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17/10/2017 / Em: Clipping

 

Veja quais são as melhores universidades públicas do país (Exame – Carreira – 17/10/2017)

Instituições ficaram com as primeiras colocações do Prêmio Melhores Universidades, do Guia do Estudante, que analisou 17.000 cursos em todo o país em 2017

Criado em 2006, o Prêmio Melhores Universidades, do Guia do Estudante, publicação da Editora Abril, seleciona as melhores instituições de ensino superior do país com base na avaliação de cursos superiores realizada anualmente pela marca. Em 2017, quase 17.000 cursos em todo o país foram analisados por mais de 11.000 acadêmicos que atuam nas universidades brasileiras. A principal categoria do prêmio, Universidade do Ano, é dividida entre instituições públicas e privadas. Entre as públicas, USP, Unesp e Unicamp ficaram nas primeiras colocações. Conheça a seguir as áreas nas quais as três universidades se destacam.

1° lugar: USP

Ensino e pesquisa de qualidade, avanço internacional e presença constante em rankings estrangeiros

Criada em 25 de janeiro de 1934, a Universidade de São Paulo (USP) é a mais prestigiada instituição de ensino superior do Brasil. Conhecida principalmente pela excelência acadêmica, a USP oferece uma sólida formação aos seus quase 90.000 alunos, matriculados nos 214 cursos de graduação e 222 programas de pós-graduação, que contemplam todas as áreas do conhecimento. Os pesquisadores e professores da universidade são responsáveis por cerca de um quinto da produção científica do país. E 99% dos 6 mil docentes têm, pelo menos, doutorado. A infraestrutura da USP também impressiona: são oito campi, espalhados entre a capital paulista, onde se encontra a sua sede, o interior do Estado, nas cidades de Bauru, Lorena, Piracicaba, Pirassununga, Ribeirão Preto e São Carlos, e o litoral, em Santos. Os estudantes contam com dezenas de bibliotecas, museus, livrarias, salas de informática e laboratórios com tecnologia de ponta para práticas científicas, além de restaurantes, alojamentos, centros esportivos e o maior hospital da América Latina, o Hospital das Clínicas, considerado centro de referência internacional em ensino e pesquisa em saúde. Os alunos também são beneficiados com auxílios e bolsas, além de cursos de extensão e atividades extracurriculares.

A importância da internacionalização

Sempre presente nos principais rankings internacionais, em 2017, a USP perdeu a sua liderança na América Latina para outra brasileira, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no levantamento da organização britânica Times Higher Education, considerada uma das principais avaliações educacionais do mundo. Ela caiu uma posição, tornando-se a segunda melhor. Ainda assim, ela mantém seu prestígio e também faz bonito em outros rankings estrangeiros. Por exemplo, ela é a mais bem colocada universidade latino-americana no Academic Ranking of World Universities (ARWU), publicado em agosto de 2017 pela Shanghai Ranking Consultancy. De acordo com o reitor Marco Antonio Zago, o fato de a USP estar sempre bem posicionada nesses levantamentos traz muitos benefícios. “É inegável que a boa reputação da USP em rankings internacionais tem um impacto muito positivo nas parcerias com outras universidades, facilitando o intercâmbio de pesquisadores e o desenvolvimento de projetos de pesquisa com financiamento conjunto”, afirma.

A universidade possui hoje 1.263 acordos internacionais com instituições de vários países, um aumento de 40% em relação a 2016. Segundo a Agência USP de Cooperação Acadêmica Nacional e Internacional (Aucani), 1.625 estudantes de outros países realizaram parte de seus estudos na instituição, enquanto 2.586 graduandos da USP foram enviados ao exterior em 2016. O programa de bolsa de intercâmbio internacional facilita a mobilidade estudantil, permitindo que os alunos cursem parte da graduação em uma universidade estrangeira. Em geral, os custos do programa e da acomodação ficam a cargo da universidade e, dependendo do convênio, o aluno precisa arcar com as passagens aéreas, alimentação e transporte no local.

De olho no futuro

Segundo o reitor Zago, o maior desafio da atualidade, além de superar a crise financeira que a USP enfrenta há mais de quatro anos, é diminuir as desigualdades e universalizar o acesso ao ensino gratuito e de qualidade da instituição. A ampliação das vagas destinadas ao Sisu (Sistema de Seleção Unificado) do Ministério da Educação (MEC) – de 13,5% em 2016 para 24,6% em 2018 –, bem como a adoção de cotas sociais e raciais devem contribuir para isso. Expectativas: Só a aprovação no vestibular importa? Em 2107, pela primeira vez em 40 anos, a USP aderiu ao sistema de cotas para alunos da rede pública para ingresso na instituição, antes atrelado somente ao Sisu. Com um total de 37% das vagas de cada unidade de ensino reservadas para esses alunos, a universidade pretende chegar a 50% das vagas por curso e turno até 2021. Na reserva de vagas para estudantes de escolas públicas, também incidirá o percentual de 37% para estudantes autodeclarados pretos, pardos ou indígenas (PPI), índice equivalente à proporção desses grupos no Estado de São Paulo, segundo o IBGE. O reitor classifica essa decisão como histórica. “É emblemático, porque representa uma universidade, que tem liderança e muita visibilidade no país, assumindo que a inclusão social é uma questão importante do ponto de vista de integração de nossa população”, afirma. Para 2018, a USP também continuará investindo na modernização dos currículos dos cursos, atividade em prática desde 2014, quando suas unidades ganharam autonomia acadêmica e pedagógica para atualizar as grades curriculares, flexibilizando-as de acordo com as necessidades de cada disciplina. Além disso, novos cursos iniciarão suas primeiras turmas já em fevereiro de 2018: Medicina, em Bauru; e Biotecnologia, na USP Leste. Outra novidade é o bacharelado em Música com habilitação em clarone, único curso superior da América Latina especializado no ensino desse instrumento de sopro.

