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18/07/2017 / Em: Clipping

 

Após cinco anos de tentativas, caloura de medicina aconselha vestibulandos a controlarem o lado emocional (G1 – Educação – 18/07/2017)

Teresa Leite, de 20 anos, fez o vestibular cinco anos consecutivos, sendo três deles se dedicando apenas ao cursinho. Segundo ela, o amadurecimento emocional a ajudou a controlar os nervos e aumentar a autoconfiança.

A estudante Teresa Leite, de 20 anos, concluiu na semana passada as provas de morfologia do corpo humano, enfermagem e bioquímica, suas últimas do primeiro semestre do curso de medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, no Centro de São Paulo. Ela começou neste ano a realizar um sonho que a levou a tentar cinco vezes o vestibular para a carreira, incluindo a primeira vez, como treineira.

De quantos anos de cursinho você precisa para passar no vestibular de medicina?

Foram três anos apenas dedicados ao cursinho pré-vestibular, além das provas “valendo a vaga” no terceiro ano do ensino médio, e da prova só para praticar, no segundo ano.

Veja abaixo algumas dicas da caloura de medicina de 2017 aos estudantes que se preparam para os vestibulares de 2018:

Prepare-se para o choque de realidade

A jovem explica que precisou se adaptar à condição de “vestibulanda de medicina” depois de concluir o ensino médio e passar a se dedicar totalmente ao ingresso no ensino superior. “Quando você decide prestar medicina, todo mundo te aconselha a ser paciente porque ‘tem que estudar muito’, ‘a média de cursinho é de dois anos para mais’ etc. Então você tem noção da realidade”, afirmou ela.

“Mas você nunca acha que vai se encaixar nisso. Você estava acostumado a estar entre os melhores alunos do colégio e agora você é só mais um nesse mar de gente que está disputando as mesmas vagas. É um choque de realidade.”

Drible a insegurança

Teresa alerta, porém, que esse choque de realidade não pode deixar o vestibulando inseguro sobre suas chances, e atrapalhar sua preparação. “É bem difícil achar forças para continuar estudando depois de reprovar tantas vezes. Acho que o emocional tem que estar bem forte para lidar com toda essa pressão, porque senão você não aguenta mesmo”, explicou ela.

Uma dica que a jovem dá aos vestibulandos é manter sempre em mente o motivo pelo qual eles decidiram trilhar esse caminho. “Eu me motivava vendo a situação dos moradores de rua aqui de São Paulo, pensando que eu precisava continuar estudando para algum dia poder ajudar a saúde deles e de tantas outras pessoas.” Teresa afirma que um de seus planos de vida é possivelmente um dia trabalhar na ONG Médicos sem Fronteiras.

Priorize o cuidado com a saúde mental

Pode parecer frase de auto-ajuda, mas Teresa garante que, no ano em que finalmente conseguiu ser aprovada em medicina, ela estudou menos da metade do tempo de anos anteriores, quando viu as vagas serem preenchidas por outros candidatos. “Meu conselho para todos os que estão prestando é sempre priorizar a saúde mental, é mais importante do que fazer todas as tarefas do cursinho.”

A jovem afirma que, no ano anterior à aprovação, ela chegou bem perto de conseguir uma vaga, mas terminou o ciclo de vestibulares mais uma vez de mãos vazias. “Eu fiquei muito perto de passar no meu segundo ano de cursinho, então, quando não passei em nada, foi um choque que serviu para me alertar que o que faltava não era estudo, mas condição emocional para encarar o vestibular. Então eu cuidei do meu estado emocional.” Ela diz que, em vez de passar todo o tempo estudando, se dedicou a tarefas igualmente importantes, como driblar a “insegurança de cursinho” e a pressão (interna e externa) sofrida pelos aspirantes ao curso de medicina. “Tinha plena consciência do que eu sabia e do que eu não sabia também. Comecei a ver uma psicóloga e me estabilizei emocionalmente, e estudava para lapidar o conhecimento que eu já tinha pelos anos anteriores. Cheguei na hora da prova muito mais madura e confiante. Acho que conhecer suas limitações faz com que você não se desespere.”

