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24/06/2014 / Em: Clipping

 


Veja posição das 45 melhores universidades do Brasil em ranking de emergentes   (IG – Educação – 22/06/14)

Das 200 melhores universidades sediadas em países emergentes, 23% são brasileiras. Ao todo, são 45 instituições líderes que figuram no levantamento mais recente da Quacquarelli Symonds (QS), reconhecida consultoria britânica especializada em pesquisas educacionais. Publicado na última quarta-feira (18) durante evento na China, a segunda edição do ranking de universidades dos BRICS – grupo de países emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – traz a Universidade de São Paulo (USP) na 7ª posição. A segunda instituição brasileira mais bem colocada no levantamento é a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela aparece dividindo a 9ª colocação com a Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul). As instituições chinesas lideram o ranking com 71 universidades avaliadas entres as 200 melhores. Só no “top 10”, a China domina seis posições, com a prestigiada Universidade Tsinghua como primeira colocada. Em 2013, primeiro ano em que a consultoria fez o ranking, das 10 melhores universidades dos BRICS, sete eram chinesas. Ano passado, o ranking selecionou apenas 100 universidades. Em 2014, foram 200.



Universidade para quem?   (Correio Popular – Opinião – 24/06/14)

A educação é um direito e, por isso, deve ser pública, gratuita, de qualidade, para todas e todos, dever do Estado. A cobrança de mensalidades é uma afronta à concepção da universidade — e de toda educação — enquanto um direito e contribui para aprofundar a ideia de que o Ensino Superior é uma mercadoria ou tão somente um privilégio, para poucos. Se é verdade que a maio parte dos estudantes da universidade pública tem renda média alta, isso só é possível por dois fatos: 1) o direito à educação superior é negado à maioria da população, apenas 14% da juventude acessam o Ensino Superior, sendo mais de 70% em instituições privadas; 2) pessoas com renda mais alta têm dinheiro para pagar mensalidades de escolas e cursinhos que preparam o candidato ao vestibular para competirem condições mais favoráveis do que aqueles que estudaram em escolas públicas. Ou seja, o perfil sócio econômico da universidade pública é diferente da média da população exatamente porque o acesso à educação é diferenciado entre os que têm dinheiro para pagar mensalidades e os que não têm. proposta da cobrança de mensalidades aprofunda justamente esse perfil elitista seletivo e limitado, se coloca com o a antessala da completa privatização do ensino superior e, assim, agrava o afastamento dessa instituição em relação à comunidade. Não resolve o principal gargalo da universidade hoje —seu acesso restrito; muito pelo contrário, o intensifica. A exclusão dos estudantes de baixa renda é um problema grave e deve ser combatido com políticas que visem a democratização do Ensino Superior, como as cotas raciais, as cotas sociais, a ampliação de vagas com aumento da infraestrutura, o fortalecimento da permanência estudantil e, inclusive, a valorização dos trabalhadores da universidade, que, inclusive, têm renda média inferior àquela do estudantado. Deforma alguma, a cobrança de mensalidades toca em qualquer um desses eixos, exatamente porque essa proposta não se propõe a enfrentar esse problema central. O nó do financiamento da educação pública está em outro ponto: há 20 anos, os governos do PSDB em SP não aumentam o percentual repassado pelo Estado para a educação. Essa forma de “resolução” da questão do orçamento, que aparece como nova, é bem antiga na política brasileira: na medida em que o Estado se desresponsabiliza de garantir o financiamento adequado aos direitos sociais, atribui-se a cada cidadão o custo pelos serviços não prestados pelo poder público. Foi assim com a telefonia e a energia elétrica, tem sido assim com a previdência, por meio dos fundos de pensão, e com a saúde, através dos convênios. Soma-se a isso a inexistência de políticas de transparência e gestão democrática das universidades, que faz com que uma cúpula tenha controle e acesso às informações financeiras. O próprio reitor da USP, Marco Antônio Zago, declarou que não sabia durante a reitoria anterior(da qual ele era um dos pró-reitores) da crise financeira que se aproximava da universidade. O aumento de verbas públicas é essencial para uma mudança na universidade rumo a uma profunda democratização de seu modelo, no entanto, tendo em vista as atuais condições, a gestão orçamentária das reitorias tem priorizado a manutenção de privilégios e o obscurantismo, do que a valorização de seus funcionário se a garantia de condições para que os estudantes de baixa renda possam acessá- la. Apenas na Unicamp, estima-se que os gastos anuais com os “supersalários”, ou seja, rendimentos que ultrapassam o teto de R$ 20 mil, somam mais de R$ 30 milhões. Além disso, a compra da Fazenda Argentina pela Unicamp no ano passado afez desembolsar de uma só vez R$ 150 milhões, sem planejamento ou consulta ampla à comunidade acadêmica. Nesse sentido, a imposição do reajuste zero aos servidores da USP, Unesp e Unicamp joga na contramão da democratização. Por fim, no mesmo sentido da garantia e democratização dos direitos sociais, seria interessante uma pesquisa sobre a renda média dos usuários, sim, do transporte público — teriam esses condições de arcar com o preço abusivo das tarifas? Ou será que esse argumento só parece válido quando aponta para maior ofensiva sobre os direitos do nosso povo?

