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06/10/2017 / Em: Clipping

 

Você é a favor ou contra as cotas raciais nas universidades? (Bonde News – Debates – 06/10/2017)

As cotas raciais já são aplicadas há algum tempo pelas instituições de ensino superior públicas do Brasil. Na Universidade Estadual de Londrina (UEL), por exemplo, a ação afirmativa foi implantada por meio da Resolução nº 78 do Conselho Universitário de 23 de julho de 2004. Desde então, o assunto é tema de debate na cidade, com argumentos que vão desde o combate à desigualdade social até a ineficiência dos resultados esperados. Para ajudar o leitor a formar ou a rever uma opinião própria, o Portal Bonde, nesta terceira edição da série Debates, encomendou dois textos sobre cotas raciais nas universidades. O primeiro é favorável à ação afirmativa e é assinado pela advogada e vice-coordenadora da Comissão da Promoção da Igualdade Racial e das Minorias da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Londrina, Maria Lucilda dos Santos. O segundo, contrário, é de autoria do mestre em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e professor Marcos Ursi Corrêa de Castilho.

A favor das cotas raciais nas universidades

Falar de cotas é necessário? Aí vejo no noticiário: Charlottesville e Miss Brasil negra (!). Enfim, parece que “é preciso estar atento e forte”.  As vozes técnicas dirão que o sistema de cotas fere o tratamento igualitário. Ora, de Aristóteles, que pregava que isonomia era “tratar os iguais igualmente e os desiguais desigualmente, na medida de suas desigualdades”, até o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 186, essa questão já está superada, qual seja, o sistema não fere os princípios constitucionais.  Outros argumentarão: não existe raça, somos todos iguais, 90% dos brasileiros têm ancestralidade africana, estamos criando atrito etc. Ora, racismo não é invenção dos negros, bem como o sofrimento oriundo dele, apenas tiramos o véu e a imagem choca, não existe a democracia racial e as ações afirmativas, das quais as cotas fazem parte, é uma necessidade para corrigir a desigualdade. A questão não é a raça, mas o fenótipo, a aparência, o negro sofre racismo por conta da cor da pele e de características próprias (cabelo, lábios, nariz), independentemente da condição socioeconômica. Outro viés que levantam é a qualificação do aluno e o decréscimo do ranking da universidade após a implantação do sistema. A resposta está nos números: a Universidade Estadual de Londrina (UEL) só aumentou seu status entre as melhores instituições. Os cotistas, quando não igualam as notas com os outros alunos, superam-nas. Já o vestibular não é parâmetro para aferir sapiência, pois exige conhecimentos “decoráveis”. Outros métodos já se mostraram melhores, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Programa Universidade para Todos (Prouni). Coerente é o argumento que trata do ensino de base, e as cotas não solucionam o problema. Temos uma defasagem educacional, que como solução (utópica) só vejo o ensino ser INTEGRALMENTE público. Mas, enquanto isso não ocorre, a conta não deve ser debitada aos negros e pobres. Somos 50% da população. Em 2005 éramos 5,5% na universidade e em 2015, 12,8%, ainda inferior ao ideal para uma universidade PÚBLICA, que deveria espelhar a sociedade que a mantém, e que só tem a ganhar com a capacitação e ascensão econômica de um grupo tão significativo. Ser cotista não é assumir papel de inferioridade, mas exercer o direito à cidadania. É uma das formas de reparação e de reconhecimento da nossa importância na formação social, econômica e cultural e essencial para a pacificação social. Autora: Maria Lucilda dos Santos, advogada e vice-coordenadora da Comissão da Promoção da Igualdade Racial e das Minorias da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Londrina.

Contra as cotas raciais nas universidades

O discurso que sustenta a política de cotas étnicas no Brasil está ancorado em uma verdade. No Brasil, os ricos são maciçamente brancos e os pobres são negros na esmagadora maioria. Somos uma sociedade desigual e temos demostrado uma incapacidade de resolver esses defeitos ao longo dos séculos. As universidades públicas dão fiel testemunho desse cenário e acolhem majoritariamente brancos e ricos, financiados com dinheiro público. É sabido desde Hipócrates, entretanto, que não basta ao médico apenas reconhecer os sintomas, a cura está em encontrar o tratamento eficaz. As políticas de ações afirmativas, assim nomeadas por John Kennedy nos anos de 1960, foram aplicadas ao redor do mundo. Malásia, Paquistão, Canadá, Índia e até a URSS foram alguns dos países que lançaram mão dessa prática. Com sólida base de dados, o economista estadunidense Thomas Sowell, filho do Harlem, demostra como as cotas, mesmo aplicadas a realidades socioculturais distintas, têm resultados semelhantes e insatisfatórios. Todas elas costumam ser apresentadas como medidas paliativas temporárias que visam resolver um problema emergencial. A tendência, na realidade, acaba sendo a prorrogação dessas políticas e a ampliação dos programas e das porcentagens de cotas, independentemente do sucesso ou não de tal medida. Isto acontece, por um lado, pela dificuldade de aferição fiel dos resultados, mas principalmente pelo fato de que o efeito da criação das cotas é o fortalecimento político dos grupos agraciados com tal benesse. Esses grupos passam a estar cada vez mais articulados e demandam mais e mais benefícios do Estado, independentemente da eficácia empírica das medidas. Mais do que resolver o problema da população negra e pobre brasileira, as políticas de cotas têm sido usadas como bandeira político-ideológica. As cotas, antes de refletirem uma preocupação real com indivíduos reais, são um símbolo político, uma hegemonia de poder nos campi do país. Se não o fossem, estaríamos discutindo não só o abrandamento dos critérios de classificação e ingresso nas universidades, mas o aprimoramento de todo o sistema de avaliação e graduação desses alunos (antes e depois do vestibular). Quando foi que, ao se discutir a porcentagem (recentemente aumentada) do número de alunos cotistas, se discutiu também quantos alunos a universidade poderia realmente absorver, cuidar, recuperar, para de fato integrá-los no mercado competitivo? O que concretamente se faz por eles, além de colocar seus nomes na lista? Autor: Marcos Ursi Corrêa de Castilho, mestre em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e professor.

 


Não basta estar na escola, é preciso garantir que todos aprendam (Folha de S. Paulo – Colunas – 06/10/2017)

Na última semana, dois importantes relatórios foram divulgados, ambos abordando o que vem sendo chamado de crise global de aprendizagem: o World Development Report de 2018, do Banco Mundial, e o texto da consultoria McKinsey sobre fatores que influenciam o sucesso escolar na América Latina. Em ambos o Brasil não aparece bem na fita. O relatório do Banco Mundial celebra o fato de que o acesso à educação vem se expandindo muito nos anos recentes. Ao mesmo tempo, porém, alerta que escolarização e aprendizagem não são sinônimos e que, dada a precariedade do ensino em boa parte dos países em desenvolvimento, perde-se uma oportunidade de desenvolvimento e comete-se uma grande injustiça com as crianças e jovens. De alguma maneira, os sistemas escolares não se prepararam para acolher e educar uma miríade de alunos que finalmente tiveram acesso à educação. Mesmo depois de vários anos na escola, diz o relatório, milhões de crianças não sabem ler, escrever ou dominam uma aritmética elementar e, com isso, muitos alunos chegam à idade adulta sem as competências mais básicas para a vida. O Brasil, um dos últimos colocados no Pisa, um teste internacional de educação, é certamente exemplo do que é mencionado no relatório. Em 1930, contávamos com apenas 21,5% das crianças na educação primária, quase empatados com a Coreia, hoje um dos melhores sistemas na avaliação organizada pela OCDE. Nós, por outro lado, temos progressos muito pequenos em aprendizagem e ainda não conseguimos garantir que a maior parte dos nossos jovens tenha acesso ao ensino médio. Para os que têm, uma triste realidade: o Ideb, índice que mede a qualidade da etapa, está estagnado em 3,7 (numa escala de 0 a 10). O relatório da McKinsey acaba fornecendo um receituário para enfrentar o problema, com base em meticulosa análise dos dados fornecidos por questionários preenchidos por ocasião da aplicação do exame. Nele, aparecem como possibilidades de intervenção adequada o investimento na motivação do aluno, melhorias nas práticas do professor em sala de aula, seja por meio de aprimoramentos na formação inicial ou na formação em serviço, melhor uso da tecnologia, especialmente para apoiar a atuação dos mestres e ampliação da jornada escolar, ou, na impossibilidade de fazê-lo, no melhor uso do tempo pedagógico, focando a instrução. Segundo pesquisa de Barbara Bruns e Javier Luque, o Brasil não apenas tem uma carga horária bem menor que a dos países com bons sistemas educacionais como gasta mal o pouco tempo de aula. Sem resolver essas questões, continuaremos patinando em educação e —dizem os dois relatórios— em desenvolvimento.

