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26/07/2017 / Em: Clipping

 

Só 36% dos alunos passam em teste para vagas de cotas raciais de universidade mineira (Hoje em Dia – Horizontes – 26/07/2017)

Seis em cada dez candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas que concorreram a vagas de cotas raciais na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), no Triângulo Mineiro, não se enquadram na categoria. A conclusão é da Diretoria de Processos Seletivos (DPS) da instituição. Das 1.093 pessoas chamadas para uma entrevista de comprovação de etnia, só 396 foram aprovadas – 36%. Os outros estudantes foram reprovados por não comparecerem à etapa ou por declararem, de forma ilegítima, que pertenciam a grupos de minorias sociais, segundo o professor Dennys Garcia Xavier, coordenador da DPS. Após uma série de denúncias de fraudes na lei de cotas, a UFU decidiu investigar, pela primeira vez, quem concorreu ao vestibular destinado a estudantes negros, indígenas e pardos. O caso, que lança alerta para outras universidades, foi mostrado na semana passada pelo Hoje em Dia. “Essas vagas são para pessoas que sofrem ou poderiam sofrer, de fato, preconceito racial. Não basta ser moreno, queimado de sol, ter pais ou avós negros. Não se trata disso. Estamos falando da possibilidade real de sofrer preconceito”, explica Dennys Xavier.

Ociosas

Ao todo, a UFU oferece 507 cotas raciais. Após o resultado das entrevistas, há pelo menos 111 vagas que não serão preenchidas por falta de candidatos. A universidade irá recrutar pessoas que se inscreveram nas demais modalidades de cotas, reservadas para estudantes de escola pública e de baixa renda. As tentativas de burlar a lei não ocorrem somente na UFU. Dados da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Ministério dos Direitos Humanos (Seppir) mostram que, em todo país, cerca de 450 fraudes são denunciadas a cada semestre. No entanto, as trapaças só são investigadas após a entrada dos estudantes nas universidades.

Ambos os casos

O diretor acredita que parte dos candidatos não age de má-fé, mas desconhece o público-alvo beneficiado pela legislação. “A lei (de cotas) pretende fazer uma reparação histórica aos grupos marginalizados socialmente. Muitos estudantes têm uma leitura errônea da autoidentificação”, diz. Ao mesmo tempo, Dennys lembra que há, sim, pessoas que deliberadamente fraudaram o sistema e reforça que a instituição fica satisfeita em barrar esses alunos. “Imagine quantos brancos estariam ocupando uma vaga na universidade de maneira ilegítima se não tivéssemos checado. Não queremos essas pessoas dentro do ambiente acadêmico. Se eles fraudam as cotas, o que não fariam para conquistar seus objetivos?”, questiona.

Mudanças na seleção

Para tornar o processo seletivo mais claro e evidenciar quem tem direito a concorrer às vagas para pretos, pardos e indígenas, o edital do processo seletivo da UFU passará por mudanças. O documento dirá que a avaliação fenotípica não leva em conta critérios subjetivos e ancestralidade, mas se o estudante apresenta características que efetivamente podem torná-lo vítima de preconceito racial. A universidade ainda produzirá vídeos institucionais explicando quem faz parte da categoria e fará palestras em escolas das periferias de Uberlândia. A intenção é abrir o diálogo com pessoas que podem entrar por cotas e que, muitas vezes, não chegam ao ensino superior. “Queremos que o aluno negro de periferia, que jamais pensava em ingressar na universidade, acredite nessa possibilidade, ocupe o lugar que é dele. Há vagas sobrando”, diz Dennys.

 


Enem ou vestibular? Defina o primeiro passo no planejamento da carreira (G1 – Educação – 25/07/2017)

Algumas instituições como a Unifesp usam um sistema misto de seleção que usa o Enem, além de vestibular próprio.

Entrar na faculdade exige, necessariamente, passar por uma prova. Pode tanto ser o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou um vestibular próprio. Hoje, as universidades públicas mais importantes do Brasil já substituíram o vestibular tradicional pelo Enem, mas há ainda quem mantenha a sua própria prova, como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Sistema misto de seleção

Há também instituições, como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que mesclam os dois métodos para selecionar seus candidatos. Para disputar vagas em alguns cursos da Unifesp, como medicina, por exemplo, é necessário fazer o Enem, que funciona como uma primeira fase da seleção, e uma outra prova aplicada pela universidade. Definido o curso e a instituição, é fundamental entender como funciona seu processo seletivo, pois cada um tem sua particularidade. Ao conhecê-las, você aumenta a chance de sucesso. O vestibular da Unicamp, por exemplo, cobra mais de uma redação de gênero diferente, e nem sempre é a tradicional dissertação. No ano passado, os vestibulandos tiveram de escrever uma carta argumentativa para um órgão de imprensa sobre imigração no Brasil, e um artigo sobre uma campanha publicitária para arrecadar fundos para um biblioteca.

