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25/02/2019 / Em: Clipping

 

A política de cotas e os sistemas de ingresso da Unicamp (O Globo – Educação – 25/02/2019) 

 

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) implantou seu sistema de cotas étnico-raciais, pela primeira vez, na seleção dos estudantes ingressantes em 2019. Ao optar pelo sistema de cotas, após uma década de experiências em outras instituições, a Unicamp tinha o desafio de promover um sistema que garantisse a inclusão e, ao mesmo tempo, correspondesse a seus critérios de seleção que lhe asseguram um lugar de destaque entre as universidades brasileiras e latino-americanas. A Unicamp demorou a adotar uma política de cotas, mas não foi insensível às políticas de inclusão. Desde 2004, com a criação do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (PAAIS), os candidatos de escola pública e os autodeclarados pretos, pardos e indígenas recebiam uma bonificação em suas notas padronizadas. Os resultados tiveram impacto imediato, como se observa na tabela 1, nos anos de 2004 e 2005. Porém, ao longo dos anos, o sistema ficou estagnado. Em 2016, as bonificações do PAAIS foram triplicadas, passando de 30 para 90 pontos, no caso de escola pública e acrescentando-se 30 pontos para o critério étnico-racial. O resultado foi o incremento de estudantes negros ingressando na graduação. Mesmo que a barreira dos 20% de pretos, pardos e indígenas tivesse sido ultrapassada verificou-se dois fenômenos: não houve uma ampliação de candidatos negros entre os inscritos e a bonificação causou distorções em alguns cursos, sobretudo quanto ao critério dos estudantes de escola pública. Com a implantação das cotas, a Unicamp diminuiu a bonificação para estudantes da rede pública e retirou o componente étnico-racial do PAAIS. Juntamente com a política de cotas, aprovada em 2017, para efetivação nos vestibulares de 2019, a Unicamp decidiu diversificar os sistemas de ingresso e implantar um arrojado programa de ingresso. Em 2019, tivemos o Vestibular Unicamp (VU), responsável pelo oferecimento de quase 80% das vagas; a criação do edital Vagas ENEM, ofertando aproximadamente 20% das vagas em sistema gerenciado pela Unicamp; a criação de um Vestibular Indígena (VI), ofertando, na maioria dos casos, vagas adicionais nos cursos que aderiram à modalidade; e, por fim, a criação do edital Vagas Olímpicas (VO), que assegura o ingresso direto de medalhistas e premiados em olimpíadas científicas e de conhecimento nacionais e internacionais. A discussão sobre essas modalidades merece um outro texto, em outro momento. A política de cotas definida é ter 25% de vagas reservadas para cada curso e turno (integral ou noturno). Para compor este percentual, 15% das vagas totais da Unicamp reservadas para as cotas serão preenchidas pelo Vestibular. As outras 10% das vagas, preenchidas por candidatos selecionados nas Vagas ENEM. A meta é ter, no interior da Universidade, a representatividade da população do Estado de São Paulo, ou seja, 37,2% de estudantes autodeclarados pretos e pardos. Para chegar à meta, além do piso mínimo de 25% de cotas, os optantes pelo sistema de cotas que ultrapassarem a nota mínima de opção em cada curso, poderão ocupar outros 12,2% das vagas. Além disso, os estudantes continuam concorrendo na ampla concorrência. Ou seja, o sistema de cotas da Unicamp não estabelece uma disputa exclusiva para os optantes, mas abre a oportunidade para que, obtendo notas suficientes, continuem concorrendo com os demais candidatos. Leia mais.