2º lugar: Unesp

Ensino de qualidade e preocupação em garantir que o aluno consiga se manter na instituição

Uma das maiores universidades multicampi do país, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) tem seus 34 campi espalhados por 24 cidades do estado de São Paulo, entre a capital, o interior e o litoral. Neles são ofertados 195 cursos de graduação e centenas de programas de pós-graduação, sendo 111 doutorados e 123 mestrados acadêmicos, além de 22 mestrados profissionais e 42 especializações lato sensu. Os seus 57.000 alunos contam com um corpo docente formado em sua maioria por professores doutores com regime de dedicação exclusiva, além de uma enorme infraestrutura composta por mais de 1.900 laboratórios e 30 bibliotecas que, juntas, contêm um acervo de 1,3 milhão de livros. Além disso, eles têm à disposição museus, hortos, jardins botânicos, cinco fazendas experimentais, três hospitais veterinários e clínicas específicas para as aulas práticas dos cursos de Odontologia, Psicologia, Fonoaudiologia e Fisioterapia. Merece destaque também o investimento em pesquisa: desde os primeiros anos da graduação os alunos são incentivados a participarem dos programas de iniciação científica. Além disso, a Unesp possui quase 60 empresas juniores formadas por graduandos que prestam diferentes serviços à comunidade, tornando-a uma instituição referência também em extensão. São realizados atendimentos psicopedagógicos a crianças com problemas de aprendizagem, orientação a micro e pequenos empresários, além de atendimentos médicos e odontológicos, dentre outros serviços.

Combate à evasão

“Sem dúvidas, uma de nossas maiores metas hoje é combater a evasão”, conta a pró-reitora de graduação Gladis Massini-Cagliari. Apesar de ter um índice abaixo da média nacional – em torno de 10%, enquanto a média é 18,4% nas públicas, segundo o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2017 do Semesp – a Unesp busca desenvolver projetos no sentido de diminuir os índices de retenção em disciplinas, que acabam desestimulando os alunos a continuarem nos cursos. Somado a isso, o Programa de Permanência Estudantil contempla os alunos de baixa renda com bolsas de apoio acadêmico, extensão, manutenção, moradia e iniciação científica, além de auxílios estágio e alimentação. “Não adianta darmos condições apenas para que esses alunos entrem na Unesp. Eles também precisam se manter nela durante todo o curso”, argumenta a pró-reitora. Desde 2017, a Universidade aumentou para 50% o percentual de vagas destinadas a alunos da rede pública. “Poder cursar uma parte da graduação no exterior também é um grande estímulo para o aluno ficar conosco”, completa Gladis. Apesar de ter dimuído quase pela metade o número de acordos assinados com universidades estrangeiras, a Unesp ainda é uma das universidades públicas que mais investem nessa área, com 250 convênios para intercâmbio mantidos atualmente.

Personalização dos currículos e novos cursos

Seguindo uma tendência mundial, a universidade vem reformulando os currículos dos cursos gradualmente, tornando-os mais personalizados. “A intenção é que os alunos de graduação tenham uma formação mais ampla, interagindo com a pós-graduação”, explica Gladis. Com a mudança na estrutura curricular, os estudantes podem escolher algumas disciplinas que, antes, eram restritas somente aos programas de pós-graduação stricto sensu. A universidade pretende ainda investir em novos cursos, mesmo com a crise econômica que afeta as instituições mantidas pelo governo paulista. Neste ano, foi ofertado pela primeira vez o curso de Engenharia Aeronáutica, em São João da Boa Vista. A ideia é que a cidade se transforme em um polo da indústria de aviação e referência no ensino dessa área.

3º lugar: Unicamp

Investimentos em pesquisa e inovação são o destaque da instituição

Líder em registros de patentes no país e responsável por 8% da produção científica nacional. Só esses dados já colocam a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) entre as melhores do país. Mas ela também é a universidade brasileira que detém a maior média individual de artigos periódicos publicados por seu corpo docente. Os 1.913 professores, dos quais 99% têm titulação de doutor, tiveram mais de 20 mil produções publicadas em 2016, quase 10 per capita. Considerada uma instituição jovem, com 51 anos de existência, a Unicamp se destaca ainda por integrar o ensino com a pesquisa e a extensão. Os 20.000 alunos dos 89 cursos de graduação são incentivados, desde os primeiros anos, a participarem de projetos de pesquisa. A pós-graduação também é de grande importância, uma vez que seus 152 cursos estão entre os mais bem colocados do país, muitos com nível de excelência internacional. Devido à sua relevância, a Unicamp conquistou um importante título em 2017. Pela primeira vez, ela ultrapassou a USP no ranking elaborado pela organização britânica Times Higher Education, tornando-se a melhor universidade da América Latina. Apesar de a USP liderar em pesquisa, a Unicamp acabou levando a melhor na quantidade de citações em trabalhos internacionais e em transferência de conhecimento para a indústria. Para se ter uma ideia, nos últimos 14 anos foram criadas 500 empresas a partir da Agência de Inovação da universidade. Somadas, essas empresas geram um lucro de 3 bilhões de reais por ano.

