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05/06/2017 / Em: Clipping

 

Médico da Unicamp diz que cotas é “trocar cérebro por nádegas”; reitoria repudia declarações (Carta Campinas – Economia e Política – 02/06/2017)

A Reitoria da Unicamp e a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp repudiaram, por meio de notas, nesta sexta-feira, 2, as declarações do professor da área médica da própria universidade, Paulo Paula. Ele fez declarações consideradas desrespeitosas e que exalam preconceitos. Depois de publicar uma mensagem acintosa em rede social citando o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, feita após a universidade aprovar a implantação de cotas étnico-raciais, o médico, um pouco desinformado sobre estudos de rendimento de alunos cotistas, disse em entrevista que o “nível da produtividade” (SIC) da universidade tende a cair com as cotas. Sob o falso manto do discurso ‘meritocrático’ e com pensamento positivo-mecanicista, Paulo Palma fez declarações assombrosas para alguém com o mínimo de formação acadêmica. “O vagabundo do Lula pega a divisão de classe(SIC), pega a juventude perdida (SIC) para buscar atalhos para vida real e acha que isso vai resolver problema do ensino no País. Estão dizendo Paulo Palma é assediador. Estou cantando e dançando para esses indivíduos que não têm currículo, tem discurso do blá, blá, blá, são laborfóbicos. Quando chegam às 9h à universidade estou lá desde 7h. A universidade é para a elite cultural do Brasil, não para vagabundo”, afirmou ao jornal Correio Popular. Outra declaração do professor é de que cotas significam troca de “cérebro por nádegas”.  Apesar da verborragia, o currículo lattes do professor é recheado de artigos técnicos, bem ao estilo do produtivismo brasileiro. Nada realmente de grande valor como um Nobel de Medicina. Entre os prêmios e títulos ele destaca o de membro honorário da “Sociedad Paraguaya de Urologia”. Em nota, a direção da Faculdade de Ciências Médicas disse repudiar, com veemência, comentários desrespeitosos realizados por um membro do corpo docente.

Veja nota da Direção da Faculdade de Ciências Médicas:

A Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp repudia, com veemência, comentários desrespeitosos realizados por um membro do corpo docente, recentemente, em rede social e matérias jornalísticas. Tais comentários ferem os valores universitários e os objetivos de pluralidade e inclusão social, amplamente preconizados e difundidos pela FCM, ao longo de sua história. A FCM da Unicamp, em conjunto com a Reitoria, acompanha os desdobramentos dos últimos acontecimentos, bem como a tomada das providências administrativas cabíveis. (FCM).

Veja nota da Reitoria:

A propósito das declarações de um docente da Unicamp ao jornal Correio Popular, em sua edição de 02 de Junho, sobre a aprovação do princípio de cotas étnico-raciais pelo Conselho Universitário, a reitoria esclarece o seguinte:

1- A reitoria repudia a linguagem e o tom adotados pelo referido docente, incompatíveis com o debate qualificado das ideias no ambiente acadêmico e com o respeito que a sociedade merece.

2 – A reitoria reafirma o seu compromisso com o avanço da inclusão social e étnico-racial, com garantia da excelência acadêmica, o que vem sendo discutido em um ambiente de ampla participação da comunidade e órgãos institucionais, mediante o respeito à diversidade de ideias.

3 – A Unicamp pratica, respeita e defende a liberdade de expressão como valor inalienável de uma sociedade democrática, mas não tolera manifestações que firam os princípios de respeito à dignidade da pessoa e aos seus direitos fundamentais, não aceitando tratamento desigual por motivo de preconceito, conforme explicitado em sua missão institucional.

4- Diante disso, a reitoria tomou as providências cabíveis de acordo com as normas e regulamentos estabelecidos no regimento da Universidade. (Unicamp)

 


Número de alunos de escola pública aprovados na USP volta a crescer e bate recorde (G1 – Educação – 03/06/2017)

Em 2017, 36,9% dos calouros da USP fizeram o ensino médio em escola pública. Número, porém, ainda está longe de previsão da universidade, que espera atingir marca de 50% em 2018.

