VESTIBULAR 2004
REDAÇÃO:
EXPECTATIVAS DA BANCA DE REDAÇÃO
1) Apresentação - A coletânea
da prova de redação 2004 é apresentada
por um texto que fornece ao candidato a perspectiva da cidade
como um lugar significativo da experiência humana
e, por isso, objeto de reflexão multidisciplinar.
Com esta apresentação, a banca examinadora
pretende sinalizar a complexidade do tema e evitar reducionismos:
idéias estereotipadas, abordagens-clichê ou
textos prontos, tais como a redução da cidade
ao problema da violência, da pobreza, do trânsito
caótico, da falta de planejamento e etc.
2) Coletânea - O conjunto de excertos
que compõem a coletânea da prova serve de subsídio
para as três propostas de redação, não
havendo excertos exclusivos para qualquer das três
propostas. A coletânea tem por objetivo desencadear
a reflexão do candidato sobre o tema. Espera-se que
o candidato articule sua experiência prévia
de vida, leitura e reflexão com a leitura instantânea
que faz da coletânea.
A coletânea não foi pensada como um roteiro
interpretativo, mas como um conjunto de possibilidades diversas
de abordagem da própria complexidade do tema, com
o qual, supõe-se, o candidato já tem algum
contato. Além disso, a coletânea não
define uma hierarquia entre os excertos, que podem ser aproveitados
de diferentes maneiras, conforme o modo de cada candidato
mobilizar sua experiência prévia e as sugestões
da leitura instantânea, em função de
seu projeto de texto.
Os excertos são de natureza diversa, seguindo a tradição
do vestibular da Unicamp. Há alguns claramente conceituais,
expondo visões sistemáticas sobre a cidade,
outros de natureza artística, contendo elaborações
subjetivas em torno do tema, e outros ainda de teor descritivo,
apresentando casos concretos de experiência urbana.
Proposta A – Dissertação
Em função da apresentação
que precede a coletânea e da própria natureza
dos excertos que a compõem, a banca espera que o
candidato perceba que não deve tratar o recorte temático
da proposta A de forma redutora. Isto significa que a cidade
não pode ser tomada como mero aglomerado físico,
nem como cenário caótico, oposto à
fantasia idílica do campo, tampouco como um palco
estático de problemas insolúveis. Evidentemente,
espera-se do candidato um olhar crítico sobre o recorte
proposto – capacidade de identificação
das partes, de análise das relações
e de interpretação dos sentidos.
A noção de “espaço em movimento”
implica tratar o espaço (ruas, bairros, estátuas,
muros, edificações, limites, jurisdições,
etc.) a partir da presença humana, que, individual
ou coletivamente, o transforma e re-significa. Esta presença
humana apropria-se do espaço urbano mediante atividades
profissionais, familiares, de lazer, etc. e de modos variados
(física, artística, afetiva, simbólica,
etc.).
A coletânea foi concebida para permitir que as contradições
inerentes à cidade se manifestem enquanto tais, sem
que se resolvam em dicotomias demarcadas e cristalizadas,
como por exemplo periferia versus centro, pobres versus
ricos, cultura popular versus erudita, etc., que muitas
vezes servem apenas como fórmula fácil. Isso
não significa, evidentemente, que o candidato está
impedido de formular contrastes ou confrontos; o que se
espera é a elaboração pessoal do candidato,
reconhecendo e movimentando-se em um panorama de questões
complexas.
A banca não vai especificar interpretações
para os excertos, seja porque não há hierarquia
entre eles e, portanto, o candidato tem ampla liberdade
de abordagem, seja porque tal interpretação
poderia inibir os avaliadores no acolhimento da eventual
novidade apresentada pelo candidato.
As instruções especificam algumas exigências
objetivas para a dissertação:
1) Dissertar sobre a cidade enquanto espaço
dinâmico (espaço-movimento), de permanente
criação e transformação;
2) Trabalhar argumentos que mostrem a estreita relação
entre a presença humana e o espaço físico
(a vida na cidade), de que resulta o dinamismo.
Proposta B - Narração
Do mesmo modo como na proposta A, espera-se
que o candidato leve em conta a complexidade do recorte
temático e considere a cidade como um lugar significativo
da experiência humana, espaço que está
sendo pensado, nos excertos oferecidos, como lugar de apropriação
humana. O candidato encontrará na coletânea
exemplos de vivências e de re-significações
do espaço urbano, tanto no plano físico quanto
no simbólico.
As instruções especificam algumas exigências
objetivas para a narrativa:
1. a personagem deve passar por uma experiência no
período noturno;
2. essa experiência se dá a partir de um encontro
dela com um grupo de pessoas que já vivencia a noite;
e
3. desse encontro resulta uma transformação
no modo como a personagem vivencia a cidade.
O texto poderá ser narrado em primeira ou terceira
pessoa. Espera-se que o candidato, além de optar
por um dos focos narrativos e mantê-lo adequadamente,
saiba demonstrar a relevância de sua escolha.
A banca considera adequado que o candidato se inspire em
algum dos excertos da coletânea, especialmente aqueles
de teor descritivo, para construir sua narrativa.
Proposta C – Carta
Também aqui, ao redigir a carta,
espera-se que o candidato considere a complexidade apresentada
na coletânea e nas formulações da prova
de redação. Nesse caso concreto, há
uma preliminar que diz respeito à compreensão
do processo de tombamento de um bem relevante para uma determinada
comunidade, o que sempre implica a consideração
de uma vasta rede de interesses e sentidos. Não se
trata de pensar o patrimônio como sinônimo necessário
de edificações antigas, monumentos, obras
de arte.
A escolha do bem cuja preservação será
defendida depende em grande parte da análise dessa
complexidade e da consideração do interesse
coletivo envolvido (grupo social, comunidade, bairro, paróquia,
etc.), levando em conta a construção coletiva
da memória. A idéia de preservação,
como o recorte temático propõe, não
alcança apenas o patrimônio material ou histórico,
mas também o afetivo e o intangível, tudo
dependendo da significação estabelecida pelas
relações com o espaço.
As instruções determinam um conjunto de procedimentos:
1. a escolha de um bem urbano que mereça ser preservado;
2. a identificação de um possível aliado
na luta pela preservação do bem; e
3. a argumentação que justifique o tombamento
daquele bem, tramada e sustentada por meio de uma interlocução
bem construída.
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