Uma escola só de extensão

Com quatro campi distribuídos entre as cidades de Campinas, Piraciba e Limeira, todas no interior de São Paulo, a Unicamp é marcada também por ser uma das universidades que mais investem no campo da extensão. Na Extecamp, Escola de Extensão da Unicamp, são ofertados mais de mil cursos, dentre eles atendimento a mulheres grávidas e casais na preparação de parto humanizado, identificação de microorganismos que deterioram os alimentos e até mesmo leitura e interpretação de contos de fadas e fábulas. Faz parte também da Escola um banco de talentos online, que cadastra empresas, públicas ou privadas, interessadas nos profissionais qualificados pelos cursos de extensão. Os alunos, por sua vez, também preenchem um cadastro e têm seus dados cruzados com os dessas empresas, garantindo que cada um deles tenha aumentadas as chances de ingressarem no mercado de trabalho.

Questão social

A Unicamp é uma das universidades pioneiras na adoção de ações afirmativas. Desde 2004, com a criação do Paais (Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social), candidatos que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas ganham um bônus na nota do vestibular (com acréscimo de pontos para aqueles autodeclarados pretos, pardos e indígenas). O programa tem sido um sucesso e, desde 2016, mais da metade dos alunos ingressantes são provenientes da rede pública de ensino. No entanto, para o reitor Marcelo Knobel, isso ainda não é suficiente. “A diversidade é um princípio fundamental. Queremos mais estrangeiros, mais pretos e pardos, mais indígenas, mais pessoas com deficiência”, afirma. Segundo ele, a proposta, ainda em discussão, é adotar cotas para esses grupos, além da adesão ao Sisu para parte das vagas e também a criação de um vestibular exclusivamente indígena.

Para o futuro, ele pretende também realizar mais alterações. “Queremos mudar os currículos. Eu gostaria que os estudantes tivessem uma formação mais ampla, com menos horas em salas de aula e mais em projetos e trabalho em equipe. A ideia é pensar num modelo mais flexível, em que o aluno possa mudar com mais facilidade de um curso para outro. O ensino superior brasileiro é muito rígido. Essa é uma discussão que eu gostaria muito de abrir”, finaliza.

 


Cerca de 3 milhões de jovens devem largar Ensino Médio até o fim do ano (O Globo – Sociedade – 16/10/2017)

Evasão representa prejuízo de R$ 35 bilhões, de acordo com estudo

Ao menos 2,8 milhões de jovens entre 15 e 17 anos devem terminar o ano sem completar os estudos no Brasil, acarretando um prejuízo de R$ 35 bilhões aos cofres públicos. Dados levantados pelo estudo Políticas Públicas para a Redução do Abandono e da Evasão Escolar de Jovens, lançado na tarde desta segunda-feira em São Paulo, apontam que os números reúnem adolescentes que não efetuaram a matrícula, abandonaram os estudos ou foram reprovados. Segundo a pesquisa, pouco mais da metade dos estudantes conseguirá concluir o ensino médio com apenas um ano de atraso. Ao explicar detalhes do relatório, Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, responsável por conduzir a pesquisa, destaca que o prejuízo aos cofres públicos é maior que o valor gasto com o Ensino Médio no país.  O custo com a evasão é maior que o gasto com o Ensino Médio. É necessário pensar uma redistribuição de gastos do Ensino Superior para o Ensino Médio – explicou nesta segunda em entrevista coletiva concedida na sede da faculdade em São Paulo. O levantamento, elaborado pelo Instituto Ayrton Senna em parceria com a Fundação Brava, o Instituto Unibanco e o Insper, também aplica cálculos utilizados em estudos norte-americanos para exemplificar a perda que a evasão causa à sociedade. São jovens que podem se perder para a violência, por exemplo – observa Paes de Barros. Os déficits não se resumem apenas à questão econômica, mas também envolvem investimentos em outras áreas. Segundo a pesquisa, pessoas que não completaram o ensino médio enfrentam mais problemas de saúde e apresentam maiores dificuldades em planejamento familiar e ingresso no mercado do trabalho.

AS CAUSAS DA EVASÃO

Os dados mostram que a porcentagem de jovens de 17 anos fora da escola passou de 34% para 39,8% nos últimos quinze anos. O estudo tentou identificar os fatores que desencorajam os jovens a continuarem na escola até o fim do Ensino Médio e chegou a 14 motivos mais comuns, divididos em três grupos. O primeiro conjunto leva em consideração as dificuldades de acesso aos colégios, tanto pela distância quanto pela impossibilidade física, pois muitas escolas não têm estrutura para lidar com estudantes portadores de necessidades especiais. Outro ponto foi a falta de interesse do aluno pela baixa qualidade do ensino nas escolas. O último grupo, por sua vez, mantém o foco em estudantes que abandonam os estudos sem terem informações adequadas sobre a importância do ensino. Paes de Barros dedicou algumas observações aos casos de repetência que seguram alunos da dita faixa etária no Ensino Fundamental por mais alguns anos. Defensor de medidas corretoras ao longo do ano, ele afirmou que a repetição do ano letivo sucessivamente pode desmotivar os alunos e aumentar a evasão das escolas. A repetência é uma sentença de morte. O aluno se afasta do conteúdo, dos amigos, fica frustrado – disse. Segundo o relatório, se o Brasil não modificar o quadro atual de evasão das escolas, o país pode levar até 200 anos para atingir a meta do Plano Nacional de Educação, que prevê a universalização do atendimento escolar a jovens nesta faixa etária.

 


Entenda como funcionam as cotas no vestibular (Universia – Notícias – 16/10/2017)

Grande parte das instituições já adota o sistema de cotas em seus processos seletivos. Conheça as particularidades e as características da opção

Assunto frequente tanto no meio estudantil quanto no noticiário geral brasileiro, a reserva de matrículas baseadas na Lei de Cotas foi sancionada em agosto de 2012. Delimitada por meio da Lei nº 12.711/2012, ela prevê que vagas em universidades sejam destinadas a estudantes que tenham cursado escola pública. No entanto, dentro dessa reserva há as modalidades das cotas Socias e, também, das Raciais. Selecionamos aqui, algumas informações importantes para você saber como funcionam as cotas no vestibular.

Como funciona a Lei de Cotas

No texto da lei consta que 50% das matrículas nas universidades e institutos federais devem ser reservadas a alunos que tenham cursado, integralmente, o ensino médio na rede pública – tanto em cursos regulares ou na educação de jovens e adultos. Desse total, metade deve atender exclusivamente aos estudantes com renda familiar inferior a 1,5 salário mínimo per capita. Além disso, a legislação ainda versa que os cursos precisam ter um percentual mínimo de suas vagas preenchido por estudantes autodeclarados pretos, pardos, indígenas ou portadores de deficiência.

O percentual é calculado com base na proporção de cada um dos grupos na população da unidade federativa onde está a instituição (tomando como base o último censo do IBGE). As vagas reservadas para indígenas em uma universidade em Minas Gerais, por exemplo, terão o mínimo baseado na proporção de indígenas na população do Estado. Desde a sanção da Lei de Cotas em 2012, as instituições foram se adaptando gradualmente. Hoje, a totalidade de universidades federais emprega o sistema, utilizando, em sua grande maioria, o Sisu – Sistema de Seleção Unificada – como método de ingresso (partindo da nota do Enem para uma seleção abrangente).

Cotas nas universidades estaduais

A Lei de Cotas tem âmbito federal e não regulamenta o processo nas universidades estaduais brasileiras. Nestas, as ações são independentes e variam de instituição para instituição. A Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) já reserva vagas para estudantes oriundos do ensino público desde 2000. A UnB (Universidade de Brasília) foi pioneira ao apresentar ações afirmativas e cotas raciais em sua seleção em 2004. Na Unesp, por exemplo, o sistema adotado é o de reserva de vagas para estudantes formados no ensino médio público (e uma parte dessa reserva se destina exclusivamente aos autodeclarados pretos, pardos e indígenas) e atinge 50% das vagas no vestibular para ingresso 2018. Outras instituições como a USP empregavam um sistema de bonificação, no qual o aluno que veio das escolas públicas tinha sua pontuação aumentada. No entanto, a reserva de vagas foi aprovada pelo Conselho Universitário em meados de 2017 e passa a valer a partir do próximo ano – com aumento gradual dos percentuais.

Inclusão

O sistema de cotas age dentro de uma política de inclusão social nas universidades. A intenção é tornar o acesso mais amplo nas mais diversas camadas da sociedade.

 


USP é a melhor universidade pública de 2017, segundo Guia do Estudante (Jornal da USP – Institucional – 16/10/2017)

A Unesp foi considerada a segunda melhor universidade pública brasileira e a Unicamp, a terceira.

A USP foi uma das vencedoras do “Prêmio Melhores Universidades 2017″, concedido anualmente pelo Guia do Estudante. A USP venceu na categoria “Universidade do Ano – Escolas Públicas”. O segundo lugar ficou com a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) e o terceiro, com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na categoria “Universidade do Ano – Escolas Privadas”, a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) foi considerada a melhor instituição privada do país. Com o objetivo de apontar as Instituições de Ensino Superior que mais se destacaram no cenário acadêmico brasileiro, o “Prêmio Melhores Universidades” é conferido desde 2006, com base na avaliação dos cursos superiores do Guia do Estudante, publicado pela Editora Abril. Participam da premiação as instituições que tiveram pelo menos cinco cursos avaliados. Em 2017, foram 693 instituições. Em sua 27ª edição, o Guia do Estudante Profissões Vestibular 2018 mediu a qualidade de 16,7 mil graduações. A avaliação é uma pesquisa de opinião feita, basicamente, com professores e coordenadores de curso. Eles emitem conceitos que permitem classificar os cursos em bons (três estrelas), muito bons (quatro estrelas) e excelentes (cinco estrelas). Neste ano, a avaliação concedeu a avaliação máxima de cinco estrelas, a 121 dos 141 cursos da USP. Os outros 20 cursos da Universidade receberam quatro estrelas. Na edição passada, 102 dos 123 cursos da USP avaliados pela publicação receberam cinco estrelas, e 21 receberam quatro estrelas.

 


Redação no Enem: cartilha do participante é divulgada pelo Inep (G1 – Educação – 16/10/2017)

Órgão diz que não houve mudanças nos critérios de correção. Cartilha mostra oito redações com textos nota mil.

O documento “Redação no Enem 2017 – Cartilha do participante”, conhecida como o ‘manual da redação’ do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), foi divulgada na tarde desta segunda-feira (16) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). “Não haverá novidades na forma de correção da redação no Enem 2017. A única mudança é a aplicação no primeiro dia de provas, 5 de novembro”, afirma o Inep. O instituto diz que, neste ano, o documento foi reelaborado para “tornar a metodologia de avaliação da redação mais transparente. Também está mais evidente o que se espera do participante em cada uma das competências avaliadas.”

Exemplos de redações nota mil

O Inep diz que, além de deixar mais claro como é a correção e explicar o que se espera do candidato, a cartilha traz oito redações que obtiveram pontuação máxima no Enem 2016, com comentários. “A ideia é apresentar exemplos positivos que contemplaram todos os critérios máximos de correção pelos diferentes corretores”, diz o Inep.

Competências exigidas

A prova de redação exige a produção de um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política. Os aspectos a serem avaliados relacionam-se às competências que devem ter sido desenvolvidas durante os anos de escolaridade.

Nessa redação, o participante deverá defender uma tese – uma opinião a respeito do tema proposto –, apoiada em argumentos consistentes, estruturados com coerência e coesão, formando uma unidade textual. O texto deve ser redigido de acordo com a modalidade escrita formal da língua portuguesa. Também é preciso elaborar uma proposta de intervenção social para o problema apresentado no desenvolvimento do texto que respeite os direitos humanos. O texto produzido é avaliado por, pelo menos, dois avaliadores, de forma independente, sem que um conheça a nota atribuída pelo outro. Esses dois professores avaliam o desempenho do participante de acordo com as cinco competências. Cada avaliador atribuirá uma nota entre 0 e 200 pontos para cada uma das cinco competências, e a soma desses pontos comporá a nota total de cada avaliador, que pode chegar a 1.000 pontos. A nota final do participante será a média aritmética das notas totais atribuídas pelos dois avaliadores.

Competência 1 – Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa.

Competência 2 – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

Competência 3 – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

Competência 4 – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

Competência 5 – Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

Oito textos nota mil

Veja abaixo exemplos de textos nota mil que constam na cartilha. Além deles, nesta reportagem o G1 compilou outros 13 textos que também tiveram nota máxima.

Redação de Vinícius Oliveira de Lima

Tolerância na prática

“A Constituição Federal de 1988 – norma de maior hierarquia no sistema jurídico brasileiro – assegura a todos a liberdade de crença. Entretanto, os frequentes casos de intolerância religiosa mostram que os indivíduos ainda não experimentam esse direito na prática. Com efeito, um diálogo entre sociedade e Estado sobre os caminhos para combater a intolerância religiosa é medida que se impõe. Em primeiro plano, é necessário que a sociedade não seja uma reprodução da casa colonial, como disserta Gilberto Freyre em “Casa-grande e Senzala”. O autor ensina que a realidade do Brasil até o século XIX estava compactada no interior da casa-grande, cuja religião oficial era católica, e as demais crenças – sobretudo africanas – eram marginalizadas e se mantiveram vivas porque os negros lhes deram aparência cristã, conhecida hoje por sincretismo religioso. No entanto, não é razoável que ainda haja uma religião que subjugue as outras, o que deve, pois, ser repudiado em um Estado laico, a fim de que se combata a intolerância de crença. De outra parte, o sociólogo Zygmunt Bauman defende, na obra “Modernidade Líquida”, que o individualismo é uma das principais características – e o maior conflito – da pós-modernidade, e, consequentemente, parcela da população tende a ser incapaz de tolerar diferenças. Esse problema assume contornos específicos no Brasil, onde, apesar do multiculturalismo, há quem exija do outro a mesma postura religiosa e seja intolerante àqueles que dela divergem. Nesse sentido, um caminho possível para combater a rejeição à diversidade de crença é desconstruir o principal problema da pós-modernidade, segundo Zygmunt Bauman: o individualismo. Urge, portanto, que indivíduos e instituições públicas cooperem para mitigar a intolerância religiosa. Cabe aos cidadãos repudiar a inferiorização das crenças e dos costumes presentes no território brasileiro, por meio de debates nas mídias sociais capazes de desconstruir a prevalência de uma religião sobre as demais. Ao Ministério Público, por sua vez, compete promover as ações judiciais pertinentes contra atitudes individualistas ofensivas à diversidade de crença. Assim, observada a ação conjunta entre população e poder público, alçará o país a verdadeira posição de Estado Democrático de Direito.”

Redação de Jordana Bottin Ecco

“Prática religiosa um direito de todos

A curiosidade humana acerca do desconhecido e a sua incapacidade de explicá-lo através da razão fez com que, desde os primórdios, o homem atribuísse acontecimentos do seu cotidiano à vontade de seres sobrenaturais. Apesar dos avanços científicos e de suas respostas lógicas para fatos da realidade, as crenças em divindades perpassaram a história e continuam muito presentes nas sociedades, talvez por suprirem a necessidade humana de reconforto, talvez por levarem à transcendência espiritual. Atualmente, a grande diversidade religiosa existente traz a possibilidade de escolha a cada cidadão e essa liberdade é, ou deveria ser, garantida a todos os membros de uma população. Contudo, práticas de intolerância religiosa vêm impedindo um número cada vez maior de pessoas de exercitarem tal direito, ferindo sua dignidade e devendo, portanto, serem combatidas veementemente. O contexto histórico brasileiro indubitavelmente influencia essa questão. A colonização portuguesa buscou catequizar os nativos de acordo com a religião europeia da época: a católica. Com a chegada dos negros africanos, décadas depois, houve repressão cultural e, consequentemente, religiosa que, infelizmente, perpetua até os dias de hoje. Prova disso é o caso de uma menina carioca praticante do candomblé que, em junho de 2015, foi ferida com pedradas, e seus acompanhantes, alvos de provocações e xingamentos. Ainda que a violência verbal, assim como a física, vá contra a Constituição Federal, os agressores fugiram e, como em outras ocorrências, não foram punidos. Além disso, é importante destacar que intolerância religiosa é crime de ódio: não é sobre ter a liberdade de expressar um descontentamento ou criticar certa crença, mas sim sobre a tentativa de imposição, a partir da agressão, de entendimentos pessoais acerca do assunto em detrimento dos julgamentos individuais do outro sobre o que ele acredita ser certo ou errado para sua própria vida. Tal visão etnocêntrica tem por consequência a falta de respeito para com o próximo, acarretando em episódios imprescritíveis e humilhantes para aqueles que os vivenciam. Conclui-se, então, que o combate à discriminação religiosa é de suma importância para que se assegure um dos direitos mais antigos a todas as pessoas e, por conseguinte, seu bem-estar. Para isso, é preciso que os órgãos especializados, em parceria às delegacias de denúncia, ajam de acordo com a lei, investigando e punindo os agressores de forma adequada. Ademais, o governo deve promover campanhas contra condutas de intolerância e as escolas devem gerar debates, informando seus alunos sobre o tema e desconstruindo preconceitos desde cedo. Por fim, a mídia pode abordar a intolerância religiosa como assunto de suas novelas, visto que causa forte impacto na vida social. Assim, o respeito será base para a construção de um Brasil mais tolerante e preocupado com a garantia dos direitos humanos de sua população.”