Depois de um ano de queda, a porcentagem de calouros da Universidade de São Paulo (USP) que saíram da rede pública bateu um recorde histórico em 2017: dos 10.994 estudantes matriculados no primeiro ano de cursos de graduação da universidade, 36,9% fizeram o ensino médio em uma escola pública. É a maior proporção já registrada, mas ainda está aquém da meta – a USP pretende chegar a 2018 com 50% de seus calouros oriundos da rede pública, segundo informou, no ano passado, o professor Antonip Carlos Hernandes, pró-reitor de Graduação. Os dados sobre o vestibular 2017 foram divulgados por Hernandes nesta semana, em reunião do Conselho Universitário.

Cotas raciais

Neste ano, um em cada cinco calouros da USP se autodeclarou preto, pardo ou indígena (PPI), segundo as estatísticas divulgadas pela Pró-Reitoria de Graduação: dos 10.944 calouros, 2.114 são PPI, ou 19,3% do total. O número representa um aumento em relação ao vestibular 2016, quando 17,1% dos novos estudantes de graduação haviam se autodeclarado preto, pardo ou indígena. Já na Fuvest 2014, por exemplo, essa porcentagem era de 14%.

Perfil racial dos calouros da USP

Veja a proporção entre os aprovados na USP que se declararam pretos, pardos ou indígenas (PPI), e dos que se autodeclaram brancos ou amarelos: pretos pardos ou indígenas: 19,3 %. Brancos ou amarelos: 80,7 %

98,8% de preenchimento

Em um comunicado divulgado pela assessoria de imprensa, a USP afirma que, em 2017, 98,8% das vagas oferecidas pela Fuvest e pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) foram preenchidas. No total, foram oferecidas 8.734 vagas pela Fuvest e 2.338 pelo Sisu. Porém, as vagas que ficaram ociosas após as chamadas do Sisu foram redistribuídas aos candidatos da Fuvest. A USP não divulgou a porcentagem de vagas que não foram preenchidas no Sisu. No ano passado, 45,3% das vagas oferecidas via Enem ficaram ociosas e foram transferidas para as chamadas da Fuvest. Na época, a instituição afirmou que o calendário e o medo das altas notas de corte afetaram o preenchimento das vagas, e por isso fez adequações ao processo seletivo deste ano.

 


Jovens que abandonam o ensino médio acabam ocupando o setor informal (JTV – Cidades – 03/06/2017)

Quando adultos, dificilmente voltam a estudar e permanecem incapacitados e, consequentemente, desempregados

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 16.029 pessoas residentes em Valinhos completaram o ensino fundamental, mas não fizeram o ensino médio. O número dobra no caso dos que sequer possuem completo o ensino fundamental, totalizando 35.287. Existe também a parcela de munícipes que jamais frequentou creche ou escola. Neste grupo, o número de pessoas entre 30 e 39 anos é de 251. Entre os valinhenses de 40 a 49 anos esse número chega a 356 pessoas. Não é surpresa que fatias mais velhas da comunidade sejam as menos instruídas. Isso não é fenômeno exclusivo da cidade e se deve a alguns fatores, entre eles a tendência, há algumas décadas, de dar início ao trabalho mais cedo do que hoje em dia. Os filhos, que precisavam ajudar financeiramente a manter a casa, começavam a trabalhar ainda crianças e abandonavam os estudos.

Quem são os jovens fora da escola

Em 2015, Valinhos possuía 63 escolas de ensino fundamental, entre instituições privadas, escolas públicas municipais e estaduais. No mesmo ano, o município possuía apenas 16 escolas de ensino médio. 9 dessas representam instituições privadas de ensino, inviável para a maior parte da população. O restante, 7 escolas públicas estaduais, é o que deve suprir a demanda do município. Em outras palavras: alunos de 63 escolas de ensino fundamental devem ser encaminhados e comportados em apenas 7 escolas públicas estaduais – nenhuma municipal-para cursar o ensino médio. A conta, evidentemente, não fecha. Ou não deveria fechar: muitos alunos desistem de cursar o ensino médio, largam os estudos e integram o grupo de 16.029 munícipes citados na primeira linha desta reportagem.

Gravidez precoce

Uma característica marcante do grupo de jovens que parou de estudar precocemente é a elevada taxa de gravidez entre adolescentes. Do total de 1,3 milhão de jovens de 15 a 17 anos fora da escola sem Ensino Médio concluído no Brasil em 2014, 610 mil são de mulheres. Entre essas mulheres que abandonaram a escola precocemente, mais de um terço delas (o equivalente a 212 mil) já eram mães.

Em busca de emprego

Outro fator que eleva o risco de o aluno evadir é a participação no mercado de trabalho, que é mais alta entre os homens de 15 a 17 fora da escola sem Ensino Médio completo: quase dois terços  deles trabalham ou estão procurando emprego. O ingresso de jovens com escolaridade tão precária no mercado de trabalho é preocupante. Como destaca um relatório divulgado em janeiro de 2016 pelo Banco Mundial, a evasão precoce é o caminho mais comum na América Latina para ingresso nas estatísticas dos homens jovens que nem estudam nem trabalham.

Engrenagem caótica

Os jovens que deixam os estudos cedo para ingressar no mercado de trabalho acabam ocupando o setor informal, sem direitos trabalhistas e com mais instabilidade. Uma vez que perdem o emprego, dificilmente voltam a estudar, tornando-se adultos não capacitados e sem escolaridade. Em frente à crise financeira, que enxuga e seleciona, portanto, o mercado de trabalho, é o grupo que mais sofre para conseguir um emprego.

 


USP deve ampliar cotas para negros e estudantes do ensino público em 2018 (Revide – Notícias – 04/06/2017)

Em Ribeirão Preto, 30% das vagas abertas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras pelo Sisu serão destinadas para o sistema de cotas

O processo seletivo para a Universidade de São Paulo (USP) vai ficar diferente em 2018. Isso porque, deve ser implementada uma nova forma para candidatos oriundos de escolas públicas e autodeclarados negros, pardos ou indígenas ingressarem na universidade. Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) do campus Ribeirão Preto, um terço das vagas disponíveis será destinada para alunos cotistas. O presidente da Comissão de Graduação da FFCLRP da USP, Joaquim Cezar Felipe, explica que nos 10 cursos da faculdade, que conta com 425 vagas abertas a cada vestibular, em 2018, 30% das vagas serão destinadas via Sistema de Seleção Unificada (Sisu) – porcentagem máxima estabelecida pela universidade, que também tem a Fuvest como forma de ingresso. Além disso, em quase todos os cursos, este percentual será dividido com 1/3 para escolas públicas e 2/3 exclusivamente para PPIs (Pretos, Pardos e Índios) oriundos de escolas públicas, totalizando 108 vagas para escolas públicas. “Esta decisão vai de encontro ao anseio da comunidade estudantil e representa um importante passo para a inclusão social dentro da Faculdade e também da Universidade de São Paulo, cumprindo esta, de forma mais efetiva, o seu papel junto à sociedade”, afirma Felipe. Ele lembra que uma das metas da USP é que 50% dos alunos sejam oriundos de escolas públicas, sendo desses 35% do grupo de PPI – proporcional a população autodeclarada negra, parda ou indígena no Estado de São Paulo. A nova proposta de entrada de estudante na universidade foi comemorada na classe acadêmica. Alguns professores consideraram um grande avanço, por considerarem este ser um meio ainda “muito conservador”. A nova proposta, que deve valer a partir de 2018, inclusive, foi apresentada pelos próprios estudantes da universidade. O sociólogo e o pesquisador do Centro Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELLAC), Silas Nogueira, acredita que está decisão é muito importante para as lutas dos movimentos sociais. Nogueira acredita que esta não representa uma escolha apenas pela cor de pele, mas sim uma forma de diminuição da exclusão social. O sociólogo aponta que esta é uma vitória dos movimentos negro e indígena no País, já que as cotas são um objeto de luta muito antiga dos movimentos. “Eles estão historicamente aleijados das benesses e inseridos em uma sociedade desigual, e sofrem as mais graves forma de violência, que é o extermínio. Basta dar uma vista nas notícias”, salienta Nogueira. Para ele, as cotas são um instrumento de inclusão social, já que o acesso à universidade pública ainda é muito elitizado. Na última semana, o Conselho Universitário da USP divulgou que em 2017 houve um aumento no número de ingressos de estudantes do sistema público de ensino na universidade, que passou de 3.763 (34,6%) para 4.036 estudantes (36,9%). Em 2017, foram oferecidas 11.072 vagas, sendo 8.734 destinadas a seleção pela Fuvest e 2.338 vagas pelo Sisu. Também foi registrado aumento no número de ingressantes que se autodeclararam pretos, pardos ou indígenas. Dos 10.944 estudantes matriculados, 2.114 (19,3%) são PPI. Em 2016, essa porcentagem foi de 17,1%. “O aumento do acesso é uma forma de diminuição da desigualdade, é uma tentativa de reparação da exclusão. Inúmeras pesquisas já constataram que os estudantes cotistas vão bem, e às vezes até melhor do que os não cotistas”, reforça Nogueira, que lembra que deve ser combatida a ideia que as cotas olham apenas para a cor da pele e que são é uma forma de reparação história, cultural e social.

 


Um pouco mais de empatia (O Globo – Sociedade – 05/06/2017)

Ações de tutoria e mais atenção por parte dos professores fora do horário de aula ajudam a reduzir a evasão em universidades

Recentemente, um professor de universidade pública contou-me num almoço que estava preocupado com o aumento no número de alunos com sinais de depressão e ansiedade. Ele levou aos colegas de departamento a questão, sugerindo que discutissem estratégias de apoio. Sabia que não fazia sentido esperar que docentes assumissem função de psicólogos, mas esperava ao menos alguma empatia. Ouviu dos demais, porém, que isso não era problema deles. NO BRASIL, QUASE METADE dos universitários que iniciam um curso o abandona cinco anos depois. A taxa de evasão é de 53% em instituições privadas e de 43% nas públicas. Há vários fatores — financeiros, acadêmicos, emocionais — que levam um aluno a desistir. Por isso, devem também ser múltiplas as estratégias para combater o problema. Na sexta-feira passada, o pesquisador da Universidade de Stanford Eric Bettinger apresentou, no Fórum de Docentes da Estácio, pesquisas que provam que dar apoio aos estudantes e mostrar que os professores se importam com eles é uma das estratégias mais eficazes. Um dos estudos apresentados foi publicado no ano passado por pesquisadores da Universidade da Califórnia. A pesquisa primeiro identificou que uma das principais queixas de alunos era em relação à falta de interação com os professores e de orientação nos estudos. Em seguida, comparou o desempenho de dois grupos de alunos divididos aleatoriamente. Um deles teve aulas com professores orientados a enviar ao menos dois e-mails personalizados aos estudantes durante o semestre de suas aulas. Em geral, eram mensagens em que os docentes comentavam sobre o desempenho do aluno e ofereciam ajuda, de maneira positiva. O experimento mostrou que o grupo de estudantes que recebeu os e-mails personalizados teve melhor desempenho acadêmico e se dedicou mais aos estudos. Para o pesquisador, além da melhoria da comunicação e orientação aos estudantes, a estratégia funcionou porque os alunos relataram que, depois das mensagens, passaram a acreditar mais que seus professores se importavam com eles e desejavam seu sucesso. Na mesma linha, outro estudo citado por Bettinger avaliou o impacto de ações de tutoria aos estudantes em 17 universidades americanas. Os programas tinham em comum o fato de adotarem uma postura ativa. Os mentores enviavam mensagens, e-mails e telefonavam para os alunos oferecendo ajuda. O resultado foi uma diminuição nas taxas de evasão. E os custos dos programas eram muito menores do que os prejuízos com o abandono. A ação se mostrou inclusive mais eficaz do que a simples oferta de ajuda financeira. Ainda hoje há quem acredite que o papel do professor — ou mesmo de uma instituição de ensino — se resuma a ensinar conteúdos. É sem dúvida uma tarefa fundamental, mas essa visão limitada também tende a transferir aos estudantes toda a responsabilidade pelo sucesso ou fracasso. Se o aluno não aprendeu, foi porque não se esforçou ou não era capaz. Um jovem abandonar um curso por falta de apoio, orientação ou empatia não é um problema meramente individual. É também uma preocupação de políticas públicas, pois traz sérios prejuízos a instituições privadas e aos cofres públicos.