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23/12/2010 / Em: Clipping

 


Resolver provas de anos anteriores é dica para segunda fase do vestibular  (Globo.Com – G1 Vestibular – 23/12/10)

Passada a euforia de ver os nomes nas listas de aprovados para as segundas fases dos vestibulares das principais universidades do país, é hora de retormar os estudos. Diferente da primeira etapa, onde o conteúdo do ensino médio é cobrado de forma mais abrangente, nesta reta final a dica é focar naquilo que, tradicionalmente, as bancas costumam cobrar mais. Até porque, nesta etapa, qualquer deslize tira o candidato do páreo rumo à uma vaga na universidade. A recomendação dos especialistas, que tem o aval dos estudantes, é avaliar as provas aplicadas nos últimos cinco vestibulares, geralmente disponíveis nos sites oficiais das instituições, resolver os exercícios e ler as resoluções comentadas. Também há tempo para rever dúvidas e retomar conteúdos onde o aluno tem mais dificuldade. “É a hora de conhecer o estilo da provas, entender o que a banca quer do candidato. As bancas seguem um padrão e cada universidade tem preferência por um assunto. Às vezes, o modelo de prova muda, mas a banca pede as mesmas questões pois a instituição quer o mesmo perfil de aluno”, diz Artur Ramos, de 19 anos, selecionado para a segunda fase do vestibular para o curso de medicina da Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É a terceira vez que Ramos tenta uma vaga em medicina. Assim como neste ano, em 2009 chegou a ser aprovado na primeira fase da USP e da Unicamp. “Não passei por poucos pontos e acho que o que faltou para mim foi avaliar as provas dos anos anteriores”, afirma o estudante. Luísa Sousa Dinis, de 18 anos, aprovada na primeira fase para o curso de engenharia da USP, também pretende continuar os estudos com base nos exames aplicados nos últimos anos. “Vou estudar mais ainda porque a segunda fase é mais difícil”, afirma Luísa, que vai viajar com a família para o litoral, mas pretende retornar para casa no dia 1º de janeiro. A estudante pretender focar os estudos nos exercícios mais difíceis.



PASQUALE CIPRO NETO

“Não vou narrar, não vou narrar…” (Folha de S.Paulo – Cotidiano – 23/12/10)

“JÁ NARREI!” Na semana passada, depois da derrota do Internacional de Porto Alegre para o Mazembe, alguns sites colocaram à disposição do público um áudio um tanto curioso. Na chamada para esse áudio, informava-se algo como “Locutor de emissora gaúcha se nega a narrar o segundo gol do Mazembe”. Em seguida, vinha o convite (“Ouça”). Aceitei o convite, abri o áudio e constatei que tanto para o narrador quanto para os redatores dos sites “narrar” significa soltar o grito de “goooooooooooooooooooooooool”. Explico. O narrador da emissora gaúcha relatou com precisão o que ocorreu. Não vou transcrever exatamente o que ele disse, mas foi mais ou menos isto: “O goleiro lançou a bola para o atacante Fulano, que cortou para dentro, evitou dois jogadores do Colorado e chutou em diagonal, no canto direito de Renan”. Disse ainda o locutor que, “em respeito à torcida do Inter, não vou narrar o gol”. Pois se o que ele fez não é uma narração não sei mais (ou nunca soube) o que vem a ser isso. Vejamos o que diz o “Houaiss” a respeito de “narrar”: “Expor, contar (fato real ou imaginário) por meio de escrita ou oralmente, ou por imagens”. Foi o que fez (com precisão) o narrador gaúcho, não? Aliás, não custa notar que acabo de me referir a ele como “narrador”, justamente porque o que ele faz é narrar… Não é raro a garotada que faz vestibular confundir-se com a nomenclatura relativa aos tipos de texto que podem ser exigidos na redação. Em seus primeiros anos, a Fuvest pediu aos candidatos que escrevessem uma narração, com base em temas muitas vezes dados por imagens e fragmentos de textos. A prática logo foi abandonada, e a entidade passou a exigir que os candidatos fizessem uma dissertação, ou seja, a defesa de um ponto de vista a respeito de um tema de natureza filosófica, ideológica, política, ética etc. Durante muito tempo, a Unicamp permitiu ao candidato que optasse entre três propostas (uma narração, uma carta dissertativa e uma dissertação propriamente dita). Neste ano, o trabalho dos alunos triplicou, visto que são dados três temas, e os três devem ser desenvolvidos. O fato é que a maioria dos vestibulares pede mesmo uma dissertação, “em prosa”… Ai, ai, ai… Por incrível que pareça, essa expressão ainda derruba muita gente. Caro vestibulando, se a instituição em que você se inscreveu usar essa expressão na prova, vá em frente e faça o que você sempre fez nas suas dissertações, ou seja, escreva um texto “corrido”, sem versos, sem métrica, sem rimas… Entendeu? O recado é simples: não faça versos. Alguém pode perguntar se não me esqueci da descrição. Embora os dicionários muitas vezes deem “descrever” e “narrar” como sinônimos, esses termos são usados diferentemente quando se fala dos gêneros textuais na escola, nos vestibulares etc. A descrição consiste na exposição dos detalhes, das características. Quando se trata das personagens, por exemplo, as características são físicas e psicológicas. Um dos grandes equívocos que ainda se fazem é separar radicalmente um gênero do outro (a narração da descrição, por exemplo). Quem lê uma simples página de Clarice Lispector ou de Guimarães Rosa constata de imediato como é importante o casamento descrição/narração para a plena exposição do que se quer relatar. É isso.