Redação de Giovanna Tami Soares Takahashi

“Segundo a atual Constituição Federal, o Brasil é um país de Estado laico, ou seja, a sociedade possui o direito de exercer qualquer religião, crença ou culto. Entretanto, essa liberdade religiosa encontra-se afetada, uma vez que é notório o crescimento da taxa de violência com relação à falta de tolerância às diferentes crenças. Assim, diversas medidas precisam ser tomadas para tentar combater esse problema, incitando uma maior atenção do Poder Público, juntamente com os setores socialmente engajados, e das instituições formadoras de opinião. Nesse contexto, vale ressaltar que a intolerância religiosa é um problema existente no Brasil desde séculos passados. Com a chegada das caravelas portuguesas, as quais trouxeram os padres jesuítas, os índios perderam a sua liberdade de crença e foram obrigados, de maneira violenta, a se converter ao catolicismo, religião a qual era predominante na Europa. Além disso, os africanos escravizados que aqui se encontravam também foram impedidos de praticar seus cultos religiosos, sendo punidos de forma desumana caso desrespeitassem essa imposição. Atualmente, constata-se que grande parcela da população brasileira herdou essa forma de pensar e de agir, tratando pessoas que acreditam em outras religiões de maneira desrespeitosa e, muitas vezes, violenta, levando instituições públicas e privadas à busca de soluções para reverter isso. Sob esse viés, ressalta-se que algumas ações já foram realizadas, como a criação da lei de proteção ao sentimento religioso e à prática de diferentes cultos. Entretanto, as medidas tomadas até então não são suficientes para inibir essa problemática, uma vez que a fraca punição aos criminosos e a falta de conscientização da sociedade são alguns dos principais motivos que ocasionam a persistência de atos violentos em decorrência da intolerância religiosa. Outrossim, a falta de comunicação dos pais e das escolas com os jovens sobre esse assunto é um agravante do problema, aumentando as possibilidades destes agirem de maneira desrespeitosa. Diante disso, para combater a intolerância religiosa, cabe ao Governo intensificar esforços, criando leis específicas e aumentando o tempo de punição para quem comete qualquer tipo de violência devido à religião. Ademais, é necessária a criação de campanhas midiáticas governamentais de conscientização, com o apoio da imprensa socialmente engajada, e a divulgação destas através dos diversos meios de comunicação e das redes sociais, que mostrem a importância do respeito à liberdade de escolha e às diferentes crenças, uma vez que o Brasil é um país com inúmeros grupos e povos, cada um com seus costumes. Além disso, a participação das instituições formadoras de opinião é de grande importância para a educação dos jovens com relação ao respeito às diferentes religiões, com as escolas realizando palestras e seminários sobre o assunto e as famílias intensificando os diálogos em casa.”

Redação de Tamyres dos Santos Vieira

“É mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito”.

Com essa frase, Albert Einstein desvelou os entraves que envolvem o combate às diversas formas de discriminação existentes na sociedade. Isso inclui a intolerância religiosa, comportamento frequente que deve ser erradicado do Brasil. Desde a colonização, o país sofre com imposições religiosas. Os padres jesuítas eram trazidos pelos portugueses para catequizar os índios, e a religião que os nativos seguiam – a exaltação da natureza – era suprimida. Além disso, a população africana que foi trazida como escrava também enfrentou fortes repressões ao tentar utilizar sua religião como forma de manutenção cultural. É relevante notar que, ainda hoje, as religiões afro-brasileiras são os maiores alvos de discriminação, com episódios de violência física e moral veiculados pelas mídias com grande frequência. Concomitantemente, ainda que o Brasil tenha se tornado um Estado laico, com uma enorme diversidade religiosa devido à grande miscigenação que o constituiu, o respeito pleno às diferentes escolhas de crença não é realidade. A palavra religião tem sua origem em “religare”, que significa ligação, união em torno de um propósito; entretanto, ela tem sido causa de separação, desunião. Mesmo que legislações, como a Constituição Federal e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, já prevejam o direito à liberdade de expressão religiosa, enquanto não houver amadurecimento social não haverá mudança. Por tudo isso, é imprescindível que todos os segmentos sociais unam-se em prol do combate à intolerância religiosa no Brasil. Assim, cumpre ao governo efetivar de maneira mais plena as leis existentes. Ademais, cabe às escolas e às famílias educarem as crianças para que, desde cedo, aprendam que têm o direito de seguir suas escolhas, mas que devem ser tolerantes e respeitar as crenças do outro, afinal, como disse Nelson Mandela, “a educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo”. Dessa forma, assim com a desintegração de um átomo tornou-se simples na atualidade, preconceitos poderão ser quebrados.”

