de sua atratividade, é melhor que pelo menos alivie sua difícil situação financeira, passando a cobrar mensalidades em vez de uma extemporânea corveia.

As matérias-primas da riqueza   (Folha de S.Paulo – Tendências/Debates – 21/01/15)

O Brasil quer ser um eterno emergente ou chegar logo à condição de país desenvolvido? A questão é importante, especialmente em um momento em que o governo federal faz cortes profundos nos orçamentos dos ministérios da Educação e da Ciência, Tecnologia e Inovação.  Reconhecemos a necessidade de ajustes nas contas federais, mas reduzir investimentos em educação e ciência é como dar um tiro no próprio pé: dói no presente, imobiliza-nos por um bom tempo e atrasa ainda mais a caminhada para o futuro.  Os países emergentes que investiram para valer em educação e em ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) já implantaram uma economia moderna e atingiram elevados índices de qualidade de vida. São países que podemos chamar de “emergentes empreendedores”. Há algumas décadas tinham condições semelhantes às do Brasil e hoje estão quilômetros à nossa frente.  O Brasil vem fazendo importantes esforços tanto em educação como em C,T&I. Chegamos muito perto da universalização do acesso ao ensino fundamental e conseguimos aumentar o número de ingressantes em todos os níveis de ensino. No campo da produção científica, o Brasil ocupa uma posição de relativo destaque.  Vistos no âmbito interno, essas conquistas são eloquentes e expressam o resultado de corretas políticas implementadas nos últimos governos. Observadas, porém, em escala global, são conquistas que ainda nos deixam em posições até mesmo sofríveis diante dos emergentes empreendedores ou de países com economia e potencial muito inferiores aos nossos. No Programa para Avaliação Internacional de Alunos, da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), entre 65 países o Brasil ocupa a 58ª posição (Cingapura, 2ª; Estônia, 11ª).  No ranking do Fórum Econômico Mundial, quesito “qualidade da educação primária”, aparecemos no 126º lugar entre 144 países (Finlândia, 1º; Barbados, 5º). No ranking de inovação da Organização Mundial de Propriedade Intelectual, o Brasil ocupa a 61ª posição (Finlândia, 4ª; Malta, 25ª).  Segundo dados da Conference Board, em matéria de produtividade estamos em 15º lugar na América Latina. No Índice de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, o Brasil está em 57º lugar (Cingapura em 2º; Emirados Árabes em 12º). Esse fraco desempenho é explicado, em boa medida, pela baixa qualidade da nossa educação. Estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento mostra que a média de tempo na escola dos brasileiros com 15 anos de idade ou mais saltou de 2,8 para 7,5 anos de 1970 a 2012 –aumento de 267%.  No mesmo período, a produtividade da força de trabalho no Brasil, por trabalhador, passou de US$ 12.200 para US$ 20 mil –crescimento de 64%. A elevada diferença de percentuais revela que o problema reside não mais na oferta de ensino, mas na sua qualidade. A expectativa, portanto, é que o governo cumpra as metas do Plano Nacional de Educação, o que inclui chegar a 2020 com 10% do PIB para o setor.  Para a área de C,T&I, há as recomendações da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Concluída em maio de 2010, a conferência propõe que o investimento total em pesquisa e desenvolvimento alcance, em 2020, entre 2% e 2,5% do PIB. Estamos em 1,2%.  E por que aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento em tempos de redução de gastos? Porque esses investimentos significam ao país tornar sua economia inovadora, aumentar a –hoje acanhada– produção de bens com alto valor agregado e ganhar competitividade no mercado global. O governo federal precisa considerar que educação de qualidade e C,T&I são investimentos, não despesas. Tornaram-se, na verdade, as principais matérias-primas da riqueza e do desenvolvimento sustentado.

HELENA NADER, biomédica, é professora titular da Unifesp, membro da Academia Brasileira de Ciências e presidente da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência