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25/11/2008 / Em: Clipping

 


Cidades

Vestibular – Estar atualizado ajuda nas provas de todas as disciplinas

Revistas e jornais também devem ser “objetos de estudo” dos vestibulandos

Fabiano Ormaneze
DA AGÊNCIA ANHANGÜERA

Ao lado dos livros didáticos e apostilas dos cursinhos, parceiros inseparáveis do vestibulando, os candidatos a uma vaga no Ensino Superior precisam arrumar na mochila espaço para mais coisa: revistas, jornais e doses fortes de informação sobre atualidades podem significar um pouco mais de tranqüilidade na hora de responder a questões de todas as disciplinas.

Isso é conseqüência do perfil que a maioria dos processos seletivos brasileiros adotou nos últimos anos: eles estão cada vez mais interdisciplinares, cobram menos “decoreba”, mais interpretação e querem selecionar gente que saiba ler, relacionar informações e construir argumentos consistentes. O vestibular da Universidade de São Paulo (USP), realizado no último domingo, é a prova disso. Para responder a duas questões de língua portuguesa, por exemplo, o vestibulando não precisava saber nada de gramática, ortografia ou literatura brasileira. Era suficiente ter algumas informações sobre o desmatamento da Amazônia e o debate sobre sua internacionalização, assuntos que já tinham sido cobrados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em agosto, que teve a preservação da região como tema para a produção de texto.

“A redação é um dos pontos em que o conhecimento de atualidades faz mais diferença, já que as propostas são sempre atuais. Questões de história e geografia também são bastante relacionadas aos temas contemporâneos”, explica o professor Célio Ricardo Tasinafo, do cursinho Oficina do Estudante. Ele explica que o aluno que tem o hábito de ler jornais, revistas, acessar sites de informação, assistir a programas de entrevistas e a telejornais desenvolve a habilidade de leitura, o que possibilita a ele resolver questões a partir do contexto das informações.

No caso da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), toda a prova gira em torno de um único tema. Neste ano, na primeira fase, a instituição escolheu a relação existente entre o homem e os animais, o que motivou perguntas em matérias que, no senso comum, tradicionalmente estariam distantes de atualidades, como química, física e biologia. “Isso foi motivado pela discussão que existe em torno do uso de animais em experimentos de laboratório”, lembra Tasinafo.

História

Muitas vezes, os fatos atuais também podem gerar perguntas relacionadas a acontecimentos do passado, com o objetivo de fazer o aluno promover relações entre os dois momentos. No vestibular 2008, a Fundação para o Vestibular da Universidade de São Paulo (Fuvest) usou os 200 anos da vinda da família real para o Brasil para formular questões de história.

A estudante Caroline Vasconcelos, de 19 anos, tenta uma vaga em química forense, área que forma peritos criminais, na USP. Apesar disso, ela já está no segundo ano do curso de química na Unicamp e sabe como foi importante estar por dentro do que acontecia no mundo. “Quando entrei, estar atualizada foi essencial. Fez muita diferença. Na época, minha mãe assinava várias revistas e eu vivia com jornais embaixo do braço”, relembra a universitária.

Tasinafo explica que a Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), que realiza seu vestibular entre 14 e 16 de dezembro, é a que mais utiliza comemorações e efemérides para formular questões. “Neste ano, os temas mais prováveis de serem cobrados são os 20 anos da Constituição Brasileira e as discussões sobre cidadania no Brasil”, afirma. Outros assuntos que podem gerar questões são a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, que completam 20 anos em 2009, e as cinco décadas da Revolução Cubana, também a serem lembrados no ano que vem.

Estratégia

Pensando num estudo mais sistematizado das atualidades que podem gerar questões no vestibular, o estudante Douglas Araújo Bizerra, de 21 anos, comprou uma revista especializada, que traz resumos dos assuntos atuais que podem cair nas provas neste ano. Além disso, ele dá sempre uma olhada nos telejornais e nas revistas. “Na Fuvest de domingo, tive a prova de como é importante estar ligado nos assuntos do momento. Em geografia, em várias questões, só sabia do que se tratava porque tinha lido jornais e revistas”, conta.

Uma última dica: para quem está a dias do vestibular, estar atento às discussões que se estendem desde o final do ano passado é mais importante do que dominar assuntos que ganharam destaque na mídia no segundo semestre. “Como as provas são elaboradas ainda na primeira metade do ano, não adianta ficar focado em assuntos dos últimos dias, como a crise econômica mundial”, explica Tasinafo.



Editoriais

Cotas de imperfeição

O SENADO tem a responsabilidade de corrigir distorções importantes que constam do projeto de lei nº 73/ 1999, sobre reserva de vagas em universidades federais, aprovado na Câmara, votado às pressas no Dia da Consciência Negra.
O mérito do diploma é não se deixar aprisionar pelo prisma racial. Reserva 50% das vagas a alunos que tenham feito todo o estudo em escola pública. Apesar da parcela excessiva -a reserva de metade das vagas teria, inevitavelmente, um impacto sobre o desempenho médio dos cursos federais-, o critério é um modo inteligente de favorecer os estratos mais pobres da população.
Tal viés socioeconômico se acentua na provisão de destinar metade das vagas reservadas a candidatos com renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo. Os dois quesitos bastariam para aumentar a proporção de negros e mulatos -pretos e pardos, na classificação do IBGE- nos bancos das faculdades federais. O projeto, no entanto, insiste num critério racial eivado de problemas insolúveis.
Antes de mais nada, há a dificuldade prática de categorizar pessoas segundo um parâmetro, as raças, sem fundamento científico. E, ainda por cima, para promover uma discriminação -se bem que positiva- difícil de conciliar com o preceito constitucional da igualdade perante a lei.
À parte essa objeção de fundo às cotas raciais, o texto da Câmara peca por pretender impor um padrão rígido a mais de uma centena de instituições federais. Trata-se de um claro atentado à autonomia universitária. Hoje, somente nove delas se enquadram na reserva de 50% das vagas para cotistas; 19 utilizam percentuais mais baixos, e outras quatro, um sistema de pontos extras na nota do vestibular.
Esta Folha reconhece a necessidade de ações afirmativas no acesso ao ensino superior, recurso fundamental para romper o ciclo de reprodução da pobreza nas famílias. Favorece, porém, as cotas sociais e a bonificação, sem institucionalização de “raças”, como a melhor maneira de democratizar oportunidades, porque é a mais conciliável com os princípios de mérito e igualdade.



Projeto
Câmara aprova cotas para alunos do ensino público

Publicado em 20.11.2008, às 21h26

A Câmara aprovou, nesta quinta-feira (20), o projeto que cria a cota de 50% das vagas em universidades federais para estudantes que tenham cursado todo o ensino médio em escolas públicas. As vagas serão preenchidas com reservas para negros, pardos e indígenas na proporção da população de cada Estado, medida pelo censo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dentro dessa cota, o projeto reserva a metade das vagas para os estudantes de família com renda igual ou inferior a um salário mínimo e meio per capita.

As regras se aplicam também às instituições federais de ensino técnico de nível médio para os estudantes que tenham cursado todo o ensino fundamental em escolas públicas. O critério de renda foi incluído durante as negociações de hoje no plenário da Câmara, permitindo a aprovação do projeto por acordo, sem o registro dos votos no painel eletrônico.

“O acesso ao ensino se dá mais por questão social do que racial. A situação de renda é que determina um desempenho diferenciado no sistema de ensino e não o racial”, defendeu o deputado e ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza (PSDB-SP). O deputado um dos negociadores do projeto na sessão, era contra a cota racial, argumentando que o critério da renda já beneficiaria a população negra.

Segundo ele, entre a população que recebe até três salários mínimos, 68,1% são negros.O projeto de cotas é defendido pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, que também participou das negociações. A implantação do sistema poderá ser gradativo. As instituições terão o prazo de quatro anos para cumprir o regime de cotas, mas terão de reservar, a cada ano, pelo menos, 25% das vagas. O projeto estabelece que, no prazo de dez anos, o governo fará uma revisão no programa de acesso às universidades públicas de estudantes negros, pardos e indígenas e dos que cursaram integralmente o ensino médio em escolas públicas.

Ensino público
Projeto de cotas enfrentará resistência no Senado

A reserva de vagas em universidades federais para estudantes de famílias que ganham até um salário mínimo e meio por pessoa, aprovada ontem pela Câmara, encontra resistência no Senado. A cota por renda foi incluída no projeto que reserva 50% das vagas em universidades federais para estudantes que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas. As vagas serão preenchidas com reservas para negros, pardos e indígenas na proporção da população de cada Estado, estipulada pelo censo da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC), autora do projeto aprovado pelo Senado e alterado na Câmara, discorda da cota por renda aprovada pelos deputados e afirmou que vai defender a manutenção do texto dos senadores em nova votação na Casa. Ela argumentou que a reserva para os estudantes que cursaram escolas públicas já vai atender os alunos de família de baixa renda. “O critério de corte por renda vai restringir o acesso dos estudantes”, afirmou. “Aparentemente, é muito justo, mas, por inviabilizar, fica muito injusto.

Ex-ministro da Educação, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) disse que a cota por renda é uma forma de “enganar a população”, porque ela não terá aplicação na prática. “As pessoas pobres não terminam o ensino médio. Essa cota só será preenchida quando toda criança puder estudar, quando a Bolsa-Família se transformar em Bolsa-Escola e quando o ensino médio for obrigatório no País, o que não é”, afirmou Cristovam.

Projeto
Cotas podem ser mecanismo para repensar a educação, diz Dieese

O projeto de lei que prevê cotas nas universidades públicas para alunos que estudaram em escola pública poderá ser um instrumento que obrigue a sociedade a pensar em uma nova política de educação, afirmou hoje (20) o pesquisador do Departamento Intersindical de Estatística e de Estudos Socio-econômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio.

“Se a sociedade julga que a política de cotas não é adequada, deveria ter como resposta a oferta no mesmo padrão de qualidade de ensino para todas as crianças. Ela tem que ter uma política que universalize o ensino de qualidade”, disse.

O projeto, aprovado ontem (20) na Câmara dos Deputados, prevê que 50% das vagas nas universidades serão reservadas para alunos vindos de escolas públicas. Metade dessas vagas será distribuída de acordo com critérios raciais estabelecidos proporcionalmente de acordo com a distribuição populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A outra metade será distribuída de acordo com a renda familiar per capita que deve ser menor que um salário mínimo e meio.

Para Ganz Lúcio, a política de cotas para universidade pública faz sentido na medida em que os alunos que estão hoje nas universidades públicas são os que estudaram em escolas particulares e os alunos de escolas públicas estão tendo que ir para universidades particulares.

“No ensino público universitário há uma inversão porque os alunos pobres que estudaram em escolas públicas estudam o ensino superior em universidades particulares e os de pais ricos que estudaram em escolas privadas estudam o ensino superior em universidades públicas”, explicou.

Ele afirmou ainda, que é necessário universalizar o ensino para acabar com essa inversão. “A política de cotas é uma medida pra que se exija do poder público iniciativa no sentido da universalização como medida de longo prazo e da oportunidade para os mais pobres no curto prazo”. Ganz Lúcio disse que o Brasil precisa investir entre 6% e 5% do PIB em educação para que essa universalização aconteça. Hoje, o investimento do país na área chega a 4% do PIB.