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21/10/2009 / Em: Clipping

 


Prova do crime  (Folha de S.Paulo – Folhateen – 19/10/09)

“E o vestibular, é seguro?” Desde o vazamento do Enem, muitos vestibulandos estão com essa pergunta na cabeça. A resposta incomoda: por mais que os organizadores se esforcem para garantir uma concorrência justa, não faltam flagrantes de fraude nos concursos para faculdades brasileiras. Existem até quadrilhas especializadas no assunto. E candidatos dispostos a pagar por seus serviços, que incluem colas eletrônicas e falsificação de documentos. Dependendo da região, da faculdade e do curso desejado, eles desembolsam até R$ 30 mil pela “forcinha”. “Se aumenta muito o prêmio, o lucro também sobe. E o pessoal se arrisca mais”, diz Renato Pedrosa, coordenador da Comissão Permanente de Vestibulares da Unicamp. As universidades contra-atacam. USP e UFPR estão entre as que usam detectores de metal e rastreadores de sinal de celular para evitar a cola. Na Unicamp, quem fizer a segunda fase fornecerá sua impressão digital 11 vezes durante o concurso, para compará-las com a digital de quem fizer a matrícula e evitar a ação de laranjas (veja ao lado).

Vigiar e punir é difícil

O problema é que as medidas de segurança são caras -R$ 10 mil só para colher as impressões digitais e compará-las. “Até 30% da despesa de R$ 1 milhão com o vestibular é para a segurança”, diz Francisco Filho, coordenador de concursos da Universidade Estadual do Piauí, que usa detectores de metal e rastreadores de celular desde que fiscais flagraram uma cola eletrônica em 2006. “Com tanta tecnologia nova, você fica doido. Não é fácil chegar a essas pessoas”, diz o delegado Antônio Magno Toledo, da Delegacia de Defraudações e Falsificações de João Pessoa. “No Nordeste, devem existir de três a cinco quadrilhas especializadas nisso. Em cada concurso pode haver dezenas de candidatos com esquema.”
De fato, nesta década já houve vários flagrantes de cola eletrônica e uso de laranjas. Além de fraudes nos sistemas de cotas, como as que aconteceram na UFBA (Universidade Federal da Bahia), em 2006. O procurador Sidney Madruga investigou o caso e conta que “não houve qualquer cuidado da UFBA de ver se os documentos eram verossímeis”, diz. “Tem muita gente fraudando.” A UFBA se defende e diz que os dois alunos tiveram suas matrículas canceladas tão logo a fraude foi descoberta. Coisa que nem sempre acontece. Em 2002, uma quadrilha “aprovou” 28 dos 40 alunos de medicina da Universidade Federal do Acre. Quando a polícia descobriu o esquema, soube que ela atuava havia 18 anos. E o mais desanimador: a cola eletrônica não tem sido considerada crime pelo Supremo Tribunal Federal, instância máxima da Justiça brasileira. Nos dois casos que julgou, o órgão considerou que ela não é estelionato nem falsidade ideológica. Uma chance clara de impunidade para quem trapaceia.

Antifraude “hi-tech” (Folha de S.Paulo – Folhateen – 19/10/09)

A Unicamp planeja reforçar sua segurança contra fraudes no processo seletivo com um novo método de identificação pessoal. “Queremos usar uma máquina para fotografar a íris do candidato”, contou, em entrevista ao Folhateen, Renato Pedrosa, coordenador da Comissão Permanente de Vestibulares da Unicamp.

Fraudes da vida real  (Folha de S.Paulo – Folhateen – 19/10/09)

COLA VIA SMS

Respostas na sola do pé

No Rio de Janeiro, quatro candidatos para o vestibular de medicina da Universidade Gama Filho pagaram R$ 15 mil a uma quadrilha que os instruiu a comprar celulares com peças de plástico, para evitar detectores de metal, e encaixá-los na palmilha do tênis para consultar o gabarito no banheiro, enviado por SMS. O esquema só foi identificado graças a uma ligação anônima para o disque-denúncia.

Outros casos: Universidade de Cuiabá (2008), Universidade Federal do Maranhão (2006)

COLA VIA PONTO ELETRÔNICO

Pulga (sabichona) atrás da orelha

A primeira turma de medicina da Universidade Federal do Acre teve 28 de seus 40 alunos aprovados com fraude, no vestibular de 2002. A quadrilha cobrou até R$ 20 mil de cada candidato, para lhes enviar o gabarito via pontos eletrônicos escondidos em roupas e caixas de chiclete. Descobertos, todos os fraudadores foram expulsos.
Outros casos: Universidade Federal de Rondônia (2002), Universidade Regional de Gurupi (2009), Faculdades Facene/Famene (2008)

FALSO COTISTA

Prova de trambique

Em 2005, um candidato da UFBA declarou ser descendente de índios para ganhar uma vaga no sistema de cotas. Segundo o procurador que investigou o caso, ele atestou suas supostas raízes comumdocumento em nome da Fundação Nacional do Índio que não era assinado por ninguém do órgão, e sim por um índio. Outra menina estudou em escola particular, apresentou diploma (falsificado) de pública e acabou denunciada por colegas. Descobertos, os dois perderam a matrícula.

Outro caso: Universidade Federal do Espírito Santo (2009)

LARANJA
Cara de um, prova de outro

Na Fuvest, em 2004, um falso candidato colocou sua foto no RG do irmão e começou a fazer a prova no lugar dele, que queria ingressar no curso de medicina. Durante o exame, nervoso, ele chamou a atenção do fiscal, que resolveu conferir assinatura e foto e desmascarou o impostor. Ele acabou preso por estelionato.

Outros casos: Universidade Estadual da Paraíba (2007), Faculdade Evangélica de Curitiba (2008)



Escolas tentam mostrar aos alunos que o Enem ainda tem utilidade  (Veja.Com – Educação – 20/10/09)

Quando três das principais universidades do país anunciaram descartar o uso do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma onda de desânimo tomou conta de vários estudantes. A Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a PUC-SP, que juntas reúnem quase 200 000 candidatos, declararam ser impossível somar a nota do Enem em seus processos seletivos depois que a prova foi adiada para os dias 5 e 6 de dezembro. É mais uma dor de cabeça para quem estava focado nesses grandes vestibulares e precisa, agora, encontrar outra utilidade para o exame. “O Enem só vai valer a pena para quem busca vagas em universidades federais que utilizarão o exame como fase única ou para quem vai prestar cursos muito concorridos, como medicina”, avalia o professor Edmilson Motta, coordenador do colégio Etapa, em São Paulo. “Quem não passar este ano pode guardar a pontuação para o ano que vem, pois a nota do Enem 2009 ainda poderá ser utilizada nos vestibulares por mais dois anos.”