Faculdade pública x privada

Filha de uma médica, Teresa afirma que só decidiu se inscrever para vestibulares de universidades particulares em 2016, na sua quarta tentativa a sério. “[A Santa Casa] não era minha primeira opção”, disse ela ao G1. “A princípio só prestava faculdades públicas. Então, no segundo ano [do ensino médio] prestei só Fuvest [que dá vaga para a Universidade de São Paulo]. No terceiro [ano do ensino médio] e nos dois primeiros anos de cursinho prestei Fuvest, Unicamp [Universidade Estadual de Campinas], Unesp [Universidade Estadual Paulista], Enem mais a prova mista da Unifesp [Universidade Federal de São Paulo], Famerp [Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto] e Famema [Faculdade de Medicina de Marília].” Já no último vestibular, ela também tentou vaga nos cursos da Pontifícia Universidade Católica (PUC), na PUC de Campinas e na Faculdade de Medicina do ABC. Mas foi na Santa Casa, sua segunda opção na Fuvest, que ela acabou conseguindo uma vaga, depois de tantas tentativas. Ela admite que cogitou seguir estudando durante mais um ano e tentar uma vaga em universidade pública, já que a mensalidade do curso na Santa Casa super os R$ 5 mil. Mas foi incentivada pela mãe a fazer a matrícula. “Ela me apoiou bastante, inclusive eu, no começo queria fazer mais um ano de cursinho por causa do custo, e ela que insistiu para que eu viesse porque ela sabia da qualidade da Santa Casa”, lembra.

Depois do primeiro semestre de aulas, a jovem afirma que o conselho de sua mãe valeu a pena. “Hoje eu só tenho a agradecer esse empurrão dela porque a Santa Casa é maravilhosa! Eu realmente me encontrei aqui dentro, e não me imagino mais fazendo faculdade em qualquer outro lugar”, diz Teresa. “Ainda mais porque, aqui na Santa Casa, a gente tem muito contato com os pacientes! Pelo menos uma vez por semana a gente está no hospital conversando com eles, ou na aula de enfermagem ou na de propedêutica (nela a gente aprende a fazer as perguntas certas para os pacientes). E é esse contato que está fazendo a diferença, a gente vê a queixa do paciente um dia, e no outro já estamos na aula teórica aprendendo sobre a doença dele.”

 


 

A boa escola e o desenvolvimento (O Globo – Brasil – 18/07/2017)

A recuperação econômica somente será alcançada com a queda da inflação, com o aumento da produção, a retomada das exportações, com a diminuição dos gastos públicos e, naturalmente, com o fim da instabilidade política. Entretanto, ela necessita ser estável, sem descontinuidades, e capaz de permitir o desenvolvimento do país. Por isso, políticas públicas que assegurem a geração de emprego e renda tornam-se determinantes para o sucesso das medidas econômicas e políticas. A indústria, em particular, pela sua capilaridade, precisa ser fortalecida. A geração de empregos depende, por sua vez, da existência de quadros profissionais adequadamente preparados, em todos os níveis de ensino e, em muitos casos, da formação profissional compatível com os postos de trabalho oferecidos. Naturalmente, a educação é uma das principais variáveis nesse processo. Escolas com a infraestrutura adequada, currículos compatíveis com as exigências da sociedade do conhecimento, professores bem formados, projetos pedagógicos que motivem os alunos a nelas permanecerem, o envolvimento das famílias no processo educativo e a transformação do aluno no principal protagonista do processo ensino-aprendizagem são prioridades para levar a bom termo as mudanças na educação brasileira. Muitos avanços podem ser constatados ao longo das últimas décadas. Entretanto, ainda estamos atrasados. Dados levantados pelo programa Todos pela Educação mostram que a percentagem de escolas com acesso à agua tratada, esgoto sanitário, energia elétrica, banda larga, biblioteca e laboratório de ciências ainda é muito baixa nas cerca de 150 mil escolas públicas do país. Na verdade, apenas 5% das escolas de educação básica atendem a todos os itens mencionados, bem longe da universalização prevista no Plano Nacional de Educação. Por outro lado, a segurança tem sido deixada de lado e avolumam-se os casos de crianças atingidas pela violência urbana. Além disso, a retenção dos alunos na escola, evitando as frequentes transferências e o abandono dos estudos, é decorrente da expansão da oferta do ensino em tempo integral o que, mesmo nos grandes centros urbanos, ainda está longe de ser uma realidade. Para dar um exemplo, na cidade do Rio de Janeiro temos hoje menos de 40% dos estudantes da educação fundamental em regime de tempo integral. O bom ensino em tempo integral compreende obrigatoriamente a prática esportiva, aulas nos laboratórios de ciências, atividades nas bibliotecas, trabalhos em grupo e o acesso às novas tecnologias de informação e comunicação. É necessário construir programas com a devida flexibilidade, com conteúdos que estimulem a aprendizagem, e capazes de atender às peculiaridades locais, o que poderá ser extremamente facilitado com a aprovação da base curricular comum, atualmente em discussão no Conselho Nacional de Educação. No ensino médio, a nova proposta de criação de caminhos formativos facilita o despertar das vocações e abre as portas para a formação técnica, resposta às necessidades e demandas do crescimento do setor produtivo. Outro aspecto importante está na preparação dos professores, na medida em que cerca de 15% ainda entram na sala de aula sem ao menos portar um diploma de nível superior. Para tanto, contribuem os elevadíssimos níveis de evasão nos cursos de licenciatura, as estruturas curriculares desatualizadas, a inexistência de planos de carreira motivadores e os baixos salários. Também não há como se descuidar da formação de gestores, agentes do processo de articulação das escolas com a sociedade e com as famílias. A escola, a boa escola, deve ser vista como o melhor instrumento para eliminação das disparidades sociais e regionais em nosso pais. Sem ela, todas as demais medidas econômicas e políticas serão meros paliativos que não darão ao país a chance de se consolidar como uma nação desenvolvida.

 

MEC pede apoio do Banco Mundial para implementar novo ensino médio (O Globo – Sociedade – 18/07/2017)

Planejamento dá sinal verde para busca de financiamento de US$ 250 milhões

O Ministério da Educação recebeu aval do Ministério do Planejamento para solicitar apoio do Banco Mundial (Bird) para a implementação do novo ensino médio nos estados. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União de segunda-feira. O valor estimado dos investimentos é de US$ 1,577 bilhão, sendo que US$ 250 milhões poderão ser financiados em cinco anos pelo Bird. — Esse empréstimo virá para apoiar a reforma do ensino médio, tendo como eixo a formação de professores das redes, a construção de currículos, além de estudos de viabilidade para o que fazer em cada uma das redes, respeitando o seu contexto local — explicou o secretário de Educação Básica do MEC, Rossieli Soares. Da verba que poderá ser emprestada pelo Bird, US$ 221 milhões será para o Programa para Resultados (PforR) e US$ 21 milhões para assistências técnicas. O PforR vincula repasses do empréstimo aos resultados, medidos por indicadores que serão acordados entre o MEC e o banco. O plano é que essa verba seja usada para a formação de técnicos educacionais para a adaptação dos currículos e elaboração dos itinerários formativos; o repasse de recursos para reprodução de materiais de apoio, e o repasse de recursos para incentivar a implementação dos novos currículos, por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola. Também está previsto o apoio às secretarias para a transferência de recurso às escolas para a implementação do tempo integral e suporte à capacitação de gestores e técnicos para o planejamento dessa mudança. Já a assistência técnica deverá oferecer serviços de consultoria, para apoiar o MEC e as secretarias estaduais e distrital. — Com todos os desafios da implementação, o MEC está procurando formas de apoiar os estados, os conselhos estaduais, as redes e as escolas — afirmou o secretário Rossieli Soares.

 


“Temos duas educações: uma para a elite e outra para o povo” (Carta Capital – Educação – 18/07/2017)

Para especialista, escolas brasileiras são de má qualidade ou falham em educar integralmente, ensinando o pensamento crítico

Dora Incontri é jornalista pela Cásper Líbero, mestre, doutora e pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP, sendo hoje uma das maiores autoridades do País na defesa de uma grande reforma da educação que considere o ser humano em sua integralidade, proposta baseada em autores como Comenius, Jean-Jacques Rousseau e Johann Heinrich Pestalozzi, objeto de suas pesquisas acadêmicas. A sua proposta educacional, que vem procurando aplicar na Universidade Livre Pampédia, da qual é coordenadora geral, envolve, por exemplo, uma perspectiva interdisciplinar, o desenvolvimento da espiritualidade e a autonomia do ser.

CartaCapital: Você poderia falar um pouco sobre a Universidade Livre Pampédia e a influência de Comenius?

Dora Incontri: Comenius foi um educador e pensador visionário do século XVII, que pretendia uma educação universal, integral e plural. Tinha um projeto de paz mundial, foi o idealizador de um órgão internacional pela paz, portanto, um precursor da ONU, e queria também uma língua internacional. Zammenhof se inspirou nele para criar o Esperanto. A Universidade Livre Pampédia se pretende um espaço alternativo de educação, em nível superior, cujo objetivo é favorecer vivências pedagógicas diferentes para adultos e ao mesmo tempo divulgar ideias de transformação pedagógica e social. A integralidade e a interdisciplinaridade propostas por esse projeto de Universidade Livre é inspirada em Comenius; assim, também inclui a dimensão espiritual do ser humano. Ou ainda, inclui dar voz às diferentes correntes de pensamento – tradições espirituais diversas, vertentes filosóficas espiritualistas ou materialistas – num diálogo aberto e aprofundado. As Universidades convencionais têm guetos ideológicos onde não se pode penetrar com ideias diferentes – o pesquisador é obrigado a direcionar suas produções dentro da camisa de força imposta pelo orientador, pelo departamento, pelo grupo a que o pesquisador pertence. Não há liberdade de pensamento e de produção. É tudo muito engessado e fechado. Por isso, a ideia de uma Universidade Livre. Além disso, eu trabalho com formação de educadores há muitos anos e percebi que só a aprendizagem de teorias de uma educação diferente da tradicional não adianta. É preciso que as pessoas experimentem por si mesmas, como alunos-sujeitos, uma educação alternativa, para poderem praticar ideias novas.

CC: Como descobriu Comenius, quem dá, inclusive, nome à sua editora?

DI: Quando estava fazendo minha dissertação de mestrado na USP, sobre o educador suíço Pestalozzi, pesquisei na Alemanha e na Suíça e me lembro que um professor da Universidade de Nurembergue me disse: “se você quiser entender Pestalozzi, leia Comenius.” Eu nunca tinha ouvido falar de Comenius. E conforme fui lendo suas obras, fui ficando encantada com sua atualidade, com sua profundidade. Hoje, quando se fala brevemente em Comenius nas faculdades de Pedagogia no Brasil, costuma-se apresentá-lo, de modo superficial, como pai da didática. No entanto, suas ideias são muito mais amplas e não se trata de um conceito reducionista de didática; envolvem um conceito de ser humano integral e integrado, uma concepção de educação universal e permanente, que deve realizar o ser humano em suas dimensões cognitivas, morais, políticas, afetivas, sociais e espirituais. Ele apresenta também uma ideia de pansofia – que poderíamos traduzir como sabedoria de tudo, entendendo que tudo está conectado no universo e, portanto, temos que procurar desvendá-lo, interligando nossos instrumentos de interpretação do mundo: a razão, a observação, a revelação… portanto, a filosofia, a ciência, a espiritualidade.

CC: Diante da quantidade de informações existente hoje, seria realmente possível ensinar tudo a todos? Essa não seria uma bandeira mais bem aplicada quando Comenius viveu, período no qual a maior parte da população sequer era alfabetizada?

DI: Ao contrário. Somente hoje, com a internet e a disponibilização aberta do conhecimento, é que se pode oferecer o acesso a esse “tudo” a que se referia Comenius. Quando ele propunha essa espécie de slogan, pensava na democratização do conhecimento e não que todos tivessem que saber tudo. Tinha muitas ideias interessantes a respeito, algumas das quais só são possíveis de realizar num mundo global, interconectado e virtual, como este em que vivemos. Essas ideias estão no livro de sua autoria que, pela primeira vez publicamos no Brasil, em 2014, Pampédia. Uma obra-prima que, claro, têm seus contextos históricos, mas que também traz muitas propostas ainda atuais e necessárias. Temos um outro livro publicado pela Editora Comenius, de Luis Colombo, que trata dessa questão de como só o mundo virtual pode traduzir plenamente a ideia comeniana: Comenius, a Educação e o Ciberespaço.

CC: Você entende que há uma linha de continuação em Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Rivail? O que os une?

DI: Eu defendi essa linha de descendência intelectual em minha tese de doutorado na USP – sobre Pedagogia Espírita – e ela não é de jeito nenhum arbitrária. É histórica, em primeiro lugar, porque Hippolyte Léon Denizard Rivail (depois Allan Kardec) estudou com Pestalozzi no castelo de Yverdon e foi mais tarde divulgador de sua pedagogia na França. Pestalozzi, por sua vez, cita textualmente em suas obras sua dívida para com Comenius e Rousseau. Há várias ideias comuns que perpassam esses autores. Vou citar algumas: foram eles que firmaram, muito antes de Piaget, a concepção de que a criança é um ser em desenvolvimento e precisa ser observada e tratada como tal. Antes desses grandes educadores, as crianças eram consideradas adultos em miniatura.

Todos eles também encaravam a educação como instrumento de transformação social. Estavam preocupados com as injustiças sociais de suas respectivas épocas – como devemos estar também ainda hoje, porque, infelizmente, as injustiças continuam – e desejavam uma sociedade melhor. Eles também enxergavam na educação um meio de viabilizar o projeto de um mundo mais igualitário e fraterno. Todos também propunham para isso uma educação diversa da tradicional, que vem sendo praticada até hoje, uma espécie de formatação do ser humano para a submissão e o trabalho no mercado. Eles queriam uma educação em que a criança pudesse desenvolver suas potencialidades de maneira autônoma, integral, com liberdade e afeto. Comenius trata mais da integralidade. Pestalozzi e Rivail o seguem. Rousseau trabalha muito a ideia de liberdade e Pestalozzi foi o grande introdutor do afeto na educação. Ele próprio, amorosíssimo, fez do amor pedagógico um dos pilares de suas práticas.

CC: Considerando que o foco na experiência, e no desenvolvimento das faculdades naturais por meio dela, era um dos pilares da educação daqueles autores; a educação dogmática, teórica e abstrata do Brasil seria bastante contrária à proposta deles e um dos seus principais problemas?

DI: Difícil dizer quais os principais problemas da educação no Brasil. Mas, pincemos alguns, que saltam à vista. Primeiro, desde a chegada dos portugueses aqui, sofremos de duas doenças crônicas: 1) não somos uma sociedade que valoriza a educação, por isso, não há investimentos, vontade, muita gente engajada em trabalhar por uma educação melhor… 2) temos duas educações: uma para a elite e outra para o povo, que permanece sem acesso a uma escola minimamente de qualidade. Esforços aqui e acolá, idealistas e militantes aqui e ali, mas, no grosso, temos uma elite educada em escolas razoáveis – apesar de que não formam integralmente, nem eticamente, nem com autonomia e pensamento crítico – e temos uma escola pública de má qualidade, porque não interessa aos poderes instituídos que a população aprenda a pensar. Durante alguns períodos da história, houve uma escola pública melhor, quando a classe média a frequentava, mas estamos vivendo um momento sombrio em que o que restava de uma proposta de escola pública um pouco razoável está sendo desmontado por esse (des)governo, que chegou para deixar um marco escuro na história do Brasil. Isso, quanto aos aspectos políticos e sociais da educação brasileira, quanto aos métodos de ensino, quanto à maneira como é feita a escola, sejam as públicas, sejam as particulares, a quase totalidade delas está dentro do modelo tradicional, com lousas, carteiras enfileiradas, provas, notas, aulas desinteressantes e descontextualizadas de 50 minutos – escolas em geral feias, sem verde, sem liberdade de escolha, chatas e completamente fora do século XXI. Para, de fato, mudar o Brasil pela educação, temos que torná-la nossa prioridade, familiar, pessoal, coletiva, social, política e temos que reinventar a escola. E a escola tem que ser centrada no ser humano, no seu desenvolvimento, e não no conteúdo, no vestibular, no mercado…