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23/06/2017 / Em: Destaques, Notícias

 

Ouvir as diferentes unidades da Unicamp sobre os impactos em cada curso, após o crescimento do número de ingressantes de escolas públicas e de autodeclarados pretos, pardos e indígenas – fruto do aumento da pontuação do PAAIS (Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social) no vestibular –, além de conhecer as considerações de cada instituto e faculdade sobre as cotas étnico-raciais e possíveis vagas pelo SISU. Esses foram os objetivos da 270ª reunião extraordinária da Câmara Deliberativa do Vestibular Unicamp, realizada no dia 22 de junho. Pautados pela coordenação executiva da Comvest, os representantes das Unidades na Câmara tiveram um tempo para levantar tais informações junto à comunidade e às congregações e, posteriormente, apresentá-las na reunião.

“Ouvir os cursos é fundamental para detalhar as especificidades e fazer frente ao desafio da permanência” – José Alves de Freitas Neto, coordenador executivo da Comvest

Se por um lado vários representantes de cursos das áreas de exatas e engenharias afirmaram não ter detectado diferença significativa no desempenho dos estudantes oriundos de escolas públicas, eles destacaram que principalmente no início da graduação existe maior dificuldade por parte desse grupo em acompanhar determinadas disciplinas.

Os membros da Câmara destacaram os relatos dos estudantes da rede pública sobre problemas como falta de conteúdo visto, falta de aula e de professores no ensino médio. De acordo com a professora Samara Kiihl, da Estatística, percebe-se uma defasagem em relação ao conteúdo visto pelos alunos da rede pública no ensino médio. “A pontuação do PAAIS e o consequente ingresso passam uma sensação de que vão acompanhar com tranquilidade, porém, muitos desses estudantes não têm a aptidão necessária em matemática, especialmente”, disse.

Nesse sentido, o coordenador executivo da Comvest e presidente do Grupo de Trabalho Ingresso (instituído pelo Consu em junho), professor José Alves de Freitas Neto, salientou que um dos desafios do GT será balizar a pontuação do PAAIS, para que não se transforme em frustração para os estudantes e nem se reverta em evasão.

Trazendo outra realidade, o professor Ariovaldo José da Silva, representante da Engenharia Agrícola, afirmou que como a maior parte do corpo discente do curso vem de escolas técnicas, em que a qualidade do ensino médio na área de exatas tende a ser um pouco melhor, o perfil do aluno é diferente. Além disso, ele destacou uma iniciativa do curso no sentido de auxiliar os ingressantes com alguma dificuldade em acompanhar as aulas. “Temos um programa com monitores veteranos que acolhem e orientam os ingressantes com maior dificuldade”, disse.

Durante a 270ª reunião extraordinária foi consenso que o acompanhamento dos estudantes que ingressam na Unicamp revela, de acordo com os docentes, que a qualidade do ensino médio está baixa e que essa é uma situação geral, e não apenas da escola pública.

Na área das humanidades e artes, muitos docentes ressaltaram o ganho aportado com o aumento de alunos da rede pública na graduação. “No curso de Midialogia, sentimos que esses estudantes têm uma relação diferente com a universidade, mais madura. Eles são mais autônomos e isso é um ganho para o curso”, afirmou Noel dos Santos Carvalho, docente do Instituto de Artes. Noel salientou, ainda, que entende que a dificuldade em matemática é geral no ensino médio, e não algo que ocorre somente na rede pública.

A professora Ana Elisa Assis, da Faculdade de Educação, que levou à reunião as considerações do curso de Pedagogia, compartilha da opinião de Noel. “Penso que os problemas em relação ao acompanhamento de determinadas disciplinas apareceriam de qualquer maneira no universo de alunos, tanto da rede pública como da rede privada. Por isso, seria um equívoco vincular o princípio da adoção das cotas étnico-raciais, por exemplo, às deficiências da escola pública”, completou Ana Elisa.

Em relação à adoção das cotas pela Unicamp, os membros da Câmara afirmaram que as unidades preferem aguardar os primeiros estudos e encaminhamentos do GT Ingresso para, então, propor ajustes de acordo com as especificidades de cada curso.

Após as colocações dos membros da Câmara, o coordenador da Comvest, José Alves de Freitas Neto, afirmou que a questão que se coloca é de que maneira viabilizar a inclusão e encarar as deficiências apontadas. “Considerando o cenário que tem sido apresentado, temos que olhar com especial atenção para os cursos da área de extas, onde está quase metade das vagas do vestibular”, disse.

“A Unicamp em 50 anos de história sempre foi capaz de responder aos desafios impostos. Desta maneira, por meio de suas boas experiências, acredito que a própria universidade seja parte da solução”, concluiu José Alves.

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