 


 

Dez filmes imperdíveis sobre educação (Gazeta do povo – Educação – 05/10/2017)

Obras servem de inspiração ao mostrar problemas e soluções no ambiente escolar

A escola como mediadora social em um bairro pobre e violento; um professor de poesia que inspira jovens a desenvolver o senso crítico além da formação tradicional e até mesmo a situação de imigrantes africanos de ex-colônias francesas no sistema educacional do país europeu: o cinema sempre usou o ambiente escolar como pano de fundo para reflexões sociais. Para os que pretendem se inspirar, refletir ou conhecer melhor outras realidades, a Gazeta do Povo listou os melhores filmes cujo fio condutor é a educação. Confira.

  1. Ao Mestre, com Carinho (1967)

Filme britânico de 1967 retrata a escolha de Mark Thackeray (Sidney Poitier) ao assumir o cargo de professor secundário em uma escola de Londres, após seu insucesso em encontrar um emprego como engenheiro eletrônico. Thackeray é um professor negro tendo de enfrentar a resistência dos alunos, em sua maioria brancos, indisciplinados, e sem a menor intenção de dar uma chance ao novo professor. Apesar das dificuldades, o engenheiro, acostumado com a hostilidade na Inglaterra, não desiste.

Mas quando recebe um convite para voltar ao ramo da engenharia, Mark precisa decidir se retorna ao antigo cargo ou aceita enfrentar o novo desafio. O filme recebeu indicações ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Jovem Atriz e venceu o Grammy de Melhor Trilha Sonora (1968).

  1. Sociedade dos Poetas Mortos (1989)

Talvez a produção a mais lembrada de Hollywood sobre educação seja Sociedade dos Poetas Mortos. Vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original e indicado em mais duas categorias na premiação mais importante do cinema americano, o filme mostra a realidade da Academia Welton, um tradicional e conservador internato masculino dos Estados Unidos. Após a chegada de John Keating (Robbin Williams), professor que usa métodos inusitados para incentivar seus alunos, sete estudantes da Welton fundam a “Sociedade dos Poetas Mortos”, grupo que se reúne clandestinamente para promover a leitura de clássicos da poesia americana. Com os ensinamentos do novo professor, os jovens começam a descobrir que a educação vai muito mais além do que ensinam os quatro pilares da Welton: tradição, honra, disciplina e excelência. “Existem alguns filmes que, se você os observa pela primeira vez na idade certa, têm a capacidade de nos inspirar e encorajar: Sociedade dos Poetas Mortos é um deles”, declarou Sarfraz Manzoor, jornalista e documentarista, ao Guardian.

  1. Como Estrelas na Terra (2007)

Ishaan é um garoto indiano de nove anos, sem muitos amigos. Após frequentes maus resultados na escola, seus pais decidem enviá-lo para um colégio interno para evitar a segunda reprovação. Durante uma fase solitária e confusa na nova escola, Ishaan conhece o professor Nikumbh, que começa a descobrir no garoto traços de dislexia. Com a ajuda do professor, Ishaan começa a entender o motivo de suas dificuldades de aprendizagem e sua trajetória escolar começa a mudar.

  1. Escritores da Liberdade (2007)

A jovem e inexperiente professora Erin Gruwell (Hilary Swank) é designada para lecionar em uma escola de um bairro pobre e violento de Long Beach, Califórnia, em que encontra um cenário com fortes disputas étnicas e sociais dentro da sala de aula. A professora, branca e de formação acadêmica tradicional, tenta conectar seu discurso e métodos à realidade desses jovens – em sua maioria negros ou descendentes de imigrantes latinos -, compreendendo problemas familiares e sociais de cada um deles, para que eles possam interagir e romper barreiras entre si.

  1. A Onda (2008)

Durante aula em uma escola alemã, o professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) questiona seus alunos se uma ditadura totalitária, como a vivida pela Alemanha durante o governo do Partido Nazista, seria possível nos dias atuais. Após a descrença dos jovens, Wenger propõe um experimento, com o intuito de mostrar aos estudantes a facilidade de manipular as massas. O professor sugere que os alunos usem as mesmas roupas e obedeçam uma rotina de atividades, seguida por todos à risca. A partir da adesão de alunos da escola, surgem um símbolo e um cumprimento para o experimento intitulado “A Onda”, que começa a sair do controle até mesmo do professor Wenger, gerando implicações irreversíveis para os alunos e para Wenger.

  1. Entre os Muros da Escola (2008)

O drama francês “Entre os Muros da Escola” (Entre les Murs) reflete a situação desigual entre brancos e descendentes de imigrantes de ex-colônias francesas. O protagonista, professor François (François Bégaudeau), serve como guia para o espectador, escancarando e desmascarando as ações de alunos e de outros professores, que reforçam os problemas sociais já acentuados em uma escola de Paris. O grande diferencial do filme está em seu elenco: todos os atores principais são amadores.

  1. Preciosa (2009)

O ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado de 2010 retrata a vida de Preciosa (Gabourey Sidibe), uma jovem nova-iorquina de 16 anos, moradora do bairro do Harlem, que e sofre com os constantes abusos psicológicos e sexuais. Após sua segunda gravidez, fruto de mais um abuso do pai (Rodney Jackson), a diretora do colégio encaminha Preciosa à uma instituição de ensino alternativo. Lá, sua nova professora, Blu Rain (Paula Patton), ensina a jovem a ler e escrever, enquanto Preciosa enfrenta os problemas familiares.

  1. Além da Sala de Aula (2011)

Stacey Bess é uma professora em busca do primeiro emprego. Contrariando suas expectativas, a jovem é contratada para lecionar em uma escola pouco convencional: um projeto social para crianças sem-teto. Logo em seus primeiros dias, ela precisa vencer seus medos e preconceitos, além das condições precárias do local de ensino. Com seu próprio esforço e economias (devido ao não pagamento de seu salário), Stacey muda a realidade da escola e as crianças começam a desenvolver seu aprendizado.

  1. O Substituto (2011)

Henry Barthes (Adrien Brody) é um competente professor de ensino médio, com extrema facilidade de relacionamento com seus alunos. Ele escolhe ser um professor substituto para não criar vínculos com pessoas, profissão que o faz mudar constantemente de cidade. Mas quando Barthes começa a lecionar em uma escola pública, ele encontra professores desmotivados e alunos violentos com problemas familiares. O professor começa então a se envolver emocionalmente com os estudantes, o que faz com que ele sinta sua importância na vida desses jovens.

  1. Numa Escola de Havana (2014)

As mazelas de um país miserável são exploradas em “Numa Escola de Havana”. O jovem Chala, aluno problemático, é frequentemente enviado a um centro de correção juvenil. Mas após conhecer Carmela, uma experiente professora, Chala começa a mostrar avanços dentro da sala de aula e seus problemas acabam sendo creditados também ao sistema educacional precário cubano. “No ambiente da escola, degradado fisicamente, assim como as moradias dos personagens, as relações humanas também se veem prejudicadas por regras como a que proíbe a presença de um santinho católico no mural da sala de aula”, escreveu a versão brasileira do jornal EL País.