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22/01/2015 / Em: Clipping

 


Ensino público e justo   (Folha de S.Paulo – Editorial – 22/01/15)

Não faltam estudos a mostrar que a posse de um diploma superior propicia significativo acréscimo de renda ao longo da vida. Alguém que curse uma universidade pública e gratuita, desse modo, obterá amplo benefício pessoal do investimento que todos os contribuintes fizeram na sua formação. Claro está que a coletividade tem interesse na preparação de especialistas, como médicos e engenheiros. Não parece descabido, apesar disso, defender que os beneficiários ofereçam à sociedade, além de bons serviços profissionais, alguma compensação para retribuir recursos neles aplicados.  Pouco se discute o assunto no Brasil, porém, porque a gratuidade das universidades públicas se tornou um tabu. Age bem, assim, o reitor da USP, Marco Antonio Zago, ao reviver a questão da equidade com a sugestão de que egressos da academia paulista prestem um serviço social em contrapartida pelo privilégio de nela estudar.  Um médico recém-formado, por exemplo, poderia trabalhar por certo período no SUS; um engenheiro, engajar-se em projetos de habitação popular. A ideia embrionária foi apresentada por Zago no Conselho Universitário da USP.  A discussão da proposta certamente apontará suas deficiências. A mais saliente é que não se concebe a adoção dessa prática por uma única universidade. A consequência provável seria uma diminuição relativa na demanda por suas vagas, pois acarretaria ao candidato bem-sucedido um ônus inexistente em outras instituições.  Isolada, a USP também enfrentaria dificuldade para montar um sistema de alocação eficiente, capaz de encaminhar os formandos a postos de trabalho. Isso só parece exequível com a participação de todas as faculdades públicas num sistema nacional ou estadual de colocação. Ademais, há dúvidas sobre a  constitucionalidade de tornar obrigatório esse serviço social.  Se a noção do ressarcimento vier a prosperar como deveria, por seu conteúdo de justiça, seria preciso agregar ao debate outras formas de efetivá-lo. Cobrar mensalidades de quem puder pagar seria a mais óbvia –desde que acompanhada de um programa de bolsas ou financiamento subsidiado–, mas conta hoje com renhida oposição.  Outro mecanismo é a cobrança de pequena alíquota adicional no Imposto de Renda dos diplomados, que garantiria um fluxo contínuo de verbas para as combalidas universidades públicas. A USP, por seu tamanho e excelência, teria muito a ganhar com isso.

Vergonha nacional   (Folha de S.Paulo – Opinião – 22/01/15)

Estamos vivendo em nosso país tempos sombrios em matéria de qualidade do ensino, especialmente se considerarmos a educação pública. Os resultados do Enem são catastróficos. Houve uma queda de 7,3% no desempenho médio em matemática. Na redação foi pior ainda: 9,7%. Vamos caminhando para o fundo do poço.  Dos 5,9 milhões de candidatos, 529 mil tiraram nota zero na redação sobre publicidade infantil. Ou seja, são estudantes que concluíram o ensino médio, sabe-se lá Deus como, mas padecem dos males do analfabetismo funcional. São incapazes de raciocínios elementares. O que esperar dessa geração?  Quando em um universo de quase 6 milhões de alunos só 250 tiraram a nota máxima (mil) na indispensável redação, pode-se inferir que estamos diante de uma fase caótica, a exigir providências que não podem mais tardar. Só o discurso bonito não produz efeitos práticos.  O argumento de que houve um suave aumento nas notas em ciências humanas, ciências da natureza e linguagens não convence. Na média, de um ano para o outro, houve uma diminuição de 1% na nota geral. É com esse quadro que vamos oferecer competentes recursos humanos para ampliar o atendimento ao ensino superior? Todos dizem que poderíamos estar com 10 milhões de universitários (temos 7 milhões), mas de que vale crescer o número com pessoas literalmente incompetentes? A análise do fenômeno da redação enseja curiosas observações. Metade dos que tiraram zero receberam essa nota porque houve fuga do tema. Ou seja, embromação. Cerca de 13 mil copiaram o texto motivador e ainda houve 955 que ofenderam direitos humanos. Não se pode culpar a escolha do tema pelo resultado, pois se os alunos tivessem sido bem preparados com uma boa base de leitura, isso não teria ocorrido.  Em uma conversa de horas com o ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas, um profundo conhecedor do nosso vernáculo, ouvimos também críticas ao enunciado das questões. Foi taxativo: “Nem eu, com a minha experiência, seria capaz de responder a todas as perguntas sobre língua portuguesa. Fiquei abismado com a falta de objetividade. Aliás, fiquei abismado também com a mania da pegadinha, que empolgou os examinadores”.  Como se vê, há problemas em todas as frentes. A educação básica cresceu em números, é certo, mas não corresponde às expectativas no que tange à qualidade. Enquanto se discute o sexo dos anjos, os resultados concretos estão aí, diante de todos, mostrando que há um longo caminho a ser percorrido.  O curioso é que, em todo esse processo, pouco se fala na formação e no aperfeiçoamento dos professores. Temos quase 3 milhões deles no Brasil inteiro, mas é sabido que a qualidade do que se ministra nos cursos de magistério deixa muito a desejar. Para acabar com essa vergonha, só uma ampla reforma.

ARNALDO NISKIER, 79, doutor em educação, é membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola) no Rio de Janeiro

‘Trote é tortura’, diz professor da USP em CPI que apura denúncia de estupros  (Folha de S.Paulo – Cotidiano – 21/01/15)

Em nova reunião na Assembleia Legislativa para discutir denúncias de violação de direitos humanos em universidades, nesta quarta (21), professores da USP criticaram a “cultura do trote” —que, segundo eles, está relacionada à demonstração de poder na sociedade.  “A universidade tem que se afastar completamente do trote”, afirmou Antonio Ribeiro de Almeida Júnior, da Esalq (escola de agricultura). Para ele, o trote é uma forma de marcar a hierarquia na instituição e, mesmo as práticas consideradas mais leves envolvem, de alguma forma, violência e tortura.  “Há um tipo de personalidade masculina, que bebe, que arruma briga, que maltrata mulheres”, declarou o professor, que dá aula de sociologia na USP e tem três livros publicados sobre a cultura do trote. A CPI foi aberta no ano passado para apurar as denúncias de estupro na Faculdade de Medicina da USP. Agora, investiga todas as violações de direitos humanos em instituições públicas do país. Durante a reunião, Marco Akerman, professor da Faculdade de Saúde Pública, defendeu uma análise mais profunda em relação ao tema. “A gente tem que trabalhar com os determinantes sociais do trote”, disse, na CPI.  “Nós falamos em prevenir, mas é preciso entender a lógica. O trote é uma maneira de introduzir a hierarquia”, afirmou.  Na Faculdade de Medicina, exemplifica o professor, o trote tem uma lógica de poder que vai se estender para toda a sociedade.  Segundo Akerman, é um compromisso social defender a vida nas escolas de medicina, e o trote é um ritual de opressão.



Mais de 2,3 milhões de candidatos já se inscreveram no Sisu   (Terra – Educação – 21/01/15)

Sistema de Seleção Unificada (Sisu) registrou, até as 18h, 2.320.624 de inscritos, de acordo com o Ministério da Educação (MEC). No segundo dia de inscrição, a nota de corte mais alta da ampla concorrência foi o curso de direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), 824,21 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O curso de medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) registra a segunda maior nota de corte, com 821,81 pontos. Foram consideradas as instituições que oferecem todas as vagas pelo Sisu. A última nota de corte será divulgada amanhã (22), a partir de 2h. As inscrições para o Sisu terminam nesta quinta-feira e os candidatos têm até as 23h59 para participar da seleção para vagas do ensino superior público no site do sistema. Já com a segunda divulgação da nota de corte em mãos, os candidatos devem ficar atentos ao processo e, se desejarem, fazer as últimas mudanças na opção de curso. Para aqueles que ainda não fizeram a inscrição, a recomendação é que não deixem para a última hora. Segundo o especialista em Enem e presidente de honra do Instituto Henfil, Mateus Prado, os estudantes que têm mais de uma opção de curso, devem ficar atentos e ajustar a escolha às notas de corte para garantir uma vaga.