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22/11/2012 / Em: Clipping

 


Pasquale Cipro Neto

Batalha sem fim   (Folha de S.Paulo – Cotidiano – 22/11/12)

TENHO UM arquivo de bobagens perpetradas pelos meios de comunicação. O assunto interessa aos leitores e frequentemente é abordado nos principais vestibulares do país. Tenho alguns “colaboradores” nessa tarefa (leitores e colegas que me mandam pérolas e pérolas). Compreendo perfeitamente as razões que levam redatores a escorregar na construção de frases, principalmente quando o assunto é o título, seja no jornal de papel, seja na internet. A pressa, nos dois meios, e a vontade de dar a notícia em primeira mão, no caso dos sites, põem em segundo plano a língua, a clareza etc. Mas, cá entre nós, nada justifica a permanência (nos sites) de bobagens durante horas e horas, às vezes o dia todo. Será que ninguém relê? Ou será que relê, mas não percebe? Veja esta maravilha, colhida há dez dias: “Torcida do Flu celebra por 10 min com elenco em festa com brigas”. Que diabo é isso? O que significa esse enigma? Aos fatos: finda a rodada de 11 de novembro, o Fluminense tornou-se campeão brasileiro de 2012. Terminado o jogo contra o Palmeiras, a delegação tricolor foi de Presidente Prudente (SP) para o Rio de Janeiro em voo fretado. Ao aterrar no Rio de Janeiro, o avião apresentou problemas, e o piloto precisou arremeter algumas vezes. O fato é que a delegação chegou atrasadíssima às Laranjeiras, onde uma impaciente torcida esperava os ídolos. Essa espera “irritou” alguns “torcedores”, que passaram a fazer o diabo na sede do Flu. Os jogadores chegaram, ficaram míseros 10 min com a torcida e deram no pé. O que acabo de relatar foi “resumido” pelo ininteligível título já transcrito. Pergunto a você, caro leitor, como já fez a Unicamp em seu vestibular: o título condiz com a “matéria”? O título traduz a matéria? É claro que não. O que o título faz é exigir do leitor um contorcionismo inútil. Inútil porque é simplesmente impossível adivinhar o que a frase significa. Talvez uma simples alteração (para variar) na ordem dos termos que constituem a frase baste para “clarear” as coisas. Vejamos esta opção: “Em festa com brigas, torcida do Flu celebra com elenco por 10 min”. Que tal? Parece que melhorou, mas pode melhorar ainda mais. Como foi o elenco que se escafedeu depois de míseros de 10 min, não seria melhor mudar o sujeito do verbo “celebrar”? Vejamos: “Em festa com brigas, elenco do Flu celebra com torcedores por 10 min” (ou “celebra por 10 min com torcedores”). Como já afirmei diversas vezes neste espaço, a ordem dos termos é fundamental para que se alcance a transmissão mais fiel possível da mensagem. Lidar com isso (ou aprender a lidar com isso) é um dos primeiros passos para quem quer aprender a escrever (e a ler). Mudando de pato para ganso, sem sair dos tropeços que correm pela internet, vale a pena citar as pérolas da bandidagem que correm pela web. Refiro-me aos pilantras que mandam e-mails para ludibriar afoitos e incautos. Uma significativa parcela dessas mensagens vem com erros grosseiros. Dia desses recebi uma dessas pérolas, cujo assunto era este: “Evite a suspenção da sua conta”. “Suspenção”? Elaiá! O substantivo que designa o ato de suspender é “suspensão”, com “s”. Sim, eu sei, há substantivos que designam o “ato de” terminados em “são”, “ssão” e “ção”. Sim, eu sei, é normal ficarmos em dúvida na hora de usar essas terminações, mas… Mas um erro grosseiro como esse é cheiro de golpe, não acha? Lembra aquele caso dos policiais rodoviários catarinenses que pararam um carro cuja placa era de “Frorianópolis”? Sem comentários. É isso.