O ENEM

O Enem é um exame que foi reformulado a partir de 2009, e cada vez mais tem cobrado conteúdo se assemelhando a um vestibular tradicional. Para se dar bem é necessário dominar conceitos, fórmulas, atualidades e teorias do ensino médio. E ter fôlego! O Enem é aplicado em dois dias, possui 180 questões divididas em quatro áreas do conhecimento (ciências da natureza, ciências humanas, linguagens e matemática), e uma redação.

Neste ano, pela primeira vez ocorre em dois domingos – 5 e 12 de novembro, e não mais em um mesmo fim de semana. A mudança promete dar um refresco aos vestibulandos que têm no fim do ano uma maratona pesada de provas. Entre os meses de outubro e novembro costumam ser aplicados os exames das principais universidades de São Paulo, como da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Unicamp.

O SISU

Depois de fazer o Enem, é necessário esperar abrirem as inscrições do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que ocorrem em dois períodos do ano: em janeiro e em julho. O Sisu é o sistema que seleciona os candidatos às vagas nas instituições públicas, de acordo com o desempenho no Enem. O sistema foi lançado em 2010 e ocorre em duas edições por ano. Ao longo de sua criação, já ofereceu 1.541.406 vagas em universidades públicas de todo o país. Para se inscrever no Sisu, o estudante não pode ter zerado na redação. É possível se inscrever em até duas opções de curso. O sistema calcula uma nota de corte, a partir do desempenho dos candidatos, e gera listas parciais de classificação que mudam até o último dia de inscrição. Por isso, o candidato consegue saber quais as chances de ele ser aprovado. Se ele não tiver pontuação suficiente, tem liberdade para migrar para outro curso durante todo o período de inscrição. As instituições têm autonomia para definir diferentes pesos para as provas de cada área do conhecimento do Enem, por isso o as classificações de um mesmo candidato podem mudar de acordo com a vaga. Por exemplo: uma instituição pode exigir uma nota mais alta na prova de ciências da natureza. Então, o aluno que tem essa nota pode ser classificado para esta vaga, e não ter pontuação suficiente para outra, em que exige, por exemplo, melhor desempenho em linguagens.

 


Diretor é demitido após aumentar rigor na seleção por cotas em universidade federal (Gazeta do Povo – Educação – 25/07/2017)

Dennys Xavier incluiu exigência de entrevista além da autodeclaração; ele diz que reitor alegou “pressão”

Depois de o novo processo de seleção por cotas raciais rejeitar quase 70% dos candidatos inicialmente selecionados, a UFU (Universidade Federal de Uberlândia) exonerou o responsável pelo processo de admissão, Dennys Xavier. Ele ocupava o cargo de diretor de processos seletivos desde o início do ano. A demissão se deu nesta terça-feira, logo após o anúncio do resultado do vestibular. Oficialmente, a reitoria da UFU alega apenas que a mudança se deu devido a um “arranjo institucional”. Dennys, entretanto, acredita que o novo sistema de ingresso por cotas – que exige uma entrevista presencial para coibir fraudes – pode ter relação com a mudança. “A alegação do reitor foi que havia uma pressão da equipe mais próxima a ele contra mim. Não me foi dada nenhuma outra explicação”, disse à Gazeta do Povo. Após a adoção do novo sistema, quase 70% dos primeiros candidatos selecionados por cotas raciais acabaram eliminados. Mesmo após uma segunda rodada de entrevistas com novos candidatos, sobraram 110 vagas das quase 500 reservadas a alunos das categorias preto, pardo e indígena. Dennys diz ter apoio do movimento negro e afirma que o método anterior – que exigia apenas a autodeclaração – é “falido”. “O sistema anterior é completamente quebrado. Ele não funciona e só promove injustiça. Se você não fizer um processo criterioso de verificação das autodeclarações antes do ingresso do aluno na universidade, a lei de cotas não serve para nada”, afirma. Recentemente, por causa das denúncias de fraude, outras universidades têm adotado a entrevista presencial como parte do processo de admissão por cotas.