Diana Nascimento e Icaro Turci são
estudantes universitários, coordenadores do
DCE Unicamp e integrantes do Coletivo
Domínio Público



‘Educação não pode cimentar privilégios’, diz reitor dos EUA   (Folha de S.Paulo – Cotidiano – 22/06/14)

A educação é essencial para criar mobilidade social e reduzir desigualdades. Mas, se isso não ocorre, sistemas de ensino podem ser usados pelas elites para cimentar privilégios sociais. O alerta é de Michael S. Roth, reitor da universidade Wesleyan, localizada às margens do rio Connecticut, no nordeste dos EUA. Historiador, ele acaba de lançar nos EUA “Beyond the University, Why Liberal Education Matters” [além da universidade, porque uma educação liberal é importante], no qual defende o ensino multidisciplinar, preocupado com a formação integral de cidadãos, com menos ênfase no treinamento apenas para o emprego.  Afinal, trabalhos mudam com o tempo e as pessoas precisam sempre aprender a aprender. Em seu livro, ele conta pedaços da história da educação superior nos EUA, tratando das discussões filosóficas que deram norte e provocaram mudanças nas escolas. Nessa entrevista, Roth, 57, concorda com o economista Thomas Piketty, que aponta o poder das elites no sistema educacional norte-americano minado a meritocracia. Para o reitor, apesar de as instituições de ensino de elite usarem critérios que tendem a favorecer os mais ricos, também mantêm programas de inclusão para os de baixa renda.

 

Primeiro vestibular da Univesp mostra que ensino a distância tem demanda   (Folha Online – Educação/Blog da Sabine – 23/06/14)

Muita gente torce o nariz quando se fala sobre ensino a distância no Brasil. Mas o fato é que há demanda. O primeiro vestibular para os cursos de engenharias a distância oferecidos pela Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), por exemplo, teve uma média de 5,7 candidatos por vaga. A procura é semelhante a de engenharias do campus de Pirassununga da USP, que varia entre 6 e 7 candidatos por vaga. O primeiro vestibular da Univesp aconteceu agora em junho. Os dados são fresquinhos. A Univesp ainda não tem informação etária dos candidatos, mas a expectativa é que eles sejam mais velhos do que a média dos estudantes de uma universidade pública.

 

100% escola pública  (Folha de S.Paulo – Opinião – 19/06/14)

A educação pública, do ciclo fundamental ao médio e ao superior, deve ser matéria de soberania e desenvolvimento nacional, prioridade estratégica da reforma política do sistema institucional hoje exaurido. Trata-se de reencontrar o caminho de uma democracia real, isto é, extensiva a todos e que favoreça a aptidão de cada um. Novo sistema educacional público, no caso brasileiro, significa que seja ocupado prioritariamente pelas parcelas mais carentes da população. E, no entanto, as mais capazes no trabalho, na invenção de formas de sobrevivência na barbárie, cujas aptidões jamais foram levadas a sério. O resto é demagogia de governos venais, de reitores tíbios e conselhos ineptos, de especialistas da exclusão. De rigorosos “tribunais de contas” na Suíça. Falsa elite, portanto, pois não pode haver nenhuma que dispense o compromisso com a sociedade civil e, especialmente, sua parte mais desfavorecida. Novo significa: educação pública, universal e de qualidade igualmente acessível para quem nasça pobre, seja preto, pardo, indígena ou branco. Sem barreiras. Sem alfândegas. Para isso, será necessário canalizar muito das energias dispersas das Jornadas de Junho numa vontade organizada, pois apenas essa pode ser politicamente eficaz. Seria necessário, portanto, mais que 10% do PIB; mais que 9,57% do ICMS que Alckmin-Calabi respingam como dádiva; mais que inventar um reitor biônico, como Rodas por Serra. Seria necessário defender e aprofundar a plena autonomia financeira da universidade pública, sustentada sobretudo pela grandeza de seus objetivos científicos e sociais. A pequenez dos que governam o Estado mais rico e as universidades mais excelentes não surpreende. Está de acordo com o descaso centenário com a educação pública no país. Basta ver o que foi feito com as redes públicas dos anos 60 para cá. Crime de lesa-humanidade. Sucateamento que barrou o acesso dos pobres à educação superior e desmontou a possibilidade de que houvesse educação de qualidade no ensino fundamental e médio. Acidente de percurso ou estratégia de exclusão? Não é acidental que, na ruína, reine o vestibular, sistema abominável de reprodução da desigualdade, em nome de uma falsa meritocracia: pois quando todas as desigualdades já foram cometidas no ensino médio e fundamental, que universalidade de mérito pode haver no vestibular? Basta de hipocrisia! Ocupação de todas as vagas da universidade pública, em processo de avaliação contínua, por quem as merece de direito e de fato: os que estudam nas escolas públicas. A universidade pública tem de ser compreendida no cerne da escola pública.  Aí, sim, teremos o fim do sistema perverso, em geral mencionado apenas para torná-lo ainda mais cruel. Como agora, quando se propõe o ensino pago nas universidades públicas paulistas, isto é, aumentando a interdição, a pretexto de questões de “gestão”, “princípio”, “justiça”. O ensino público permanecerá sempre aberto a todos. E que todos lutem por uma virada radical na educação pública, o que começa pelo respeito e valorização do trabalho do professor, esteio maior de sua qualidade. O fundamental está nisso: universidade pública para quem não se põe acima do bem público.
FRANCISCO FOOT HARDMAN, 61, e ALCIR PÉCORA, 60, são professores de literatura da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas)