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31/01/2018 / Em: Clipping

 

Qual é a diferença entre estudar em uma universidade pública e em uma privada? (Quero Bolsa – Dicas e Curiosidades – 31/01/2018)

Vestibulares concorridos, com concorrência que chega a mais de cem candidatos por vaga, nos cursos mais tradicionais. Entrar para um curso oferecido pelas universidades públicas não é exatamente fácil. E, em um momento ou outro, surge a pergunta: tem muita diferença entre fazer faculdade em uma instituição pública ou em uma particular? A resposta é sim, a diferença é grande. Mas não se apresse. Ao contrário do que diz o senso comum, isso não significa, necessariamente, que uma é melhor que a outra. Preciso dizer, antes de continuar, que tenho experiência com as duas vertentes de Ensino Superior. Entrei em 1999 no curso de Jornalismo da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Bauru, turma de 1999, e voltei aos bancos universitários quase 20 anos depois para cursar Direito na Estácio em Ribeirão Preto. Além dessa última, também iniciei – sem concluir – o curso de Letras em uma universidade privada, e Direito em outra universidade pública, além de duas pós-graduações em universidades particulares. Na minha experiência, a universidade pública é mais indicada para pessoas com menos compromissos cotidianos na vida. Isso porque, para cursar uma pública, a exigência de tempo de estudo e envolvimento com a vida acadêmica é maior. A particular, por isso, é ideal para quem já está inserido no mercado de trabalho. Numa simplificação grosseira, a particular se molda à vida dos universitários, enquanto na pública o universitário tem que se moldar à universidade. Ao contrário do que é o senso comum, a história de que a universidade pública fornece formação melhor que a privada não é verdadeira. Muitos professores dão aulas em ambas os tipos de instituição. No meu curso de Direito, por exemplo, tive aulas com professores formados pela USP (Universidade de São Paulo) e Unesp e que também lecionavam nestas universidades públicas. O que muda, substancialmente, é a qualidade do aluno, que entra mais preparado na universidade pública devido ao processo de seleção mais apurado. Convivendo com pessoas dos dois “mundos”, posso dizer que conheci e convivi com bons profissionais oriundos de ambas as modalidades de ensino superior. Conheci bons e maus professores em universidades públicas e privadas, em igual medida. E,  após toda minha vivência, posso dizer com propriedade: mais importante que a instituição é a disponibilidade do aluno em aprender. Isso faz mais diferença que o lugar onde ele estuda. Não que ambos os modelos não possuam diferenças. E é sobre eles que tentarei falar agora.

MAIS EXEMPLOS

O jornalista e advogado Conrado Ferraz, que cursou as simultaneamente Jornalismo, na Unesp (Universidade Estadual Paulista) e direito na Instituição Toledo de Ensino, em Bauru, explica que o que muda, substancialmente, é a forma de seleção.  “O processo para ingressar no curso de uma universidade pública geralmente é concorrido, seleciona alunos com maior domínio das disciplinas”, conta. “Isso é um diferencial, já que, nas particulares, é comum encontrar estudantes com problemas de formação decorrentes de deficiências no Ensino Fundamental e Médio”, conta. A professora Fabiana Braga, doutora em Pedagogia e com uma década de experiência em instituições públicas e privadas, concorda. “Nas públicas, os alunos chegam dominando os conteúdos, por isso acabam tendo mais facilidade no início. O desempenho no fim do curso, entretanto, não apresenta grande discrepância”, explica.

PRÓS

Evidentemente, uma grande diferença é o preço: enquanto quem cursa uma instituição pública não paga um centavo de mensalidade, nas particulares é preciso botar a mão no bolso para conseguir o diploma. Mas, além disso, há uma série de diferenças. O professor de direito Leopoldo Soares, graduado e pós-graduado em uma instituição pública, mas que dá aulas nas redes particular e pública, avalia que a vivência acadêmica nas particulares é um diferencial. “Há uma convivência maior na academia. Além disso, há mais caminhos nas públicas para quem busca a área acadêmica, com mais incentivos como bolsas e projetos de pesquisa”, conta. Por conta disso, é comum ver alunos que optam pela pesquisa acadêmica e engatam, na sequência, bolsas de pesquisa na graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. “O sistema educacional superior público é voltado para essa formação acadêmica, então as ferramentas estão todas ali, ao alcance de qualquer aluno que queira seguir esse caminho”, conta a jornalista Jaqueline Schiavoni, formada pela Unesp de Bauru e que engatou, na sequência, mestrado na Unesp e doutorado e pós na USP.

E CONTRAS

Por outro lado, como os cursos de universidades públicas são ofertados em cidades específicas, a probabilidade de ter que mudar de cidade para fazer a faculdade é grande. Embora essa seja uma experiência muito enriquecedora, significa, também, para o estudante deixar de lado muitos dos vínculos que criou em sua cidade natal. “É uma mudança de vida. Nas universidades particulares, percebe-se uma continuidade maior na rotina dos estudantes”, comenta Leopoldo.  Outro ponto importante é a organização. Universidades particulares são prestadoras de serviço e, como tal, estão sujeitas às leis de proteção do consumidor. Na prática, isso significa que o serviço vendido por ela precisa ser prestado. Você não verá com frequência, por exemplo, perda de dias letivos por conta de greves e paralisações, que são corriqueiras em uma faculdade pública. No meu curso de Jornalismo, que conclui nos quatro anos regulamentares, vivenciei três greves. E posso dizer que mais de um ano dos quatro foi perdido em paralisações. Como adiantei matérias, não tive que adiar minha formatura, mas muitos colegas que optaram por não adiantar matérias foram obrigados a pegar o diploma com pelo menos um semestre de atraso. A verdade é que, infelizmente, a universidade pública é um mundo a parte no qual o aluno não importa muito para os interesses de servidores e professores. “Ano sim, ano não, o pessoal faz alguma greve. Em muitos casos, perde-se o semestre. É um dos grandes problemas de se estudar em universidade pública”, conta a estudante de educação física da USP (Universidade de São Paulo) Cristina Ferreira. E, se por um lado a intensa vivência acadêmica possibilita aos estudantes das particulares o acesso ao mundo acadêmico, as particulares facilitam para quem quer fazer a faculdade já no mercado de trabalho, conciliando as duas coisas.

 


Entre o orgulho e a vergonha na Matemática (O Globo – Opinião – 31/01/2018)

Ênfase excessiva na Álgebra exige níveis cognitivos e capacidade de abstração muitas vezes acima das faculdades de crianças e adolescentes em idade escolar

O Brasil acaba de ser promovido para o Grupo 5, a elite da Matemática mundial, que reúne as nações mais desenvolvidas na pesquisa da área, como Estados Unidos, Alemanha e Japão. Isso deveria ser motivo de orgulho, não fosse pelo fato de o país ter também um dos piores índices de aprendizagem nesta área. No último Pisa, exame internacional aplicado a jovens em torno dos 15 anos, o Brasil ficou no 66º lugar no ranking de proficiência em Matemática, entre 70 participantes — atrás de Qatar, Indonésia e seus vizinhos da América Latina. Nesta prova, 70% dos estudantes brasileiros ficaram abaixo do nível básico, sem conseguir resolver problemas numéricos simples. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) considera essas habilidades um pré-requisito mínimo para exercer a cidadania. No Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), o ensino médio brasileiro nunca atingiu a nota 4 sobre 10. Apenas 7% dos alunos atingem o aprendizado adequado em Matemática; nas escolas públicas, o índice é de 3,6%. As deficiências de base se tornam gritantes no ensino superior. Na graduação de Engenharia, só metade dos estudantes matriculados consegue se formar. Este quadro tem consequências graves na falta de qualificação e baixa produtividade dos profissionais e, claro, na perda de competitividade do país. Até o momento, não há sinais de melhora na educação matemática. Mas a virada seria possível, como já mostraram diversos países que reestruturaram o sistema educacional e hoje alcançam as melhores notas. Para isso, há três desafios fundamentais. O primeiro deles é a revisão do currículo, retirando a ênfase excessiva no ensino da Álgebra, que exige níveis cognitivos e capacidade de abstração muitas vezes acima das faculdades de crianças e adolescentes em idade escolar. Muitos alunos temem a Matemática porque não entendem as aulas. Há que trabalhar com desafios que tenham mais relação com o dia a dia do estudante e façam sentido na prática, estimulando o raciocínio lógico e o gosto por resolver problemas. Se eles curtem games, é claro que podem se apaixonar pela Matemática. Além disso, é preciso empreender uma verdadeira cruzada para superar o analfabetismo funcional. Reforçar, desde os primeiros anos escolares, a leitura e interpretação de textos, imprescindível para resolver exercícios e entender enunciados. Por fim, há que qualificar os docentes. Um a cada três professores de Matemática não tem formação na área. Atualmente, há novas formas de ensinar, que são mais motivadoras para o aluno e melhoram o aprendizado. O Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) e a SBM (Sociedade Brasileira de Matemática) vêm dando uma excelente contribuição para repensar o ensino desta disciplina, por exemplo, com a Olimpíada Brasileira de Matemática. É necessário ampliar o diálogo entre esses estudiosos e os professores das escolas, muitas vezes isolados e esquecidos, sem apoio nenhum para inovar.

 


Aprovada em 1º lugar em curso na USP diz que trocou escola privada por pública por causa de bullying (G1 – Educação – 30/01/2018)

Lúcia Puglia fez um ano de cursinho depois de deixar a rede pública. Na rede estadual, aproveitou oportunidade para cursar línguas, mas viu déficit no ensino de exatas.

Lúcia Puglia, de 18 anos, foi aprovada em 1º lugar dentre os cotistas de escola pública para o curso de relações internacionais na Universidade de São Paulo (USP), por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Ela conta que saiu de um colégio particular no fim do ensino fundamental, porque não suportava mais ouvir comentários maldosos sobre seus cabelos cacheados. Queria um ambiente mais plural e diverso. E foi no colégio estadual que o encontrou: aprendeu quatro idiomas, participou de grêmio estudantil e organizou movimentos feministas. “Não havia qualquer espaço de respeito às diferenças na escola privada. Eu precisava sair daquele lugar tóxico. Além de implicarem com o meu cabelo, também ficavam me provocando porque eu era estudiosa”, conta. “Mas quando eu dizia para as pessoas que queria estudar em um colégio público, muita gente falava que seria péssimo.” Mesmo assim, a jovem matriculou-se em uma instituição de ensino estadual no Ipiranga, bairro da zona sul de São Paulo. Sentiu que teria uma defasagem grande em relação aos conteúdos de exatas: as aulas de física e química eram fracas, sem exemplos práticos. “Precisei então usar todo o meu tempo para procurar os benefícios dali. Descobri que qualquer aluno poderia fazer cursos gratuitos de idiomas no Centro de Estudo de Línguas (CEL). Então, estudei espanhol, francês, alemão e inglês sem pagar nada”, diz. Lúcia também entrou para o grêmio estudantil e lutou por uma série de mudanças: ventiladores nas salas de aula, diálogo entre professores e diretores e novos programas culturais no colégio, como saraus e campeonatos esportivos. Lúcia mudou-se para a escola pública ao procurar um ambiente mais diverso.

O investimento em idiomas tinha uma razão específica: o sonho de Lúcia é estudar relações internacionais e seguir a carreira diplomática. Quando terminou o ensino médio, ela fez um ano de cursinho, em 2017, com uma parcela de bolsa, para tentar uma vaga na Universidade de São Paulo. “O dinheiro que meus pais economizaram quando estudei na escola pública foi usado para pagar o que a bolsa não cobriu”, diz. No Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2018, quatro vagas dessa graduação, no período noturno, estavam reservadas para estudantes que fizeram o ensino médio inteiro em escola pública. Lúcia ocupou a primeira posição, com 732,39 pontos. Sobre as críticas ao sistema de cotas, a jovem diz que ainda não é possível que um aluno de escola pública dispute uma vaga com um de particular. “A gente está suprindo a defasagem, mas só quem é preconceituoso não sabe a diferença entre as duas escolas. Infelizmente, ainda vai demorar muito para estarem todas no mesmo nível”.

 


USP: filha de médico, que estudou em escolas particulares, evidencia distorção de sistema de cotas (Gazeta do Povo – Educação – 30/01/2018)

Caso escancara o retrato de uma elite que, sem burlar qualquer lei, acaba beneficiada diretamente por um sistema que não deveria beneficiá-la

Ela é branca, filha de um médico e de uma engenheira, estudou a maior parte da vida em escolas privadas e fez cursinho particular. Ainda assim, beneficiou-se com o sistema de cotas – sem infringir nenhuma lei. No processo seletivo para o curso de medicina deste ano, a USP (Universidade de São Paulo) reservou 25 vagas para cotistas de escolas públicas. [Leia mais no portal]