Redação de João Vitor Vasconcelos Ponte

“O Brasil foi formado pela união de diversas bases étnicas e culturais e, consequentemente, estão presentes em seu território várias religiões. Entretanto, nem essa diversidade nem a liberdade religiosa garantida pela Constituição Cidadã faz com que o país seja respeitoso com as diferentes crenças. Fazendo uma analogia com a filosofia kantiana, a intolerância existente pode ser vista como o resultado de fatores inatos ao indivíduo com o que foi incorporado a partir das experiências vividas. Em primeiro lugar, é notória a dificuldade que há no homem em aceitar o diferente, principalmente ao se tratar de algo tão pessoal como a religião. Prova disso é a presença da não aceitação das crenças alheias em diferentes regiões e momentos históricos, como no Império Romano antigo, com as persiguições aos cristãos, na Europa Medieval, com as Cruzadas e no atual Oriente Médio, com os conflitos envolvendo o Estado Islâmico. Também pode-se comprovar a existência da intolerância religiosa pela frase popular “religião não se discute”, que propõe ignorar a temática para evitar os conflitos evidentes ao se tratar do assunto. Desse modo, nota-se que a intolerância não se restringe a um grupo específico e é, de certa forma, natural ao ser humano, o que, porém, não significa que não pode o deve ser combatida. Além da intolerância inata ao homem, há fatores externos que intensificam o problema. No cenário brasileiro, o processo colonizador e seus legados, que perduram até hoje, são os principais agravantes desse preconceito. Desde a chegada dos europeus no país, as religiões diferentes da oficial são discriminadas. Logo no início da colonização, o processo de catequização dos nativos foi incentivado, o que demonstra o desrespeito com as religiões indígenas, e, décadas depois, com o início do tráfico negreiro, houve também perseguição às religiões afrobrasileiras e a construção de uma imagem negativa acerca delas. Toda essa mentalidade perpetuou-se no ideário coletivo brasileiro e, apesar dos avanços legais, faz com que essas religiões sejam as mais afetadas pela intolerância atualmente. É necessário, pois, que se reverta a mentalidade retrógrada e preconceituosa predominante no Brasil. Para tal, o Estado deve veicular campanhas de conscientização, na TV e na internet, que informem a população sobre a diversidade religiosa do país e a necessidade de respeitá-las. Essas campanhas também podem, para facilitar a detecção e o combate ao problema, divulgar contatos para denúncia de casos de intolerância religiosa. Concomitantemente, é fundamental o papel da escola de pregar a tolerância já que, segundo Immanuel Kant, “o homem é aquilo que a educação faz dele”. Portanto, a escola deve promover palestras sobre as diferenças crenças do país, ministradas por especialistas na área ou por membros dessas religiões, a fim de quebrar estereótipos preconceituosos e tornar os jovens mais tolerantes.”

Redação de Desirée Macarroni Abbade

“Profecia futurística

Em meados do século passado, o escritor austríaco Stefan Zweig mudou-se para o Brasil devido à perseguição nazista na Europa. Bem recebido e impressionado com o potencial da nova casa, Zweig escreveu um livro cujo título é até hoje repetido: “Brasil, país do futuro”. Entretanto, quando se observa a deficiência das medidas na luta contra a intolerância religiosa no Brasil, percebe-se que a profecia não saiu do papel. Nesse sentido, é preciso entender suas verdadeiras causas para solucionar esse problema. A princípio, é possível perceber que essa circunstância deve-se a questões políticas-estruturais. Isso se deve ao fato de que, a partir da impunidade em relação a atos que manifestem discriminação religiosa, o seu combate é minimizado e subaproveitado, já que não há interferência para mudar tal situação. Tal conjuntura é ainda intensificada pela insuficiente laicidade do Estado, uma vez que interfere em decisões políticas e sociais, como aprovação de leis e exclusão social. Prova disso, é, infelizmente, a existência de uma “bancada evangélica” no poder público brasileiro. Dessa forma, atitudes agressivas e segregacionistas devido ao preconceito religioso continuam a acontecer, pondo em xeque o direito de liberdade religiosa, o que evidencia falhas nos elementos contra a intolerância religiosa brasileira. Outrossim, vale ressaltar que essa situação é corroborada por fatores socioculturais. Durante a formação do Estado brasileiro, a escravidão se fez presente em parte significativa do processo, e com ela vieram as discriminações e intolerâncias culturais, derivados de ideologias como superioridade do Homem Branco e Darwinismo Social. Lamentavelmente, tal perspectiva é vista até hoje no território brasileiro. Bom exemplo disso são os índices que indicam que os indivíduos seguidores e pertencentes das religiões afro-brasileiras são os mais afetados. Dentro dessa lógica, nota-se que a dificuldade de prevenção e combate ao desprezo e preconceito religioso mostra-se fruto de heranças coloniais discriminatórias, as quais negligenciam tanto o direito à vida quanto o direito de liberdade de expressão e religião. Torna-se evidente, portanto, que os caminhos para a luta contra a intolerância religiosa no Brasil apresentam entraves que necessitam ser revertidos. Logo, é necessário que o Governo investigue casos de impunidade por meio de fiscalizações no cumprimento de leis, abertura de mais canais de denúncia e postos policiais. Além disso, é preciso que o poder público busque ser o mais imparcial (religiosamente) possível, a partir de acordos pré-definidos sobre o que deve, ou não, ser debatido na esfera política e disseminado para a população. Ademais, as instituições de ensino, em parceria com a mídia e ONGs, podem fomentar o pensamento crítico por intermédio de pesquisas, projetos, trabalhos, debates e campanhas publicitárias esclarecedoras. Com essas medidas, talvez, a profecia de Zweig torne-se realidade no presente.”

Redação de Isabella Ribeiro de Sena Carvalho

“Embora seja direito assegurado a todos os cidadãos pela Constituição Federal, a liberdade religiosa não é garantida de modo isonômico aos brasileiros. Ora velada, ora implícita, a intolerância quanto ao diferente faz parte da realidade do país. Infelizmente, o desconhecimento da população em relação ao processo de formação da nação e a falta de punição sob os que atentam contra a religião do próximo impedem que o respeito à diversidade cultural brasileira seja consolidado. Segundo os sociólogos da chamada “Geração de 30”, muito importantes para o desenvolvimento da antropologia no país, o Brasil é formado por uma fricção interétnica. Isto é, desde os tempos da colonização, diferentes culturas compartilham o mesmo território. Contudo, tal interação não ocorre de forma harmônica, uma vez que a persistência do pensamento eurocêntrico do século XVI, que considera os costumes de outros povos como inferiores, gera a intolerância religiosa dos dias atuais. Inquestionavelmente, o preconceito quanto às culturas minoritárias ainda é muito marcante no país, o que é responsável por quadros de violência e por conflitos sociais. O caso de apedrejamento de uma menina de onze anos vestida com trajes típicos do candomblé, ocorrido no Rio de Janeiro, é prova da falta de respeito de parte dos brasileiros às diferentes culturas que formam o país. De modo análogo, a certeza da impunidade faz com que crimes de ódio continuem acontecendo. Consoante aos ideais liberais de John Locke, as leis brasileiras caracterizam-se pelo respeito às liberdades individuais, o que é, sem dúvidas, uma grande conquista dos brasileiros. Todavia, o que é proposto pela legislação não é colocado em prática integralmente, contribuindo, assim, para o crescimento do preconceito no país. O crescente número de denúncias relacionadas à intolerância religiosa, constatadas pela Secretaria dos Direitos Humanos, comprova que uma parcela da população brasileira ainda não tem acesso à plena liberdade de culto e religião. A fim de garantir, portanto, a equidade na garantia de direitos à população, são necessárias transformações na sociedade brasileira. O Ministério da Educação, primeiramente, deve inserir à matriz curricular estudantil debates e estudos antropológicos acerca do processo de formação do país, de modo a valorizar a participação das mais variadas culturas na composição da identidade brasileira. Ademais, cabe ao Ministério do Desenvolvimento Social a realização de palestras, sarais e exposições que exaltem a importância do respeito à diversidade religiosa do Brasil. Por fim, cabe às Secretarias de Segurança Pública a criação de delegacias especializadas na investigação de crimes que envolvam a intolerância religiosa, de modo a intensificar o combate a tal preconceito. Afinal, somente com a cooperação entre Estado e sociedade será possível lutar contra a intolerância, um mal que ameaça o Brasil.”

Redação de Nathalia Couri Vieira Marques

“Existem, atualmente, diversos conflitos religiosos no mundo, fato que pode ser exemplificado pelas ações do Estado Islâmico, que utiliza uma visão radical do islamismo sunita. Nesse contexto, percebe-se que tal realidade de intolerância também ocorre no Brasil, um país com dimensões continentais e grande diversidade religiosa. Assim, tornam-se progressivamente mais comuns episódios de violência motivados pela religião, o que é contraditório, visto que o Brasil é laico e a Constituição de 1988 garante a liberdade de crença das diferentes manifestações culturais. Portanto, medidas que alterem essa situação devem ser adotadas. A globalização é um processo que tende à homogeneização, à cultura de massa. No entanto, ainda existem diversas formas de expressão cultural e artística, assim como de manifestações religiosas. Dessa maneira, surge na população um preconceito latente, que pode evoluir e motivar a prática de atos violentos pelo indivíduo. Essa situação pode ser considerada reflexo da visão etnocêntrica de parte da sociedade, que considera seus costumes e crenças superiores aos hábitos dos demais. A educação brasileira, que, na maioria das vezes, é altamente conservadora, agrava a questão. Também é válido ressaltar que o aumento na eleição de políticos conservadores e que assumem uma postura radical na defesa de suas ideologias dificulta a diminuição da intolerância religiosa no Brasil. A ausência de representantes das minorias religiosas impede a implantação de políticas afirmativas e que garantam, de fato, a potencialização da tolerância e da igualdade na manifestação das diversas crenças. Como, segundo Marilena Chauí, a democracia é baseada na igualdade, liberdade e participação, percebe-se que a não participação de toda a sociedade na política, aliada à frágil liberdade religiosa, dificultam a existência de um regime democrático pleno no Brasil. Portanto, é necessária a criação de cotas, ação que deve ser feita pelo poder público, que garantam a presença de representantes das diversas expressões religiosas na política, o que permitiria a aprovação de medidas afirmativas que reduziriam a intolerância no Brasil. Além disso, é válida a implantação de espaços de discussão nas escolas, direcionadas aos pais e alunos, sobre a diversidade de expressões culturais, o que conscientizaria os futuros cidadãos sobre a legitimidade de cada manifestação religiosa e diminuiria a visão etnocêntrica presente nos indivíduos. Por fim, deve haver a criação de campanhas nas redes sociais, realizadas pela sociedade civil, que amenizem o preconceito presente na população, o que conduziria a uma sociedade progressivamente mais justa, igualitária e democrática.”